CRÍTICA – Neon White (2022, Annapurna Interactive)

    Mesmo depois de horas de experiência, ainda não sei ao certo como classificar Neon White. O trabalho do pequeno estúdio Angel Matrix, junto da Annapurna, pode ser chamado de um FPS, speedrunner, um simulador de parkour e também um jogo de plataforma.

    São tantas as características distintas que compõem este game que fica até difícil defini-lo em poucas palavras. E não, isto não é um depoimento de Orkut (peço perdão aos jovens que não entenderem a referência. A verdade é que Neon White tem elementos tão distintos que o fazem único ao seu modo.

    Lançado no dia 16 de junho de 2022 para PC e Nintendo Switch, esta talvez possa ser considerada mais uma obra-prima coproduzida por Ben Esposito, também responsável por títulos como What Remains of Edith Finch (2017) e Donut County (2018).

    SINOPSE

    Neon White é um jogo de ação em primeira pessoa incrivelmente rápido que coloca em suas mãos a tarefa de exterminar demônios infiltrados no Paraíso. Você é White, assassino escolhido a dedo das profundezas do Inferno para competir com outros assassinos de demônios por uma chance de viver permanentemente no Paraíso. Esses assassinos, porém, parecem familiares… teria você os conhecido numa vida passada?

    ANÁLISE DE NEON WHITE

    A dificuldade em determinar a principal classificação de Neon White se dá justamente por o game ser uma concatenação de elementos tão bem orquestrada que o combinado se torna muito mais representativo do que uma característica isolada.

    Falei muito e não falei nada, né? Veja qual não é minha dificuldade. Mas vou tentar optar pela simplicidade. Quem sabe ajude a entender.

    Basicamente, Neon White é um jogo onde temos que completar percursos eliminando demônios. Se conseguirmos completar as eliminações do percurso dentro de um determinado tempo, ganha-se uma medalha para poder acessar novos percursos.

    Ficou mais fácil, né? Agora, some a esta base uma trilha sonora muito empolgante, uma história simples que ganha muito por causa dos seus personagens e gráficos que cativam demais. Já tem uma fórmula pra pelo menos prender sua atenção? Então segue comigo.

    História

    Apesar de ser um jogo bastante focado em suas mecânicas e no desafio de fazer um menor tempo, podendo simplesmente pular o blá blá blá e ir direto para os desafios, a história de Neon White é bastante boa. Não é a maior história de todos os tempos, ok. Mas é muito boa e serve ao seu propósito.

    A história de Neon White é satisfatória e bem humorada, tornando gratificante a experiência de superar os desafios

    Partindo da base padrão de amnésia do protagonista, o Neon White, descobrimos que após a morte ele foi mandado ao inferno e agora está no paraíso, junto de outros Neons (como são chamados os assassinos) para participar de uma competição que dará direito ao vencedor de permanecer no paraíso.

    O grande ganho que temos aqui são os personagens que White vai encontrando pelo caminho. Aparentemente, todos se lembram dele da vida anterior, o que torna tudo mais intrigante. Por que só ele sofreu amnésia? O que é esta competição? A evolução do jogo e estes personagens extremamente cativantes vão ajudar a entender e se divertir.

    Mecânicas

    Como já mencionado, as mecânicas base são retiradas dos FPS antigos. Não significa que temos que surfar a cada centímetro – como em Perfect Stride (2013), mas alguns desafios exigirão algum domínio da técnica, pelo menos.

    O jogo, por ter velocidade como uma de suas principais características, é bastante difícil em um primeiro momento. Principalmente para jogadores mais casuais, entrar de cabeça em um speedrun não é tão simples. Mas como em tudo, a prática leva à perfeição (ou pelo menos ao tempo mínimo para passar de fase).

    O speedrun dirigido por Ben Esposito é inicialmente difícil

    A evolução de novos demônios, novas cartas arma e novas técnicas para superar desafios é muito bem cadenciada. Quando se acha que não tem como vir algo novo, o game surpreende e implementa mais um patamar na escala de aprendizado. Talvez este seja um dos principais fatores para me deixar viciado nesta progressão louca e frenética.

    Arte

    Neon White, só com os fatores apresentados, já seria um jogo muito bom. Mas a Annapurna, não contente com o “muito bom”, mirou no excelente. O trabalho do Angel Matrix em criar um anime no formato de graphic novel, em paralelo a um speedrunner, foi incrível.

    Os gráficos de Neon White, seja durante as cutscenes e cenas de diálogos ou quando retratam as belas paisagens do paraíso (e outros lugares), são sensacionais. Sem tantos elementos, podemos nos concentrar no que importa e em suas cores vibrantes e divertidas.

    A trilha sonora é de responsabilidade do Machin3 Gir1, um projeto americano de música eletrônica que tem como proposta criar um som num estilo punk eletrônico (elevado à uma potência de hardcore). O resultado casa muito bem com os percursos frenéticos e velozes, contrastando com a graça e leveza dos belos cenários do paraíso. O jogo é uma obra de arte.

    Referências

    Seria leviano contar mais sobre a experiência de jogar Neon White sem trazer algumas informações que considero necessárias para a compreensão do tamanho deste jogo.

    O trabalho dos pouco menos de 20 membros do estúdio Angel Matrix passa por muitas referências. Até mesmo porque dele fazem parte alguns dos membros do Arcane Kids, um estúdio bastante… excêntrico. E desta correlação, conseguimos perceber algumas referências do passado de quem compôs esta obra.

    O estilo do jogo remete a simuladores de parkour; ainda assim, podemos cavar na história de dois de seus desenvolvedores uma nítida inspiração. Eu tranquilamente consigo dizer que Neon White é uma recriação do Perfect Stride, um game de skate, mas que tem como mecânicas básicas a inspiração na técnica de surf, desenvolvida nos jogos de Counter Strike.

    Além do estilo, alguns dos colecionáveis do jogo também fazem referência a outras obras. Umas pelúcias que encontramos e presenteamos uma das amigas do protagonista são provenientes do jogo Tattletail (2016), onde Ben Esposito e sua esposa, Geneva Hodgson, também trabalharam juntos.

    E estes são só alguns dos elementos, digamos, históricos, que ornam este relicário que é Neon White.

    VEREDITO

    Eu já havia experimentado a demo de Neon White na época em que esteve disponível no último Steam Vem Aí. Confesso que pelo primeiro capítulo disponibilizado naquela versão não criei grandes expectativas. Mas a versão completa me surpreendeu muito.

    Neon White é um incrível speedrunner FPS com elementos de plataforma desenvolvido pela Annapurna Interactive em parceria com o Angel Matrix.

    Neon White se provou um jogo completo, diverso e com elementos inovadores e muito bem equilibrados entre si. Nunca imaginei me divertir tanto com as personalidades bem elaboradas de cada personagem e com os desafios insanos ao som de um punk eletrônico muito divertido.

    O senhor Ben Esposito e a dona Annapurna estão de parabéns (como é costumeiro), pois não consegui identificar nenhum ponto negativo pesado o suficiente para desqualificar o jogo de forma alguma.

    As quase 20 horas que levei para completá-lo (sou meticuloso e não sou grande adepto aos speedrunners, então me custou um pouco mais a adaptação às mecânicas) foram totalmente compensadas pela história satisfatória, o humor da trama e a sensação gratificante de superar os desafios.

    O jogo possui valores bastante honestos. Considerando que poucos jogos são baratos no Brasil, atualmente, o game custa R$ 51 no Steam e R$ 100 no site da Nintendo. Para PC, eu pagaria tranquilamente (só não pagaria pra Switch porque não tenho um).

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Confira o trailer de Neon White:

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