A Moça do Calendário, de Helena Ignez, traz as contradições do país, a luta de classes, as questões de gênero e o sonho como agente libertador no centro da trama. O filme é baseado em um roteiro escrito por seu marido, Rogério Sganzerla, antes de sua morte, em 2004. Em cena inédita, a relação entre patrão e empregado está em pauta. Segundo a diretora, o patrão é um pré-capitalista primário.
“Ele é uma figura grotesca que representa a negatividade do trabalho mal escolhido.”
A trama acompanha Inácio (André Guerreiro Lopes), ex-gari, mecânico e dublê de dançarino desmotivado que trabalha numa oficina mecânica e sonha com uma moça do calendário (Djin Sganzerla), musa dos seus desejos e fantasias. Para a diretora, A Moça do Calendário se trata de um “filme utópico”, que busca a “descolonização do pensamento”.
Assista a cena:
Por “utópico”, a diretora defende a criação de uma sociedade anticapitalista, na qual não existam desigualdades sociais. Através da “descolonização”, imagina uma estrutura alheia aos filmes convencionais, adotando questões políticas, sociais e estéticas tipicamente brasileiras. A Moça do Calendário busca resgatar o espírito anárquico, do tropicalismo e demais vanguardas do cinema brasileiro.
“A Moça do Calendário é um roteiro feminista em um universo masculino. Eu vejo o homem com muito carinho, até porque o protagonista é um homem, o Inácio, mecânico de uma oficina chamada Barato da Pesada. O filme tem muito humor, e é um humor que já estava no roteiro do Rogério e eu mantive. Ao mesmo tempo adicionei algumas questões muito importantes sobre o trabalho no século XXI, a Sociedade do Cansaço.”
Exibido em mais de 15 festivais em 2017, entre eles a Mostra de São Paulo e o Festival de Brasília, o filme foi premiado no Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria, como Melhor Filme – Voto Popular, Melhor filme do Femina – Festival Internacional de Cinema Feminino, Prêmios de Melhor Filme Longa Nacional, Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Direção de Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Direção de Arte, Melhor Ator no 41º Festival Guarnicê de Cinema, além de ser elogiado pela crítica especializada.
Inácio Araújo, da Folha de S. Paulo, que deu cotação máxima, de cinco estrelas ao filme e elogiou:
“A Moça do Calendário pode ser visto como sátira ou drama social. O certo é que Helena retorna aqui, de forma bem pessoal, ao espírito (popular) dos primeiros filmes com Sganzerla. O cinema como exercício de liberdade.”
Já Luiz Fernando Zanin, de O Estado de S. Paulo comentou:
“Há filmes que falam da liberdade, sem exercê-la. Outros, muitíssimo difíceis de ser encontrados, são libertários em sua essência. A Moça do Calendário é dessa segunda família.”
Quinto longa dirigido por Helena Ignez, A Moça do Calendário estreia nos cinemas brasileiros no dia 27 de setembro.