TBT #122 | A Primeira Noite de um Homem (1967, Mike Nichols)

    Após a Era de Ouro do cinema hollywoodiano, entre os anos 1920 e 1960, a indústria cinematográfica norte-americana enfrentou uma dura crise de consumo. Em 1969 as companhias de Hollywood perdiam mais de US$ 200 milhões por ano.

    Como estratégia para reagir a essa crise, os produtores passaram a produzir filmes direcionados ao público jovem, seguindo tendências da contracultura. Uma dessas obras foi A Primeira Noite de um Homem.

    Embalados pelo movimento, o roteiro autoral focou em personagens mais reais, perdidos e com falhas. Também inovou a estética presente nos filmes de estúdio.

    SINOPSE

    Benjamin Bradock, (Dustin Hoffman) é um bom filho e um bom aluno, acabou de terminar os estudos da faculdade, fazendo a alegria de seus pais. Porém, ele está confuso com o seu futuro. Coisas que todo jovem enfrenta depois de ter terminado os estudos.

    A falta de perspectiva ou o avanço de seu futuro é dificultado pela presença sedutora da Sra. Robinson (Anne Bancroft), uma mulher mais velha amiga de seus pais. A relação se complica ainda mais quando o rapaz se apaixona pela filha dela, Elaine (Katharine Ross). A partir daí o enredo se firma como uma abundante mescla de paixão, ódio, amor e mentiras.

    ANÁLISE

    O mais singular do filme é que toda a comédia é costurada em cima de uma abordagem diferenciada do humor. Onde o normal seria criar risos no público através de diálogos cômicos (o que o filme não deixa de fazer), o roteiro joga com situações desconfortáveis elaboradas no silêncio, e faz do constrangimento juvenil do protagonista o maior aspecto de diversão do espectador.

    Esse tipo de humor funciona sem erros, deixando a plateia cada vez mais ansiosa para ver como vai se resolver a vida amorosa de Benjamin, que com ajuda da poderosa atuação do até então iniciante (embora não pareça) Hoffman, se torna um personagem carregado de inseguranças e ambições.

    Cheio de sutilezas e camadas, trata de uma falta de perspectiva, uma projeção de futuro confusa e difusa. Acredito que tenha sido o sentimento predominante daquela época, representada por simbolismos muito acertados:

    • O personagem de Dustin Hoffman como que no modo automático (abertura no aeroporto, se locomovendo em uma esteira automática)…
    • … prosseguindo com um senso de opressão (closes através de um aquário ou ao usar um escafandro sob os olhares aprovativos dos pais)…
    • … ou estagnado no tempo (passando dias sobre uma boia na piscina).

    Em nenhuma dessas ocasiões Hoffman parece ter livre arbítrio (não consegue ao menos poder escolher ser servido com Bourbon). E mesmo o desfecho dúbio ao final não seria indicativo necessariamente de um final promissor: tudo segue em aberto, para onde o ônibus levar os personagens.

    A Primeira Noite de um Homem é um filme que retrata a geração dos anos 1960, a contracultura, o estilo da juventude e os valores da época

    Os planos e movimentos de câmera são detalhadamente planejados. Daqueles que fizeram o diretor perder noites e repetir algumas vezes a mesma cena. É possível reconhecer uma certa áurea de responsabilidade, fidelidade e, sobretudo, de respeito do autor com sua obra. É como um pai ou uma mãe que arruma a sua filha para ir ao seu primeiro dia de aula, e o faz da forma mais cuidadosa possível, sendo perfeccionista do cadarço à última trança do cabelo.

    A Primeira Noite de um Homem é considerado um dos filmes mais atemporais da história do cinema. Isso porque a história fala sobre algo que sempre será uma pauta na nossa vida, o famoso “e agora, o que eu faço?”.

    A cena final diz tudo que o filme queria dizer: não existem atalhos para a felicidade, as respostas que você procura não vão vir assim tão simples. Todos procuramos um sentido para a nossa vida e, às vezes, conseguimos encontrar um objetivo, mas esses duram muito pouco, pois a vida está em constante movimento e a sociedade pede que você esteja também. Daí vem as decisões precipitadas.

    VEREDITO

    A Primeira Noite de um Homem é um filme que relata a geração dos anos 1960, os valores da mesma, da contracultura, do estilo da juventude da época. O toque do filme é melancólico e reflexivo, tanto pelas câmeras, o posicionamento dos personagens, quanto pela trilha sonora emblemática de Simon e Garfunkel, que utilizam de grandes músicas que conversam com as cenas e com o sentimento do personagem.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Você pode assistir ao filme na MUBI.

    Assista ao trailer:

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