TBT #128 | O Bebê de Rosemary (1968, Roman Polanski)

    Numa época que o cinema de terror era visto como um gênero menor, ou marginalizado por boa parte da crítica especializada, Roman Polanski decide adaptar o livro de Ira Levin, O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby).

    Para dar mais respaldo a produção, Polanski trouxe Mia Farrow e John Cassavetes. O filme inclusive acabou com o casamento de Mia com o lendário Frank Sinatra, após a atriz recusar a participação em um filme do marido para filmar com Roman Polanski. A decisão profissional foi acertada visto que o longa de terror impulsionou a carreira da atriz e rendeu elogios.

    O filme que está disponível no Telecine já tem mais de 50 anos de história e se consolidou como um clássico do terror que não perdeu suas virtudes.

    SINOPSE

    Nada tão cotidiano quanto um casal jovem que se muda para um apartamento em Nova Iorque e decide ter um filho, entre vizinhos estranhos e solícitos demais e um marido capaz de tudo para triunfar como ator. A história começa quando Rosemary (Mia Farrow), depois de um pesadelo, fica grávida e passa a suspeitar de que uma terrível ameaça paira sobre ela e o bebê que espera.

    ANÁLISE 

    Polanski (que também escreveu o roteiro, seguindo de perto o romance de Levin) está interessado em criar uma sensação arrepiante de mal-estar fazendo tudo parecer plausível. Quase todos os incidentes sobrenaturais na trama podem ser interpretados como um sonho que a protagonista está tendo, exacerbado por suas preocupações comuns: Um marido insensível que está sempre se esquivando por motivos suspeitos, sobre vizinhos intrusivos que não têm vergonha de compartilhar suas opiniões e sobre médicos com todos os tipos de conselhos estranhos e não confirmados sobre dieta e saúde para mulheres grávidas.

    Também é importante que tudo isso esteja acontecendo em Nova Iorque, uma cidade já cheia de personagens excêntricos e prédios antigos com suas próprias histórias distorcidas. E também interessante que esteja ocorrendo em meados dos anos 60, quando Farrow fica entre uma geração de donas de casa que se espera que sejam submissas e uma geração de feministas. Uma metáfora contundente para os horrores do patriarcado na América.

    Vale reforçar que este foi o primeiro projeto de Mia Farrow como protagonista e é fascinante acompanhar a transformação física e psicológica dela em cena, em como ela torna tudo ainda mais convincente. Sua feição de espanto ao final é simplesmente memorável, se consolidando como uma das cenas mais marcantes na história do cinema.

    Apesar da atuação triunfal, curiosamente, quem saiu vencedora do Oscar no mesmo ano foi a coadjuvante Ruth Gordon, que está ótima, mas nada que justifique tal prêmio. Já John Cassavetes surge carismático e cumpre bem o papel.

    Há cada nova cena somos apresentados a uma nova pista que nos faz duvidar junto com ela. O medo da obra vem justamente desta incerteza, desta possibilidade de existir ou não um ritual macabro e de que os pesadelos que surgem na mente da protagonista podem não ser apenas alucinações. Os dois lados são possíveis e é brilhante como o filme consegue manter este suspense boa parte da trama. Sentimos a tensão porque não sabemos o que há do lado de fora daquele apartamento, porque não sabemos o que de ruim pode acontecer com aquela mulher ou com seu filho.

    O sobrenatural também jamais habita o apartamento dos Woodhouse, permanecendo apenas no universo onírico, utilizado com agradável parcimônia pela história. Nem por isso, o filme se transforma em um marasmo. Roman Polanski sabe como introduzir a paranoia com seu ritmo cadenciado, fotografia escurecida de William Fraker e trilha sonora ora delicada ora intensa de Christopher Komeda. O ambiente, enfim, é propício ao susto, mas as situações só tornam-se mais tensas no terço final do longa.

    VEREDITO

    Extremamente bem conduzido, de forma a gerar pensamentos ambíguos em cada espectador, O Bebê de Rosemary revela-se um excelente filme de terror que não utiliza cenas violentas como forma de assustar o espectador.

    Polanski cria uma situação aterrorizante, capaz de causar pânico sem a necessidade de utilizar recursos artificiais como a trilha sonora para isto. É a situação em que os personagens estão envolvidos que causa temor, o que é muito mais interessante.

    A dúvida gerada em torno dos pensamentos e visões de Rosemary e a ambiguidade de sua atitude final elevam ainda mais a qualidade da obra.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

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