Greve em Hollywood: Precisamos realmente nos preocupar com a IA?

    Atualmente, a indústria do cinema tem feito diversos questionamentos em torno do impacto que a Inteligência Artificial (IA) pode gerar no trabalho dos artistas e roteiristas, representados respectivamente pelo sindicato Screen Actors Guild (SAG-Aftra) e Writers Guild of America (WGA).

    Até o momento, são mais de 160 mil profissionais que decidiram cruzar os braços, sem previsão para voltar às atividades, por discordarem das negociações propostas pela Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP) – associação que representa organizações como Sony, Disney, Warner, entre outras.

    E uma das pautas que mais se destacaram nesta greve envolve o questionamento de que a tecnologia representa uma ameaça pela concorrência real – e até, desleal – para os profissionais que reivindicam por melhorias trabalhistas.

    Diante a esta batalha épica, que paralisou títulos de peso, como Deadpool 3, Mortal Kombat 2, Gladiador 2, entre outros, é importante analisarmos questões práticas do núcleo que gerou todo este conflito. Embora a IA possa auxiliar na geração de roteiros e histórias, ela ainda depende de dados pré-existentes e padrões estabelecidos pelo profissional da área, o que pode limitar a capacidade de criar histórias verdadeiramente originais e inovadoras.

    A criatividade humana é uma característica única, capaz de gerar histórias e experiências emocionais profundas que ressoam com o público. Os roteiristas e artistas trazem as próprias vivências, perspectivas e emoções para que, assim, possa haver novas criações, o que resulta em narrativas complexas e significativas.

    Assim, o recurso da IA vem como uma ferramenta complementar, não como uma substituta da criatividade humana, ou seja, um apoio ao serviço prestado pelos profissionais que, ao utilizá-la, têm condições de aprimorar seu trabalho, expandir ideias iniciais e oferecer ao público diferentes perspectivas. Mas, tudo isso, sempre mantendo a autenticidade artística que somente os seres humanos podem proporcionar.

    Outra reinvindicação que chama atenção é do uso de imagem. Isso porque, a IA consegue gerar histórias, roteiros e até imagens de personagens a partir da figura de pessoas reais, podendo utilizar, por exemplo, a imagem de figurantes sem precisar tê-los nos sets de filmagens. Além disso, com o avanço dessa tecnologia, é possível que ela aprenda a representar um artista, com voz, imagem e até mesmo com movimentos e trejeitos.

    Neste caso, se a projeção se tratar de um famoso, a negociação do uso de imagem é mais fácil e o fator dinheiro não entra tanto em discussão. No entanto, quando analisamos a maior parte dos artistas, que ainda não chegaram à almejada fama, como lidar com a questão do uso de imagem deles? Receberiam pela sua reprodução? Como o direito desses profissionais ficaria garantido diante a este recurso?

    Se fizermos um paralelo deste acontecimento atual com a Revolução Industrial, sabemos que este episódio da história não foi aceito pacificamente por todos na época. Os trabalhadores afetados resistiram às mudanças tecnológicas devido às condições de trabalho impostas, criando movimentos como o ludismo, que incitava a destruição de máquinas industriais como forma de protesto para impedir que as mesmas substituíssem a força de trabalho.

    Por fim, com o tempo, a resistência e as preocupações levaram a uma maior conscientização sobre a necessidade de regulamentação e proteção dos direitos dos trabalhadores, fazendo surgir movimentos e sindicatos voltados à luta por melhores condições, salários justos e limitação de horas de trabalho.

    Assim como ocorreu neste período, o avanço da IA no setor do entretenimento, assim como em outros segmentos, também suscita preocupações e questionamentos sobre os impactos no trabalho e na criatividade humana. Como sociedade, é importante aprender com a história e buscar abordagens equilibradas que permitam o avanço tecnológico, mas também protejam os direitos e a dignidade dos profissionais envolvidos. A regulamentação adequada e um diálogo contínuo são essenciais para garantir que a IA seja uma aliada, e não uma ameaça para o setor e para a sociedade como um todo.


    Este artigo foi escrito por Barbara Fraga, que é Consultora Estrategista em IA da A3Data, consultoria especializada em dados e inteligência artificial.


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