Existem documentários que conseguem causar um impacto gigantesco em nossas vidas, abrindo nossos olhos e modificando nosso pensamento. Acredito que a arte do cinema está em, além de contar boas histórias, nos mostrar por diferentes perspectivas fatos que, até então, desconhecemos – ou não compreendemos por não ser a nossa realidade. Esse é exatamente o caso de A 13ª Emenda, documentário da diretora Ava Duvernay.
Ava Duvernay coleciona indicações e prêmios a cada nova produção. A diretora traz em suas produções narrativas que retratam suas origens e a história do povo negro ao longo das décadas. Parceira de ninguém menos que Oprah Winfrey, Ava tem ganhado cada vez mais notoriedade. Seus próximos projetos incluem a adaptação para o cinema de Novos Deuses, da DC Comics, e a produção de mais temporadas da série Queen Sugar. A ascensão de Ava em Hollywood retrata o fortalecimento da diversidade na indústria, um desafio diário que demanda tempo e esforço, mas que finalmente está colhendo frutos.
A 13ª Emenda faz uma construção narrativa desde a escravidão até os dias atuais. Contando com depoimentos de ativistas, historiadores e pensadores, o documentário é extremamente didático, escancarando as mazelas e o genocídio do povo negro durante décadas. A produção nos dá a oportunidade de acompanharmos relatos de pessoas que fizeram não só parte da história, como também mudaram o curso dos acontecimentos. Angela Davis, uma das poucas ativistas que sobreviveram a tempos extremamente sombrios para a comunidade negra, entrega um relato de luta, dor e resistência – acima de tudo.
A montagem deste documentário é impecável. Ava possui um poder narrativo sem igual, que lhe confere o poder de mesclar uma análise de dados profunda com imagens e gravações de cada período histórico. Com uma timeline bem delimitada, criando ganchos para os acontecimentos das décadas seguintes, o documentário nos conduz por inúmeros governos dos Estados Unidos, mostrando que cada decisão política não foi tomada por acaso – e que algumas delas, como no caso do Governo Clinton e sua “Three-strikes Law”, criou destruições irreparáveis no sistema, levando ao encarceramento em massa que vemos hoje.
Aqui vale uma ressalva importante: É curioso vermos que Clinton se arrepende, hoje em dia, da forma como a lei foi aplicada e admite que houve mais erros do que acertos. No Brasil, muitos políticos tentaram ser eleitos esse ano (e alguns conseguiram), prometendo replicar tal ideia no nosso País. A importância e força de produções como A 13ª Emenda está em dar luz para erros do passado e alertar para não os cometermos novamente no futuro. Conhecermos a nossa história é o principal legado para construirmos uma sociedade melhor – e mais justa.
Além de ser tecnicamente impecável, A 13ª Emenda propõe reflexões para o futuro. Em seu último ato, a produção coloca em debate a prisão domiciliar, o uso das tornozeleiras eletrônicas e os dados que podem ser coletados, as empresas envolvidas com governos e que visam nada além do lucro e, claro, a possibilidade de nos tornarmos presos (em massa) dentro de nossas próprias casas.
A 13ª Emenda é o tipo de produção que deveria chegar ao maior número de pessoas possíveis. A educação é a principal arma para não perdermos a nossa liberdade.
Assista ao trailer:
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