CRÍTICA – Aniquilação (2018, Alex Garland)

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Aniquilação é a nova produção adquirida pela Netflix no gênero de ficção. Baseado no primeiro livro da trilogia Comando do Sul, escrito por Jeff VanderMeer, Aniquilação é dirigido por Alex Garland (Ex Machina: Instinto Artificial) e roteirizado por Alex e pelo próprio Jeff. A produção conta a história de Lena (Natalie Portman), uma bióloga, professora e ex-militar que acredita que seu marido Kane (Oscar Isaac) foi morto em sua última missão pelo exército.

Após 12 meses desaparecido, Kane retorna, mas não aparenta ser a mesma pessoa. Extremamente doente, ele é levado a uma base militar junto com Lena. É nesse local que a personagem principal descobre sobre a missão secreta de seu marido: Há um brilho engolindo uma região de pântanos na então denominada Área X. O brilho lembra uma grande película que, gradativamente, consome tudo que há no seu caminho.

O primeiro indício da atividade extraterrestre surgiu em um farol após a queda do que parece ser um meteoro. Desde então, todas as equipes que entraram no perímetro nunca retornaram, exceto Kane. Além de (quase) nada retornar, drones, satélites e aparelhos de comunicação não funcionam dentro do Brilho. Procurando respostas que possam salvar a vida de Kane, Lena se voluntaria a entrar na bolha junto com outras quatro mulheres: Dra. Ventress (recrutadora da equipe, interpretada por Jennifer Jason Leigh), Anya (Gina Rodriguez), Josie (Tessa Thompson) e Cass (Tuva Novotny).  Essa é a primeira equipe composta apenas por mulheres cientistas a se voluntariar para a missão. Mas quem teria motivos suficientes para fazer parte de uma missão potencialmente suicida?

Atenção: Grandes spoilers de Aniquilação abaixo!

A resposta está na frase de Ventress para Lena durante um dos melhores diálogos do filme:

“Quase ninguém é suicida. Algumas pessoas são simplesmente autodestrutivas”.

Todas as pessoas que aceitaram adentrar a Área X possuem, em si, algo que as partiram/modificaram. Algumas destas situações são consequências de escolhas próprias, enquanto outras são simplesmente impostas. O mistério da missão é o que move suas existências, pois para essas pessoas não há mais nada a perder. Apesar de Lena ter um motivo para voltar para casa, ela não escapa das ações autodestrutivas, principalmente no âmbito matrimonial.

É por meio deste contexto que Garland apresenta, em flashbacks, o relacionamento de Kane e Lena. Se, para quem assiste, o casal parece extremamente apaixonado – Lena permanece de luto durante os 12 meses em que Kane desaparece -, é com elementos da trilha sonora e de cenas chaves que percebemos o que realmente os mantém unidos. Antes da revelação implícita, discussões sobre crenças e destinos pautam a união dos personagens principais, tão diferentes em suas escolhas de vida. O conceito de autodestruição está implícito no laço de ambos: Kane prefere ir para uma missão suicida a encarar seus problemas. Lena precisa passar pelos mesmos desafios para aliviar a sua consciência.

A dificuldade de explorar o espaço coberto pelo Brilho é rapidamente descoberta pelo grupo. Assim que analisam as primeiras plantas e animais do lugar, Josie descobre que o Brilho, na realidade, refrata o DNA de tudo o que ele encosta, modificando e criando algo novo. De um mesmo caule surgem inúmeras plantas diferentes, e algumas delas replicam, inclusive, a anatomia humana. Na primeira locação que resolvem acampar, o grupo encontra um cartão de memória deixado pela equipe anterior, onde suas teorias são facilmente confirmadas: homens que aparentam ter perdido o juízo analisam as entranhas de um de seus companheiros – entranhas que possuem vida própria.
Quanto mais próximo do farol, mais forte o efeito que a anomalia provoca nos seres vivos. É nesse local que Lena encontra, enfim, o motivo do Brilho existir e estar se espalhando por aquela região. A criatura, que simula os movimentos e as feições de Lena, imita também seus sentimentos e emoções. Nesse momento, novamente Garland retoma o tema da autodestruição. Trabalhando com metáforas, o diretor mostra a criatura destruindo seu próprio lar, o lugar que o mantém vivo, assim como Lena fez com sua casa e seu relacionamento.

Apesar de a “cópia” não ter sincronizado totalmente sua existência com a de Lena, seu comportamento é pautado pela base da raça humana: nós destruímos tudo aquilo que tocamos. Tudo o que é diferente, ou que nos oferece algum tipo de medo/desconfiança, nós atacamos. Tudo o que pode ser sugado, nós fazemos – mesmo que cause o total extermínio.

Lena diz não achar que o extraterrestre quisesse destruir a humanidade, mas sim modificá-la. Essa modificação acontece também com ela e seu DNA. Uma tatuagem de um Ouroboro em formato de universo surge em seu braço ao longo dessa expedição: Uma serpente que engole o próprio rabo infinitas vezes, representando a morte e a ressurreição. Apesar de não ter morrido em missão, Lena não é mais a mesma pessoa. Ela foi modificada, assim como Kane, e ressurgiu. Quais serão as consequências dessa ressurreição?

Com um roteiro bem construído e grande potencial de gerar inúmeras teorias a respeito de seu significado, Aniquilação deixa abertura para uma continuação. Nenhuma cena é desperdiçada e sua narrativa consegue trabalhar bem o fator do tempo em uma “outra dimensão”. Entregando um filme que, muitas vezes, mescla o terror com a fantasia, com isso, Aniquilação traz algo novo para o segmento de sci-fi, unindo-se em qualidade ao ótimo A Chegada – apesar de não possuir efeitos e fotografia tão primorosos quanto o filme de Villeneuve.

Um ótimo filme que merece ser visto.

Avaliação: Ótimo

Assista ao trailer:

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