CRÍTICA – Humankind (2021, Amplitude Studios)

    Começo esta crítica de Humankind informando que a demora em produzi-la se deveu muito ao fato de eu sempre achar que faltava algo a mais para experimentar no jogo para poder dar meu veredito. Apesar de eu conhecer outros jogos semelhantes, como os jogos das séries Civilization e Total War, nunca tinha me aprofundado o suficiente em um 4X de estratégia baseado em turnos.

    A propósito, caso você não seja familiarizado, 4X é um gênero de jogos que tem seu nome por focar em 4 elementos: eXploração, eXpansão, eXtração e eXtermínio. Jogos deste gênero se diferenciam de jogos de estratégia em tempo real (RTS) justamente por ter um apelo muito mais à gestão do império como um todo.

    Este jogo foi desenvolvido pela AMPLITUDE Studios, em parceria com a SEGA. Teve seu lançamento em 17 de agosto de 2021 para PC, Mac e Google Stadia.

    SINOPSE

    HUMANKIND™ é um jogo histórico de estratégia baseado em turnos no qual você estará reescrevendo inteiramente a narrativa da humanidade – uma convergência de cultura, história e valores que permite a você criar uma civilização tão única como você. Quão longe você conseguir conduzir a humanidade?

    EXPLORAR

    O princípio básico de todo o 4X, especialmente no início do jogo, é a exploração. No sentido mais geográfico do termo. Explorar o território em Humankind é não só uma necessidade como um prazer.

    Os gráficos do jogo foram muito bem pensados e executados, fazendo com que cada novo hexágono descoberto seja uma experiência agradável ao jogador. Falei hexágono porque o mapa do jogo é um grande tabuleiro dividido em campos hexagonais que proporcionam uma melhor organização do jogo em turnos.

    Tanto na qualidade alta quanto na mais baixa de imagens, o jogo entrega ótimos visuais, permitindo tanto uma bela visão geral do território com um zoom out, quanto uma visão específica de distritos, cidades e tropas, com animações específicas e muito bonita com um zoom in.

    A exploração é ainda recompensada de outras formas, já que existem elementos espalhados pelo mapa, chamados Descobertas (ou Curiosidades, a depender da Era). Estes podem trazer benefícios específicos, como alimento ou pontos de ciência. Além deles, existem as Maravilhas da Natureza. Estas são, como o nome já indica, maravilhas naturais distribuídas pelos mapas, as quais concedem bônus quando encontradas pela primeira vez e também quando um posto avançado ou cidade é construído na sua região.

    EXPANDIR

    Humankind

    Como já comentado, o mapa do jogo é dividido em hexágonos. Outra divisão também é por regiões. O jogo vai permitindo que o seu império expanda à medida que você constrói postos avançados em novas regiões (adjacentes ou não à sua). Desta forma, é possível não apenas ter domínio territorial como também exercer influência sobre o que ali se encontra.

    Influência, inclusive, é um dos principais pontos do jogo. Ela como moeda, pode ser um dos principais fatores para se dominar uma nova região ou conquistar uma civilização independente que esteja em declínio. Como medidor, a influência é também o fator que determina o ranking de poder do jogo.

    Com os pontos de influência, é possível construir postos avançados, adquirir novos distritos ou unidades, anexar postos à cidades e até mesmo combinar cidades, barganhar em relações políticas com outros povos (o que pode ser feito com dinheiro também). Enfim, a principal métrica e moeda do jogo é a Influência.

    Além dela, outras métricas fundamentais para o desenvolvimento são ciência, dinheiro e alimento. As formas como estes são empregados e adquiridos são várias. Assim também, forma de gestão política e econômica escolhidas influenciam na geração e gasto destes recursos, bem como na criação e efetivação de unidades e construções.

    Além da política e da possibilidade de barganhar através de ouro, outro fator muito importante no jogo é a religião. Sua religião pode se tornar um fator político forte também, além de, caso muito contrária, gerar inimizades naturais contra outras civilizações.

    EXTRAIR

    Como recém mencionado, Humankind possui três recursos básicos além da influência: alimento, ciência e dinheiro. Nos primeiros turnos de jogo, a principal fonte de obtenção destes recursos é através da exploração do território através das Descobertas. No entanto, a medida que avançamos com nossa cidade principal, percebemos que a construção de distritos como fazenda e indústria podem nos trazer benefícios.

