CRÍTICA – Bela Vingança (2021, Emerald Fennell)

    Bela Vingança (Promising Young Woman) é dirigido e roteirizado por Emerald Fennell (Killing Eve e The Crow), produzido por Margot Robbie e estrelado por Carey Mulligan.

    O longa está concorrendo ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Direção. Bela Vingança estreou mundialmente no Festival de Sundance em 2020 e chega ao Brasil dia 22 de abril.

    SINOPSE

    Em Bela Vingança, Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com muitos traumas do passado e que frequenta bares todas as noites fingindo estar bêbada. Quando homens mal-intencionados se aproximam dela com a desculpa de que vão ajudá-la, Cassie entra em ação e se vinga dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la.

    ANÁLISE

    A diretora Emerald Fennell.

    É fato que os filmes provocam sensações inimagináveis e despertam sentimentos profundos. E quando uma obra faz tamanho barulho em nossas entranhas e pensamentos é hora de parar para analisar o que acabou de ser assistido. Bela Vingança de Emerald Fennell tem esse poder sobre o espectador e por isso, é tão complicado falar sobre esse longa.

    É importante compreender todo o contexto social, histórico e também político ao qual o longa está ligado. O filme é uma visão contemporânea e cínica sobre uma sociedade corrosiva. Dessa forma, Cassie interpretada incrivelmente por Carey Mulligan é um retrato do sentimento de urgência que ronda todas as mulheres.

    Isso porque, Cassie decide deixar o papel de vítima para buscar vingança em um sistema abusivo, injusto e corrupto. No longa, a melhor amiga de Cassie comete suicídio após ser abusada sexualmente na faculdade. A tragédia causa um profundo trauma na protagonista que começa a frequentar bares e festas fingindo estar bêbada até ser abordada por predadores sexuais, para amedrontá-los.

    Contudo, de início a narrativa apresentada pelo filme de Fennell não é nada expositiva. Logo, o filme se inicia com alguns homens em uma boate comentando sobre Cassie – aparentemente alcoolizada – “essas garotas se põem em perigo desse jeito“, “se ela não se cuidar, alguém vai tirar vantagem“, “isso é pedir para levar“.

    Os comentários grotescos exemplificam um tema constantemente abordado no longa, a cultura do estupro. Nesse sistema, a violação sexual é normalizada devido às atitudes sobre gênero e sexualidade. Nesse sentido, quando o filme aborda que a amiga de Cassie denunciou o abuso à faculdade, a justiça e as pessoas ao redor, mas não ganhou nenhum apoio, Emerald Fennell quer que olhemos no âmago da sociedade para entendermos que a cultura do estupro é tanto institucional, como estrutural.

    Dessa forma, é nítido o porquê de Bela Vingança preferir uma montagem confusa, o intuito é tirar variadas reações do espectador à medida que conhecemos as motivações de Cassie. E aqui, uma ressalva a composição visual do longa que apresenta uma paleta de cores ao melhor estilo candy combinado com tons pastéis para passar um “quê” de pragmatismo misturada a um humor ácido.

    Isso porque, o longa não foge às suas dualidades. Cassie age como uma anti-heroína ao desmascarar homens que minutos atrás estavam dispostos a lhe estuprarem, – as reações surpresas e apavoradas geram situações cômicas que deixam aquele gostinho de vingança. Por isso que Bela Vingança é um filme que foge do convencional ao tratar de assuntos sérios com uma narrativa tão afrontosa.

    Além do filme 

    Bela Vingança é fruto do seu tempo. Isso porque, o filme se junta a outros títulos, como A Assistente (2019), para denunciar através do cinema a cultura do estupro e como as mulheres estão desoladas.

    Dessa forma, o filme surge como uma catarse e dá voz a um grito de ódio e desespero. Isso porque, obras como Bela Vingança expurgam o sentimento de incapacitação que assombra as mulheres todos os dias. Logo, a revolta de Cassie se torna um momento de alívio.

    Contudo, não dá para negar que o longa mostra uma perspectiva fantástica a um contexto totalmente real e traumático. Visto que ao corroborar, em certa medida, com a retórica de que “homens ricos e brancos não estão acima da lei”, o filme se torna pretensioso.

    Veja bem, é possível que Emerald Fennell tenha pretendido esse clima “justiceiro” ao final no longa. Já que, por ter dado um final corajoso e extremamente inusitado a sua protagonista, deixaria um gosto agridoce que não seria bem-vindo. Talvez, por isso, seja necessário um final idealista no qual temos advogados arrependidos e homens brancos presos.

    Dessa forma, a dor da violência, da deslegitimação e do esquecimento ganha um sorriso amarelo. A vingança pode ser completa, mas sem floreios. Consequentemente, Bela Vingança atenta para o fato de que “o pleno” século XXI não sumiu com o abuso sexual contra as mulheres, apenas o atualizou para caber na culpa dos homens modernos.

    VEREDITO

    Bela Vingança tem uma narrativa inovadora que conversa com o atual para passar uma mensagem de posicionamento feminino. Dessa forma, o filme consegue ser transformador à medida que Cassie cresce em cena – amém, Carey Mulligan.

    Sem dúvidas o longa de Emerald Fennell é uma experiência que deve ser assistida por todos e discutida sempre que possível.

    Nossa nota

    4,5 / 5,0

    Assista ao trailer legendado:

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