Muito mais do que só um volumão de filmes, a Mostra Internacional de Cinema é um marco na agenda de São Paulo, junto com outros eventos históricos – Virada Cultural, SP na Rua, entre outros. Após 43 anos, a curadoria da Mostra continua a nos surpreender com novidades que incluem exibição de cerca de 300 títulos de diversos gêneros e países – entre eles vários ganhadores de prêmios -, debates, masterclass, convidados, novos espaços participantes do circuito, homenagens, leituras de cartas históricas, podcasts e mais.
A 43ª Mostra Internacional de Cinema ocorrerá entre 17 e 30 de outubro de 2019 em 34 salas de exibição, entre elas Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, Cinearte, Cinemateca Brasileira, Cinesala, CineSesc, Espaço Itaú de Cinema, IMS Paulista, MIS, Petra Belas Artes, Reserva Cultural, Spcine Olido, Spcine Paulo Emilio (CCSP), Spcine Lima Barreto (CCSP) e, entrando no circuito como um enorme cartão postal da cidade, o Theatro Municipal.
Do dia 18 ao dia 20, a parceria entre a Mostra e o Spcine levam ao Theatro Municipal filmes com DNA brasileiro gratuitamente, preocupando-se em atingir o público geral com a arte única que o toque brasileiro traz. Entre os filmes exibidos lá, temos o querido e aclamado A Vida Invisível; Três Verões, de Sandra Kogut; Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, protagonizado por Bárbara Paz; Abe, de Fernando Grostein Andrade; e Turma da Mônica: Laços, uma novidade incrivelmente nostálgica, divertida e familiar.
Ainda falando sobre a preocupação em abraçar todo o público, a Mostra terá programação na rede do Sesc (incluindo doze unidades do interior), CEUs, área externa do Auditório Ibirapuera (com a Orquestra Jazz Sinfônica Brasil no dia 2 de novembro acompanhando o filme O Gabinete do Dr. Caligari) e, claro, a tradicional programação no Vão Livre do Masp, que este ano inclui também um domingo, junto com a Paulista fechada.
Na quinta (24), a programação começa no Vão Livre com o filme O Mágico de Oz, uma homenagem com um dos filmes preferidos do grande e inesquecível Rubens Ewald Filho, seguida sexta-feira pelo documentário brasileiro Slam: A Voz do Levante, de Tatiana Lohmann e Roberta Estrela D’Alva.
Sábado temos o aclamado Todas as Canções de Amor, e domingo a Mostra exibe curtas de Georges Méliès em comemoração ao Dia do Patrimônio Audiovisual.
A realidade virtual também era esperada na Mostra, e o Cinesesc estará com exibições de A Linha, do diretor Ricardo Laganaro, vencedor do prêmio Melhor Experiência Interativa no Festival de Veneza, Last Whispers, de Lena Herzog, Children Don’t Play War, de Fabiano Mixo, The Bridge, de Nikita Shalenny e 11.11.18, de Django Schrevens e Sébastien Tixador. Além do Cinesesc, a unidade móvel fará itinerância pelos CEUs do circuito.
Para os que não podem ou não querem se deslocar, a Mostra também dá seu jeitinho. A plataforma de stream Spcine Play disponibilizará dez filmes, bem como o site do Espaço Itaú. Além disso, a Mostra promove três episódios diários de podcast para o público.
Em parceria com a editora Ubu e o Ventre Studio, a Mostra lança Em Tempos Como Estes… Correspondências (1929 – 1994), livro composto de cartas de Efratia Gitai, mãe do cineasta Amos Gitai. Parte da correspondência também terá leitura aberta ao público durante a Mostra, que será realizada por Bárbara Paz, Regina Braga e Gabriel Braga Nunes.
A Mostra conta com convidados de peso este ano, entre eles Leonardo Sbaraglia, Olivier Assayas, Willem Dafoe, Fernanda Montenegro, Edgar Ramírez, Robert Eggers, e centenas de outros. Para verificar os filmes participantes, convidados, prêmios e juris da edição, acesse o site oficial da Mostra (http://mostra.org) ou baixe o aplicativo exclusivo disponível para Android e IOS.
Obviamente não posso deixar de falar sobre a maravilhosa identidade visual feita por Nina Pandolfo, artista brasileira que trabalhou no conceito de que toda ideia sai da cabeça. As imagens são bem lúdicas, com desenhos suaves, atingindo todo tipo de público, e a vinheta está simplesmente perfeita.
Esta semana a Mostra promoveu uma coletiva de imprensa incrível no Espaço Itaú de Cinema – Augusta (que neste domingo completa 26 anos). Bom, eu posso ser suspeito para falar, pois amo aquele espaço e só de entrar lá já fico nas nuvens, mas as informações vindas da diretora da Mostra, Renata de Almeida, junto com representantes de alguns dos principais apoiadores do evento (CPFL, Spcine, Sesc…) foram realmente muto interessantes.
Um ponto importante foi a força do cinema brasileiro. Grande parte da produção internacional tem um dedo brasileiro em algum departamento, e isso mostra como nosso setor audiovisual está avançado. É igualmente importante ressaltar a conexão de vários países para criar um filme, afinal estamos falando da Mostra Internacional de Cinema. Um diretor francês, uma distribuidora japonesa, um produtor executivo finlandês, atores coreanos… Quanto mais a arte se funde, mas aceitável são nossas culturas. Isso promove paz e conhecimento pelo mundo, que afinal é uma das principais funções da arte.
Mas focando no setor audiovisual brasileiro, não é novidade para ninguém que o país está enfrentando alguns problemas socioeconômicos, e a censura tem sido um tópico de muita discussão entre os artistas. Foi interessante ver que em um ambiente com tantas pessoas da mídia, artistas e apoiadores da cultura o assunto surgiu com velocidade, pois mostra que realmente não estamos ficando loucos em pensar que estamos sendo reprimidos. Porém a Mostra se mostrou firme nesse ponto: sempre teve diversidade, apoiou todos os tipos de tema, atingiu todo o tipo de público, e se manterá assim. Arte é voz, e todos tem o direito de falar.
Mesmo com medo da verba estar curta em diversos setores do Brasil, os patrocinadores e apoiadores se juntaram para manter a Mostra gigante, e insistem que o Brasil já deixou sua marca no mundo com seu cinema, então se alguém tentar retardar isso terá muito, mas muito trabalho.
E após essa gostosa e esclarecedora conversa com a equipe, tivemos o prazer de assistir dois filmes que, do fundo do coração, recomendo: o curta Nimic, do cineasta grego Yorgos Lanthimos, e o longa Parasita, vindo diretamente da Coréia do Sul pelo diretor Bong Joon-ho.
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