CRÍTICA – Cowboy Bebop (1ª temporada, 2021, Netflix)

    A adaptação americana do famoso anime japonês Cowboy Bebop criado por Shinichiro Watanabe chegou à Netflix. A série tem como showrunner André Nemec (Missão Impossível: Protocolo Fantasma) e roteiro de Christopher Yost (The Mandalorian).

    No elenco estão John Cho, Mustafa Shakir e Daniella Pineda.

    SINOPSE

    Spike Spiegel (John Cho), Jet Black (Mustafa Shakir) e Faye Valentine (Daniella Pineda) formam um poderoso grupo de caçadores de recompensas aventurando pelo sistema solar atrás dos criminosos mais perigosos do universo. Um deles é Vicious (Alex Hassell), antigo amigo de Spike que agora se torna seu pior inimigo.

    ANÁLISE

    É inevitável a comparação entre o anime lançado em 1998 pelo genial Shinichiro Watanabe, e a série americana desenvolvida pela gigante do streaming. Se a primeira revolucionou o mundo dos animes ao apresentar uma história com incríveis referências musicais, cinematográficas e uma narrativa original, a segunda falha em todos esse aspectos que tornaram Cowboy Bebop o grande clássico que é hoje em dia.

    Logo, existe um sentido para os fãs de animes olharem torto sempre que se deparam com uma adaptação; e a série criada de André Nemec é um exemplo disso. Isso porque, o grande problema da produção americana é ser um live action, que ninguém pediu, de um anime já muito consagrado e que permanece vivo até hoje no coração dos fãs e nas memórias dos apreciadores de anime.

    Dessa forma, tudo que a série necessitava entregar era uma adaptação que fizesse jus ao seu antecessor, em vez disso o espectador assiste a uma história forçada com um visual que horas funciona, horas é extremamente de mal gosto. A começar que a produção corre contra o tempo e por mais que seus dez episódios tenham cerca de uma hora cada, o desenvolvimento da narrativa é muito apressado, sem que o espectador se importe de verdade com o que está acontecendo em tela.

    E esse nem é o único problema, como cada episódio apresenta um desafio diferente, como se fosse “o vilão da semana”, o método de lançar todos os episódios de uma só vez não funciona. Falta tempo para que os vilões façam impacto e mais tempo ainda para que a o público faça a digestão do que acabou de ver.

    Logo, a série Cowboy Bebop é o típico exemplo de que algumas produções devem permanecer únicas e irretocáveis. No anime de 26 episódios, Watanabe trás questões filosóficas sobre a vida, o espaço, o ser e o tempo de forma às vezes divertida, mas também muito melancólica e contemplativa. Já na série, toda essa narrativa é perdida se assemelhando em sua essência a uma série de comédia.

    Nem a construção do passado dos personagens, algo prometido pela produção, foi de fato satisfatório. Existe uma necessidade de mostrar demais e nos primeiros três episódios já se sabe tudo sobre os protagonistas e o vilão, muito diferente do anime que constrói suas histórias na medida que o espectador cria um vínculo com os personagens.

    E é nessa ânsia de querer ser revelador e por vezes querer contar melhor que o anime, que a série erra feio. Desde do começo, o público é familiarizado com o arco de Vicious e Julia (Elena Satine), o que torna as coisas massivas e nada surpreendentes. Além disso, Alex Hassell não consegue atingir o mesmo nível que sua versão original, aliás sua atuação é caricata para ruim e totalmente fora do ritmo que a série se propõe.

    Já na Bebop, temos um time que ganha em muito em carisma e dinâmica, mas que não chega a fazer grande efeito. John Cho como Spike Spiegel carrega bem o arquétipo do anti herói, mas perde total seu lado mais enigmático. Enquanto Mustafa Shakir como Jet Black se torna uma espécie de “pai” para tripulação e Daniella Pineda como Faye Valentine ganha um ar de alívio cômico nada parecido com sua personagem original.

    Dessa forma, é um tanto decepcionante assistir a adaptação americana, não só por seu roteiro fraco, mas também por seu design de produção enfadonho. As coreografias de luta são péssimas e mostram o quanto a série pena para se assemelhar ao anime. Assim como, falta sutileza na produção estética dos personagens e no uso dos planos (sério, pra que tanto ângulo holandês?).

    Por último, Cowboy Bebop da Netflix não é um total desperdício, alguns momentos evocam uma certa diversão se for esquecido que se trata de uma adaptação de um dos animes mais relevantes dos últimos tempos. Outros momentos subestimam muito, tanto o fã da obra original como o público em geral.

    De qualquer forma, o gênero sci-fi está na série, mas é por vezes deixado de lado, assim como o cachorro Ein e a icônica hacker Ed. Logo, Cowboy Bebop não consegue ser um um terço da sua obra original, e nem precisaria, se fosse ao menos realizado de uma melhor forma.

    VEREDITO

    A adaptação de Cowboy Bebop pela Netflix revela ser mais um ganho comercial do que uma obra que tenta ser interessante aos espectadores. Ainda que o visual tente compensar as péssimas escolhas de roteiro, os defeitos são muito aparentes se comparado com anime. Por isso, vale assistir sem grandes expectativas ou para os mais fortes, ignorando totalmente o animação de 1998.

    Nossa nota

    3,0 / 5,0

    Assista ao trailer:

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