CRÍTICA – Maid (Minissérie, 2021, Netflix)

    Baseada no livro homônimo de Stephanie Land, Maid é a nova minissérie de drama da Netflix. Criada por Molly Smith Metzler e estrelada por Margaret Qualley, Maid é uma poderosa história que retrata os altos e baixos de uma jovem que precisa fugir de casa com sua filha pequena, tendo que aprender a sobreviver sem dinheiro, sem casa e sem apoio.

    SINOPSE

    A história de Alex (Margaret Qualley), uma mulher que trabalha como empregada doméstica para (mal e mal) pagar as contas, sempre lutando contra a pobreza, a falta de moradia e a burocracia para tentar dar uma vida melhor à filha, Maddy (Rylea Nevaeh Whittet).

    ANÁLISE

    Maid adapta o livro de Stephanie Land sob a ótica da personagem Alex, uma mãe solteira e sobrevivente de abuso psicológico. Obrigada a fugir de casa no meio da noite com sua filha pequena, Alex não possui nenhuma estrutura familiar que possa lhe conceder algum tipo de apoio, tornando sua vida ainda mais complicada.

    Nos Estados Unidos do American Dream, tão romantizado pela elite mundial, Alex precisa trabalhar em condições precárias, com um péssimo salário e sem nenhum tipo de estabilidade, dobrando turnos de limpeza como faxineira para ter como alimentar sua filha e pagar uma moradia. Obviamente ela só consegue fazer uma das duas coisas.

    Maid navega pelas diversas dificuldades de Alex, ao mesmo tempo que explora temas como traumas da infância, abuso doméstico e as consequências na vida de um jovem adulto. Os produtores de Maid, que são conhecidos por projetos como Shameless e o Oscarizado Promising Young Woman, acertam mais uma vez ao apostar nessa minissérie coesa e impactante.

    Desde o primeiro episódio, a série de Molly Smith Metzler faz um excelente trabalho em não glamourizar o sofrimento e o esforço de Alex para superar suas dificuldades. Em um mundo que, cada vez mais, prega-se o conceito de meritocracia em meio a situações de extrema desigualdade social, tornar a jornada de Alex em algo cru e brutal é essencial. A série reforça o entendimento de que não há nada de belo e admirável em ter que escolher entre almoçar ou comprar absorvente.

    CRÍTICA - Maid (Minissérie, 2021, Netflix)

    Toda a relação de Alex e Maddy é o pilar que sustenta a história, mas os personagens secundários conseguem adicionar ainda mais camadas a já tão sofrida trajetória da dupla. Com uma mãe instável, um ex-marido alcoólatra e um pai ausente, Alex parece não ter absolutamente nenhum exemplo a seguir, ao mesmo tempo em que usa essas figuras como referência de como não ser com sua filha.

    Um ponto importante é a forma como os roteiristas conseguem acrescentar elementos que corroboram o sentimento de impotência da personagem. A aula para mães, ministrada por um homem, onde elas aprendem a como ser mães é provavelmente uma das maiores ironias do roteiro.

    A burocracia governamental para conseguir qualquer auxílio, e a forma como as pessoas são tratadas após receberem esses benefícios, são outros instrumentos relevantes na construção da história de Alex.

    O trabalho da minissérie em explicar que abuso psicológico também é violência doméstica é um ensinamento fortíssimo e necessário. Nem todas as mulheres entendem que, se elas vivem sob poder de um homem, perdem autonomia financeira, liberdades constitucionais e são constantemente assediadas, isso tudo representa violência doméstica.

    Todas as incongruências no sistema jurídico dos Estados Unidos também aparecem por aqui. Se uma vítima precisa de apoio, e o governo afirma que está lá para ajudá-la, ela não deveria passar por humilhações durante o processo. O trabalho de Metzler e sua equipe de roteiristas é muito bem conduzido, e a história se desenrola com naturalidade, tornando a produção um conteúdo fácil de maratonar, apesar de abordar assuntos densos.

    Todo o elenco da série está de parabéns, pois demonstram uma ótima química em cena. Destaque para as excelentes Margaret Qualley e Andie MacDowell. Andie, mesmo lidando com uma personagem tão caricata como Paula, consegue entregar ótimos momentos com Margaret. Paula é a personagem mais complexa, e sua condição se torna ainda mais evidente conforme vamos conhecendo seus traumas e experiências do passado.

    Margaret dá vida a uma Alex gentil, porém extremamente desconfiada de tudo e de todos. A atriz constrói uma personalidade única para essa personagem, de apenas 25 anos, que precisa lidar com abandonos e abusos sucessivos ao longo de toda sua vida.

    Um dos grandes méritos de Maid é tocar as pessoas utilizando apenas a realidade, sem fantasiar acontecimentos. Todas as mulheres conseguem se identificar com pelo menos uma das situações retratadas em tela. Todas as pessoas deveriam sentir empatia e buscar mudar o sistema em que vivemos hoje.

    Se os Estados Unidos é a “terra dos livres e lar dos bravos”, que tipo de liberdade é essa que aprisiona, empobrece e dilacera aqueles que mais precisam?

    VEREDITO

    Mesmo transitando por momentos de felicidade e contemplação, Maid é uma série forte e impactante, que merece muito reconhecimento. Com um ótimo roteiro e atuações marcantes, torço que ela apareça na próxima temporada de premiações.

    Nossa nota

    4,5/5,0

    Assista ao trailer:

     

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