CRÍTICA – X-Ray (1ª temporada, 2021, Netflix)

    X-Ray é a nova série indiana do catálogo da Netflix. Criado por Sayantan Mukherjee, o seriado antológico é composto de quatro episódios que adaptam contos do diretor e escritor Satyajit Ray. Com média de 50 minutos por episódio, a produção é uma mistura de sátira, drama e situações bizarras.

    SINOPSE

    De uma sátira a um suspense psicológico, quatro contos do célebre escritor Satyajit Ray são adaptados para as telas nesta série.

    ANÁLISE

    X-Ray certamente não é uma série que está no radar do grande público da Netflix. Ela é uma daquelas produções que fica escondida no meio da imensidão de conteúdos disponíveis na plataforma. Entretanto, sua premissa me chamou a atenção, principalmente por adaptar contos do famoso cineasta Satyajit Ray.

    As histórias de X-Ray ficam entre o drama, o suspense e o absurdo. Os episódios Bahrupiya e Forget Me Not se encaixam perfeitamente na definição de absurdo, pois as situações mesclam elementos de fantasia e horror em situações que seriam críveis. Se esses episódios estivessem ancorados em elementos tecnológicos, eles poderiam ser encaixados facilmente em alguma temporada de Black Mirror.

    O episódio Forget Me Not é certamente o pior e, infelizmente, a temporada inicia com ele. Com um suspense bem construído, a ideia do episódio é ótima. Um homem que nunca esquece nada passa a esquecer nomes, pessoas e lugares por onde esteve. O plot twist está no final da trama, quando descobrimos o que de fato está acontecendo com a vida de Ipsit Rama Nair (Ali Fazal).

    É exatamente no desfecho que se dá a derrocada do episódio. Com péssimas escolhas criativas – incluindo uma cena super machista -, a condução de Forget Me Not perde tudo em seus últimos minutos. Vale ressaltar que todas as representações femininas nos episódios de X-Ray são bem contestáveis, puxando sutilmente para uma perspectiva de vilanização da mulher.

    CRÍTICA - X-Ray (1ª temporada, 2021, Netflix)

    A história de Bahrupiya, por outro lado, é interessante e realmente prende a nossa atenção. Os conflitos do personagem Indrashish (Kay Kay Menon), que mais parece um incel de meia idade, tem um desfecho bem satisfatório. Apesar do design das caracterizações não ser muito bom, o roteiro consegue construir uma grande tensão, encontrando seu ponto alto nos últimos minutos de duração.

    Os outros dois episódios, Hungama Hai Kyon Barpa e Spotlight, são menos absurdos e focam bastante em temas existenciais. Não que Bahrupiya não tenha boas reflexões, mas sua veia para a bizarrice se sobressai.

    Hungama Hai Kyon Barpa é provavelmente o meu favorito da temporada. Baseado no conto Barin Bhowmick’s Ailment, o episódio conta a história de dois homens que dividem uma cabine no trem. Quando Musafir Ali (Manoj Bajpayee) percebe que já encontrou o seu colega de cabine em um outro momento de sua vida, a trama ganha tons dramáticos e divertidos. Contando com pouquíssimas locações, todo o entretenimento do episódio fica a cargo das atuações de Manoj Bajpayee e Gajraj Rao, e eles se saem muito bem.

    Para fechar, Spotlight conta a história de um jovem ator chamado Vikram “Vik” Arora (Harshvardhan Kapoor). Extremamente mimado e com síndrome de Deus na terra, o menino se recusa a dividir as atenções com uma figura religiosa local chamada Didi. Em meio à crise de ego de Vik, o episódio escalona sua tensão para um desfecho inacreditável.

    CRÍTICA - X-Ray (1ª temporada, 2021, Netflix)

    Acredito que todas as histórias possuem uma mesma ótica, que é a análise do ser humano por meio de metáforas absurdas. Entretanto, nem todas as execuções possuem o mesmo impacto, mesmo que seu material base tenha um grande senso de unidade.

    As melhores execuções, a meu ver, estão nos contos Hungama Hai Kyon Barpa e Bahrupiya, pois além das histórias não terem pontas soltas, elas conseguem trabalhar bem seus elementos chave (humor e suspense, respectivamente), entregando uma boa “moral da história”.

    Vale ressaltar como ponto positivo a construção de cenários e sets da temporada. Cada capítulo possui uma estética única, trabalhando elementos distintos nas composições das empresas, prédios, hotéis e outros espaços retratados. Entretanto, toda essa beleza visual não é explorada da melhor forma, pois a edição das cenas não nos permite aproveitar por muito tempo essas locações.

    VEREDITO

    X-Ray é uma série antológica interessante e pode abrir caminho para a adaptação de outros contos de Satyajit Ray. O saldo dessa primeira temporada é mediano, com dois episódios bons e dois episódios abaixo do esperado.

    Nossa nota

    2,5/5,0

    Assista ao trailer:

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