O quinto episódio de His Dark Materials foi ao ar na última segunda-feira (14/12) intitulado The Scholar. A série da HBO está a dois episódios de seu grande final de temporada.
SINOPSE
Boreal (Ariyon Bakare) leva Sra. Coulter (Ruth Wilson) para o outro mundo. Will (Amir Wilson) e Lyra (Dafne Keen) armam um plano para recuperar o aletiômetro.
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ANÁLISE
Há poucas adaptações que conseguem criar cenas que sobressaem o material original. The Scholar, o quinto episódio de His Dark Materials é uma dessas exceções bem-vinda, usufruindo de uma ótima elaboração e execução. Dessa forma, sua proeza tem dois nomes por trás: a roteirista Francesca Gardiner e a diretora Leanne Welham.
O fato de duas mulheres produzirem um episódio que toca necessariamente e dolorosamente em relação de mãe e filha é essencial para entender a que ponto a série deseja chegar.
Sendo assim, temos Sra. Coulter em um novo mundo e atenta a tudo. Logo, ela se depara com uma realidade diferente, onde mulheres são “livres” para fazerem o que quiserem, muito ao contrário do seu mundo de origem.
À medida que o episódio avança, Sra. Coulter se pergunta cada vez mais, quem ela poderia ter sido se tivesse nascido neste mundo. Enquanto, um desprezível e extremamente pedante Boreal tenta de todas as formas chamar a atenção dela na expectativa de ter uma aproximação amorosa. Ainda que Sra. Coulter esteja intelectualmente muito acima de Boreal, ela precisa disfarçar sua aversão para manipulá-lo ao seu favor.
Consequentemente, após Boreal contar para Sra. Coulter que roubou o aletiômetro de Lyra e que, quando ela viesse pegar, entregaria a menina a Coulter; ele também comenta sobre a relação de Lyra com Mary (Simone Kirby).
Instintivamente, Sra. Coulter fica interessada em Mary e fazendo o papel de mãe preocupada diz a Boreal que precisa ver a cientista.
Mas, antes de ir para Oxford, Sra. Coulter deixa seu daemon trancado no quarto. Boreal ao ver ela sem o daemon fica surpreso ao que Coulter responde que ele nunca tinha conhecido uma mulher com autocontrole.
Assim como todos, ela também sente dor quando se separa de seu animal, contudo, Coulter consegue ao máximo reprimir seus sentimentos ao ponto se não se importar com o seu próprio sofrimento. Essa profundidade da personagem vai muito além dos livros de Philip Pullman, sendo algo que só pode ser concebível por mãos femininas.
Seguindo a trama, o encontro com Mary é um momento de revelação. O mundo de Mary é tudo que Coulter sempre quis: liberdade para exercer sua genialidade. Pensem em tudo que essa mulher poderia ser sido em um mundo que não a negasse e que lhe desse oportunidade. Mary é um espelho refletido, um gosto ruim na boca de Sra. Coulter.
Após Mary saber que Sra. Coulter é mãe de Lyra, ela revela que a menina sabe ler o aletiômetro. Coulter, que até então tinha poucas informações sobre a filha, observa aquela mulher que sabe muito mais sobre Lyra do que ela mesma como mãe. Ainda que ambas sejam de mundos distintos, Mary é um embate muito mais a altura de Coulter, deixando-a sem chão.
Ao voltar para a casa de Boreal, Coulter está de saco cheio de sua ignorância. Ao falarem de Mary, Boreal chama ela e todas as mulheres desse mundo de “arrogantes”. Como se a liberdade das mulheres fosse um problema a ser revisto.
Já Sra. Coulter se sente cada vez mais ludibriada e fala sobre o caso que teve com Asriel (James McAvoy) e em como lhe foi negado o direito de ser acadêmica. Para Boreal que deseja Coulter mais do que tudo, “falar sobre Asriel” parece perda de tempo. Ela mostra que o assunto é sobre ela.
“Este lugar está cheio de ideias, ideias pelas quais nosso mundo está faminto, e ainda você? Você gastou seu tempo trocando bugigangas.”
Quando ele protesta, citando a empresa que construiu, ela zomba dele:
“E você esperava me adicionar à sua pequena coleção de tesouros? … Meu caro Carlo. Se você realmente me pegasse, não saberia o que fazer comigo.”
Boreal não consegue ver Sra. Coulter como uma igual, para ele, ela é um objeto a ser cobiçado e alcançado. Mas Coulter, que teve que passar sua vida fingindo e manipulando, vê em Boreal apenas mais um recurso.
Lyra e Sra. Coulter
No começo do texto foi citado a influência de uma produção feminina no episódio. Logo, esse quesito é extremamente importante para dar profundidade às personagens femininas da trama. O encontro de Lyra e Coulter revela algo já dito: His Dark Materials é uma obra sobre relação de pais e filhos.
Sendo assim, Will e Lyra colocam seu plano em ação. Enquanto Lyra distrai Boreal na porta, o garoto abre uma janela na sala para pegar o aletiômetro. Mas, o macaco dourado o ataca e alarma todos. Lyra entra na casa para ajudar o amigo e dá de cara com sua mãe.
Essa é talvez a melhor cena construída nessa temporada. Lyra trava, enquanto Boreal e seu daemon cobra avançam sobre Will. Já Sra. Coulter oferece o aletiômetro para Lyra pedindo que ela volte para casa, dizendo que vai lhe proteger.
Lyra nem pestaneja e quando Coulter diz que as duas são parecidas, a menina sibila e Pan ataca o macaco dourado como um carcaju, dando à mãe um gostinho do abuso que ela e seu daemon infligiram a eles na última temporada.
A relação de Lyra e Sra. Coulter está em destroços e a série consegue exemplificar o sentimento de medo e raiva que Lyra sente pela mãe. Mais do isso, é uma relação tóxica e muito perigosa que levou Lyra a se comportar tal como Sra. Coulter.
Felizmente, Will finalmente consegue quebrar um vaso na cabeça de Boreal, cortar uma janela e arrastar Lyra de volta para a segurança antes que sua mãe e o macaco possam superar totalmente o ataque. Contudo, agora Sra. Coulter sabe exatamente onde a filha está no universo.
VEREDITO
The Scholar é o melhor episódio da temporada até o momento, mostrando todo o belíssimo trabalho de atuação de Ruth Wilson. Além disso, a trama também apresenta um Will e uma Lyra mais maduros e empáticos em relação aos livros. Outra vez, é preciso ressaltar o trabalho de CGI e como o Pan é o melhor daemon.
4,5 / 5,0
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