Atenção! O texto a seguir pode conter spoilers de Hush: A Morte Ouve.
Home invasion é uma vertente do terror e do suspense. Esse subgênero tem representantes que se destacam em filme como por exemplo: Eles (2006), Violência Gratuita (2007) e O Homem nas Trevas (2016), ou seja, continua sendo uma boa aposta. Principalmente porque apenas a hipótese de um estranho entrando em nossa residência com o intuito de nos matar é assustadora. Ademais, saber trabalhar um roteiro em cima dessa premissa pode resultar em ótimas produções, algo que Mike Flanagan soube fazer.
O currículo desse cineasta americano é um dos mais interessantes da atualidade quando o assunto é terror e suspense, com títulos como O Espelho (2013), Ouija: Origem do Mal (2016) e o recente Jogo Perigoso (2017). Com Hush: A Morte Ouve (2016) ele acrescentou à sua filmografia um ótimo home invasion. Co-escrita com sua esposa, Kate Siegel (que também protagoniza o longa), a produção estadunidense tem uma protagonista feminina inteligente e, sem dúvida, uma das melhores final girls dos últimos anos.
Para quem não conhece o termo final girl (garota final, em tradução literal), ele foi cunhado por Carol J. Clover em seu livro de 1992, Men, Women, and Chainsaws, considerado uma das obras acadêmicas mais importantes nos estudos do terror. A definição mais simples desse conceito é “o último personagem deixado vivo para confrontar o assassino”. Duas das principais características da “garota final” são: ser mulher e ser mais inteligente que os demais personagens, conseguindo elaborar uma estratégia para sobreviver. O arquétipo clássico da final girl foi consolidado com Laurie (Jamie Lee Curtis), protagonista do clássico de 1978, Halloween: A Noite do Terror. Posteriormente, alguns filmes apresentaram variações desse conceito, como por exemplo: Pânico de 1996.
Hush: A Morte Ouve acompanha Maddie Young (Kate Siegel), uma escritora surdo-muda que vive isolada em uma área florestal, durante uma noite um psicopata mascarado aparece em sua casa e ela precisa lutar para sobreviver. A trama é relativamente simples, mas o longa consegue deixar o espectador tenso e apreensivo a partir do momento que o assassino aparece até os momentos finais. Dois dos principais fatores que fortalecem essas sensações é o fato de a protagonista ser surdo-muda – o que já é o suficiente para pensarmos que ela será um alvo fácil, mas, felizmente, não aqui – e a narrativa, a maneira como o Flanagan conduz a história é muito interessante. Além disso, o diretor faz um ótimo uso do silêncio.
O roteiro de Flanagan e Siegel é muito competente ao desenvolver uma protagonista que, mesmo com limitações, mostra-se inteligente; algo muito bom de ver em filmes do gênero. O fato de Maddie ser escritora conta bastante para isso, pois ela tem uma maneira de pensar muito singular. Podemos perceber isso na cena em que a personagem precisa elaborar uma estratégia para sair viva daquela situação, mesmo estando ferida e sendo mais lenta, mais fraca, e menor que o homem. Nesse momento, ela usa o seu método de raciocínio para tomar a decisão mais inteligente: matar o psicopata, já que ela não pode fugir, esperar, nem esconder-se. É uma cena espetacular e é momentos como esse que torna o longa tão interessante e deixa claro que Maddie é uma ótima final girl.
Em seu livro, a autora Carol J. Clover descreve a final girl como um símbolo feminino positivo, pois em vez de mostrar a mulher como uma dama em perigo, o arquétipo a mostra tomando conta da situação, enfrentando o assassino e prevalecendo no final graças às suas atitudes, assim como faz a protagonista de Hush: A Morte Ouve.
Kate Siegel entrega uma ótima interpretação. A atriz é muito carismática e em nenhum momento suas expressões ou gestos parecem exagerados, é tudo bem dosado. Falando brevemente sobre o assassino, ele é interpretado por John Gallagher Jr. (Rua Cloverfield 10) e o que o torna assustador é não saber exatamente quem ele é e qual a sua motivação. O que é muito bom, já que quanto menos você souber da ameaça que te cerca, com certeza, mais pânico ela te causará.
Hush: A Morte Ouve é um ótimo home invasion, além disso, tem uma protagonista inteligente, carismática e uma das melhores final girls dos últimos anos. Não espere muitos gritos, sustos ou algo do tipo, pois o que predomina aqui é o silêncio e a tensão. Vale muito a pena!
Confira o trailer legendado:
https://www.youtube.com/watch?v=d3vVr1JU1RQ
O longa estreou inicialmente no SXSW Film Festival, mas teve seus direitos comprados pela Netflix para ser lançado ao redor do mundo. Então, na hora que quiser conferir, já sabe onde encontrar. E não deixe de comentar aqui embaixo o que achou e de indicar para os amigos também! Um abraço!