Cresci cercada por livros, poesia, textos e pela música popular brasileira que dava ritmo às conversas e aos silêncios da minha casa. Nesse ambiente de palavras vivas — onde a imaginação era tão cotidiana quanto o café da manhã — nasceu, pouco a pouco, o romance Permanências, de Jacy Couto Júnior, meu pai. Um livro lançado pela editora Ipê das Letras e há muito sonhado e idealizado, tecido na confluência de décadas de leitura, inquietações sociais, memórias e escutas profundas do Brasil, cujo evento oficial de lançamento irá ocorrer na livraria Blooks Botafogo, no próximo dia 18 de dezembro, às 19h. Vale ressaltar que o livro já está disponível para vendas tanto pela Amazon, quanto no site da Ipê das Letras.
Mais do que uma narrativa ficcional, Permanências é a síntese madura e sensível de algumas das reflexões sociais e históricas mais relevantes do século XXI. O romance enraíza-se na história do Brasil da miscigenação e da resistência territorial, expondo contradições que atravessam séculos e ainda marcam nosso presente. É um livro sobre memória, registro e ancestralidade — mas também sobre a necessidade urgente de invertermos a lógica colonial de legitimidade sobre a terra, que segue insistente e violenta.
A obra constrói, com vigor literário, um diálogo profundo entre personagens históricos e contemporâneos: Araribóia, o lendário líder temiminó e fundador de Niterói, emerge como símbolo de uma resistência originária, enquanto Caio — morador de uma Rocinha que é real e também ficcional — representa a permanência negra nas grandes metrópoles brasileiras, síntese viva de uma história de sobrevivência e reconstrução diária. Entre eles, duas forças femininas, Beatriz e Helena, encarnam o amor e a coragem que movem as ações humanas mais nobres. Elas são mais do que coadjuvantes: são motores de sentido, pilares afetivos e políticos da narrativa.
Em Permanências, o amor é tema e método. Há o amor romântico, com sua ternura e suas tensões, mas também — e talvez sobretudo — o amor ao Brasil, às suas dores e grandezas, ao povo que insiste em permanecer apesar das violências que se repetem. Como na canção “O mestre-sala dos mares”, de Aldir Blanc e João Bosco, o romance evoca as lutas que a Guanabara sediou e continua sediando:
“glória aos piratas, às mulatas, às sereias,
glória à farofa, à cachaça, às baleias!
Glória a todas as lutas inglórias que,
através da nossa história, não esquecemos jamais.”.

Essa referência não é mero ornamento: ela funciona como ponte simbólica entre passado e presente, marcando que a história brasileira se constrói sempre no entrelaçamento de glórias e apagamentos, de vitórias e feridas, de continuidades que desafiam o tempo — permanências.
No coração do romance, um trecho sintetiza não apenas a trama, mas sua vocação ética:
“Não há conquista que valha a pena se ela não nascer do amor. A guerra trouxe-nos espaço. Mas foi o amor que nos fez raiz.”
É esta consciência — de que a história só floresce quando toca a humanidade dos povos — que faz de Permanências um livro singular. Ele não apenas narra: ele elabora, reivindica, reconecta. É uma obra que devolve ao leitor a noção de que permanecer é um ato político e afetivo.
No fim, Permanências é um romance que pulsa: é memória, é denúncia, é poesia histórica, mas também é um gesto profundamente pessoal. Para mim, é o livro de um pai que sempre escreveu o Brasil com a palavra e com o coração — e que agora o oferece ao mundo em forma de ficção, sem abrir mão da verdade que sempre o moveu.

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