    Desta forma, é importante identificar a melhor região para erguer uma cidade, para que cada tipo de território que a cerque favoreça o cultivo e o desenvolvimento. A complexidade com que cada hexágono pode influenciar no progresso da sua civilização é um dos pontos mais interessantes e que podem fazer a diferença no seu jogo. Mas devido à dificuldade na compreensão, talvez quando o jogador entender, já pode ser tarde demais.

    Além da extração de alimentos, existem também recursos de luxo e especiarias distribuídas pelo mapa que podem te dar uma vantagem tanto comercial quanto de poder. Campos com cavalos podem ser úteis tanto na produção agrícola quanto no desenvolvimento bélico. Especiarias podem ser fundamentais para estabelecer rotas comerciais e, dependendo, uma certa dependência de outras civilizações, caso o jogador seja o único detentor. A forma como cada recurso influencia no jogo em níveis mais macro é incrível.

    EXTERMINAR

    HumankindApesar de tantos outros fatores importantes, o combate – apesar de não ser o principal – tem grande impacto no desenvolvimento do jogo. Caso soframos ataques de civilizações que não estejam em guerra conosco, podemos cobrar uma indenização pelos danos sofridos, ou até mesmo punir com o corte de alguma rota comercial.

    A dominação pode se dar tanto de maneira bélica quanto através de influência e política. A dependência de uma civilização pode também ser sua ruína. As formas de conquistar e dominar em Humankind são várias.

    O combate tem um design interessante. Ele é rodado apenas na região onde houve o encontro de tropas, e pode ter até 3 rodadas dentro de um mesmo turno. Caso o mesmo não finde nestas 3 rodadas, prosseguirá apenas no próximo turno. As animações e a influência do ambiente nos combates também é bastante interessante e agrega muito ao jogo, já que a estratégia pode virar o jogo a favor de uma tropa vulnerável que se posiciona em terreno elevado ou se defende dentro de uma floresta.

    Algumas decisões políticas quando em conflito com outras civilizações me deixaram um pouco frustrado por causa da limitação de possibilidades. Mas isto pode se dever à minha pouca experiência no jogo e ao pouco tempo de jogo também. Em breve comento mais sobre isto.

    VEREDITO

    Pode parecer contraditório eu dizer que pude explorar tão pouco de um jogo, ao mesmo tempo que escrevo um texto já extenso sobre o mesmo. Mas a verdade é que Humankind é sobre isto. Uma experiência vasta e complexa, com muitas possibilidades e que garante novas descobertas até para jogadores mais experimentados.

    Enorme é a relevância também da tradução quase que completa do jogo para o português, tanto nos menus quanto nas legendas. Isto permite que apesar da quantidade de elementos, jogadores brasileiros tenham acesso completo às informações, sem penalidades, podendo aproveitar mais do game.

    De maneira muito rasa, mas não mentirosa, podemos dizer que o jogo se apoia sobre seus 3 principais modos de interação, através dos painéis de Tecnologia, Sociedade e Religião. Mas quando nos permitimos aprofundar em cada um deles, por vezes, sentimos como se houvessem vários jogos diferentes acontecendo paralelamente em Humankind.

    A dificuldade de Humankind não se deve à uma rebuscada Inteligência Artificial, mas especificamente à sua complexidade (e esta é a última vez que usarei este termo no texto. Prometo!). A vasta quantidade de recursos, possibilidades de expansão de sua civilização (podendo escolher qual cultura dominará em seu império a cada nova era) e as formas de interação com o ambiente e demais players são fundamentais para que eu insista neste termo.

    Um dos pontos mais baixos que identifiquei foi, durante uma guerra, quando estava prestes à subjugar o adversário, o jogo me impôs a ideia de estar forçando uma rendição do inimigo, mas por faltar pontos de conflito, não me permitia a anexação da sua capital, nem o domínio de sua civilização. Ou seja, mesmo sem ser de minha vontade, não pude prolongar o conflito para poder assim ter total domínio daquele rival. Foi um dos pontos mais frustrantes, certamente.

    Ainda que existam algumas travas ou que o jogo exija bastante do computador (às vezes se tornam bem chatos, exigindo reiniciar o jogo e podendo perder algum progresso), Humankind brilha. E brilha não só por sua beleza, mas pelo que nos possibilita. A amplitude que a desenvolvedora consegue dar no peso de cada uma das ações em um jogo por turnos é algo que destaca Humankind como um dos jogos mais interessantes que tive a oportunidade de jogar neste ano.

    Nossa nota

    Confira o trailer do game:

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