TBT #214 | Porco Rosso: O Último Herói Romântico (1992, Hayao Miyazaki)

    Já tem um tempo que eu não aparecia por aqui. Mas volto trazendo mais uma pérola do Studio Ghibli. Uma obra do genial Hayao Miyazaki lançada mais de 20 anos antes de Vidas ao Vento, Porco Rosso é ainda mais incrível do que seu sucessor espiritual.

    Chamo de sucessor espiritual porque Porco Rosso é também um filme que aborda a paixão de Miyazaki por aviões, engenharia e história.

    SINOPSE

    Costa do Mar Adriático, início dos anos 30. Marco Porcellino, mais conhecido como Porco Rosso, é um aviador caçador de recompensas que luta contra piratas aéreos. Cansados de serem derrotados por Porco, os piratas se unem e contratam um piloto americano para duelar com ele.

    ANÁLISE

    Porco Rosso

    Esta é mais uma obra Ghibli onde podemos ver a maestria de Miyazaki transbordando. À primeira vista, um filme sutil e bastante infantil onde um distinto herói porco enfrenta piratas aéreos em divertidos e bem ilustrados combates sobre o mar.

    Mas esta é apenas a superfície. O longa nos permite mergulhar fundo em cada uma das camadas delicadamente postas para entender mais sobre quem e o que é Porco Rosso e contra quem é sua verdadeira guerra.

    Camada um: a animação Ghibli

    Crianças brincando enquanto são sequestradas por caricatos piratas, disputas infantis entre rivais, cores vivas e músicas leves. Porco Rosso entrega o entretenimento infantil que esconde bem a densidade de sua reflexão. Tal qual os títulos mencionados no parágrafo anterior, o filme consegue ser brilhante tanto para o público infantil quanto para o adulto.

    Originária do ano de 1992, quase contemporânea de outros clássicos do estúdio como Meu Amigo Totoro (1988) e O Serviço de Entregas da Kiki (1989), a obra denota bastante as principais características desta fase de Miyazaki: a ludicidade e a sutileza.

    Camada dois: a paixão de Hayao

    Filho de Katsuji Miyazaki, diretor de uma fabricante de lemes para caças japoneses na Segunda Guerra Mundial, era natural para o pequeno Hayao que suas primeiras inspirações de design fossem aviões. Mas seu fascínio ia além do trivial.

    Não eram apenas as máquinas que o impressionavam, mas o poder de voar que elas permitiam. A magia de fazer toneladas deslizarem nos céus como pássaros. E esta paixão é trazida nitidamente em Porco Rosso, seja na diversão do protagonista em se desafiar pelos céus com manobras plásticas ou simplesmente em flutuar pelo horizonte enquanto admira lindas paisagens que só podem ser admiradas dos céus.

    Outro fator que facilita a identificação da paixão de Miyazaki pela engenharia dos aviões são as cenas detalhadas que destacam a mecânica de cada movimento exigido no ar. Alavancas sendo puxadas, manivelas e parafusos que são delicadamente inseridos para se ressaltar a complexidade e a beleza destas máquinas que tanto fascinam o diretor.

    Camada três: a história nem sempre é linda

    Ainda que repleta da graça e beleza já marca do Studio Ghibli, Miyazaki bem sabe que nem só disto é feita a história. Nascido em meio à guerra, ele fez questão de estudar para entender e jamais esquecer. E é esta camada mais densa e profunda de Porco Rosso.

    À medida que avançamos no filme, percebemos que os verdadeiros inimigos não são os piratas. Em seu retorno à Milão, começamos a entender um pouco mais sobre o verdadeiro Marco – aquele antes de ser um porco. Um antigo companheiro da aeronáutica italiana o avisa que por ele ter abandonado seu posto, ele é considerado um desertor, devendo retornar ao trabalho ou ser preso.

    Neste momento, a chave que praticamente define o filme é dita: “eu prefiro ser um porco do que ser um fascista”. Aqui Miyazaki localiza o filme na história, destacando o período em que Mussolini empreendia frequentes esforços através do Mar Adriático (quase que um personagem do filme) para conquistar a antiga Iugoslávia.

    Marco não é um porco por uma maldição fantasiosa. A maldição que ele carrega é ter servido às forças fascistas e ceifado vidas para enriquecer ditadores. Apesar de ter se afastado (e por isto estar sendo perseguido), Marco ainda carrega este peso, e por isto, se considera um porco. Um diálogo que corrobora para este entendimento é o seguinte:

    _ Qual a diferença entre a guerra e os caçadores de recompensa?
    _ Quem ganha dinheiro com a guerra é vilão. Caçadores de recompensa são só idiotas.

    VEREDITO

    Fico feliz de ter podido retornar à esta querida editoria com uma obra tão interessante. Porco Rosso não só é uma ótima opção para assistir com crianças como uma grande faísca para ascender um pavio de curiosidade que me fez pesquisar por horas sobre as histórias que inspiraram Hayao Miyazaki para compor esta bela obra.

    Se quiser também buscar um pouco sobre alguns tópicos interessantes, vale a pena buscar sobre a série de contos Over to You, de Roald Dahl, ou mais especificamente o conto “They Shall Not Grow Old” (que veio a virar filme, também). Se houver curiosidade também, pode buscar por quem foi Bellini na história.

    Um filme que permite descansar e ao mesmo tempo querer estudar mais sobre detalhes históricos merecia muito compor a nossa seleta lista do TBT, não é mesmo? Obrigado Sr. Miyazaki. Cada obra sua é uma aula.

    Você pode assistir Porco Rosso: O Último Herói Romântico através do Netflix.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Assista ao trailer legendado de Porco Rosso:

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