TBT #140 | Lawrence da Arábia (1962, David Lean)

    Meio século após sua estreia, Lawrence da Arábia é um clássico consagrado e uma obra que muitos consideram insuperável, não só por sua qualidade artística, mas também pelo caráter faraônico de um filme de quase quatro horas cujo custo a preços atuais quebraria muitos estúdios.

    A produção, dirigida por David Lean e protagonizada por Peter O’Toole e Omar Sharif, estreou entre os dias 10 e 21 de dezembro de 1962 em Londres, Nova Iorque e Los Angeles e no Oscar do ano seguinte, conseguiu sete prêmios, entre eles o de Melhor Filme e Melhor Diretor.

    SINOPSE 

    Em 1916, em plena I Guerra Mundial, o jovem tenente do exército britânico estacionado no Cairo pede transferência para a península arábica, onde vem a ser oficial de ligação entre os rebeldes árabes e o exército britânico, aliados contra os turcos, que desejavam anexar ao seu Império Otomano a península arábica. Lawrence, admirador confesso do deserto e do estilo de vida beduíno, oferece-se para ajudar os árabes a se libertarem dos turcos.

    ANÁLISE 

    Lawrence da Arábia

    Lawrence da Arábia se baseou no relato autobiográfico de Lawrence, Os sete pilares da sabedoria, na qual esse arqueólogo, militar e literato nascido em Gales em 1888 descreveu suas andanças no norte da África e no Oriente Médio. Após o início da conflagração em 1914, o autor deixou de trabalhar para a inteligência britânica no Cairo para ser assessor do príncipe Faiçal, filho do xerife de Meca, Hussein ibn Ali, e liderou uma guerra que foi decisiva no desmantelamento do império turco.

    Os acampamentos e os combates foram recriados na imensidade de paisagens naturais, desérticas e poeirentas, localizadas em países como Espanha, Marrocos e Jordânia, uma odisseia provocada pelo tipo de produção e pela limitação de recursos tecnológicos dos anos 60, que na atualidade representaria um disparate. Lean também rodou o filme em 65 milímetros, quase o dobro da largura do formato cinematográfico tradicional de 35 milímetros.

    Assim como o filme foge facilmente dos clichês das grandes produções que abordam a guerra – pois concentra-se mais nos conflitos e transformações psicológicas dos personagens do que em cenas de luta ou batalhas típicas para satisfazer o público adolescente, o personagem de Lawrence afasta-se do estereótipo do herói trivial do cinema, razão pela qual os realizadores do filme optaram por um ator não conhecido. O papel acabou ficando a cargo do inglês Peter O’Toole, em uma atuação que já foi mencionada com a maior da História do cinema pela Premiere Magazine.

    Foi bastante corajosa a escalação de O’Toole para protagonizar uma produção de orçamento tão alto. Ainda mais levando-se em conta de que este era um filme muito arriscado, por estar rigorosamente alheio a toda receita de sucesso garantido: longuíssima duração (quase quatro horas), orçamento elevadíssimo, nenhum ator conhecido, nenhum romance, casal ou história de amor, nenhum personagem feminino. Com raras exceções, praticamente todos os planos externos em locações no deserto da antiga Jordânia, alguns em regiões totalmente desabitadas e sem contato com o homem desde o séc. XVII, onde no filme só são avistados camelos e homens em conflitos. Ainda assim, o que faz desse filme tão especial?

    Lawrence da Arábia

    Steven Spielberg explica nos extras do DVD que, em sua opinião, só pra começar, Lawrence da Arábia tem o melhor roteiro já escrito para o cinema. De fato, é muito brilhante o modo como é desenvolvido o personagem de Lawrence, desde o início do filme. Sutilmente pequenos diálogos e ações vão dando as pistas de sua personalidade atípica e fantasiosa, um homem disposto a todo o momento a transgredir a sua condição humana e transformar-se no mais perto do que se pode imaginar ser um messias. Visualmente, segundo Spielberg, é o maior milagre que já se pôde ver em uma tela da sétima arte.

    VEREDITO

    Lawrence, interpretado por Peter O’Toole possui uma atuação marcante e definidora da carreira dele, é um dos personagens mais fascinantes e complexos da história do cinema. A narrativa do conquistador de tudo e nada é a superação completa de todos os sentidos do cinema naquela época e até mesmo hoje. Nada que foi inserido nesse texto é capaz de transmitir em totalidade a maestria dessa obra-prima. Imenso e grandioso como o deserto.

    Nossa nota
    5,0 / 5,0

    Confira o trailer do filme:

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