The Hand of God – A Mão de Deus (È stata la mano di Dio, no idioma original), ou simplesmente A Mão de Deus, é um filme original da Netflix dirigido por Paolo Sorrentino (A Grande Beleza) e lançado no serviço de streaming em 15 de dezembro de 2021. Protagonizada por Filippo Scotti, a obra do gênero coming-of-age também tem em seu elenco Toni Servillo, Teresa Saponangelo, Renato Carpentieri, Luisa Ranieri e Betty Pedrazzi.
A produção italiana está entre as 15 semifinalistas em busca de uma nomeação à categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2022. Os indicados deverão ser conhecidos em 8 de fevereiro de 2022.
SINOPSE DE A MÃO DE DEUS
Na Nápoles dos anos 80, um jovem louco por futebol se vê diante de uma tragédia familiar que define seu futuro incerto, porém promissor, como cineasta.
ANÁLISE
A Mão de Deus é um filme que facilmente pode ser analisado por duas perspectivas separadamente: atributos técnicos e roteiro. Isso faz ainda sentido se você não é um ávido conhecedor da filmografia e da história pessoal de Paolo Sorrentino. Esse é o meu caso, e seguirei essa lógica.
Primeiramente, os pontos técnicos. A direção de Sorrentino é muito competente, tanto pela condução da grande variedade de personagens apresentados na trama, como pela fotografia da produção, que destaca muito bem as belezas naturais e estruturais de Nápoles. Chega a ser tentador viajar para a Itália, conhecer a bela cidade e ainda mergulhar pelas calmas águas que banham o local.
Sorrentino também extrai o melhor de seu vasto elenco. Destaque para o ator principal, Filippo Scotti, que interpreta Fabietto Schisa; e aos intérpretes das personagens Maria Schisa (Teresa Saponangelo), Patrizia (Luisa Ranieri), Baronessa Focale (Betty Pedrazzi) e Saverio Schisa (Toni Servillo). A verdade é que todos atores e todas atrizes de A Mão de Deus estão muito bem em seus papéis, mas essas personagens são as que mais se destacam na história e também por suas atuações.
O jovem Scotti, de apenas 22 anos, dá vida a um personagem desafiador: Fabietto, a personificação da juventude do diretor. O ator conduz bem uma trama que tem seus problemas de roteiro, que explicarei em seguida. No entanto, não há o que retocar na atuação do rapaz, que transita muito bem entre cenas de mais atividade – especialmente as relacionadas à sua paixão por futebol – e momentos de drama e introspecção.
Luisa Ranieri também merece importante reconhecimento. A história começa por Patrizia e, embora não seja a principal, a personagem cumpre funções importantes para o desenvolver da trama, e entrega uma personagem audaciosa e corajosa, tanto em momentos em que usufrui plenamente sua liberdade, como em situações de brigas e de dúvidas sobre sua sanidade mental.
Apesar dos méritos de direção e fotografia, o roteiro é uma miscelânea que, provavelmente, somente fará sentido para quem conhece bem a filmografia e a vida de Paolo Sorrentino.
O roteiro inchado de A Mão de Deus
Não quero dar spoilers, mas é curioso notar que a tragédia familiar mencionada na sinopse oficial da Netflix demora muito para acontecer. O filme possui 2h10min de duração, e até que o fato ocorra muitas outras situações acontecem tanto com o personagem principal, como com seus familiares. Essas situações se desenrolam quase sempre pela visão de terceiros, e não de Fabietto, mas sempre tentando criar um contexto de como o protagonista percebe os acontecimentos.
Por ser um filme coming-of-age, é natural que a confusão do amadurecimento da adolescência para a vida adulta seja retratada em tela. No entanto, em A Mão de Deus me parece que Sorrentino se baseou muito na sua própria experiência em Nápoles e como fã de futebol (e de Maradona), mas agregou elementos um tanto bizarros que tornam a narrativa enrolada e pouco atrativa. Há também o uso de CGI em cenas pontuais que, no meu ponto de vista, traduzem bem esse excesso de informações que incham o filme.
Mesmo com problemas que deixam a narrativa arrastada e pouco interessante, A Mão de Deus pode gerar alguma reflexão, especialmente sobre temas como autoconhecimento e liberdade individual.
Recomendo que você assista ao especial de 8 minutos The Hand of God: Pelos Olhos de Sorrentino, que reproduz na Netflix após o encerramento do filme, para poder desenvolver melhor e desatar, de certa forma, os nós que o diretor deu e truncou a experiência. No curta é possível perceber que Paolo Sorrentino se encantou pelo retorno a Nápoles, cidade onde morou por 37 anos, e se deixou levar pelo que viveu (e pelo que queria ter vivido, talvez), dando asas à imaginação de modo que o diretor alçou voos para rumos distantes que não agregaram pontos positivos à história.
VEREDITO
Com um título que remete ao lendário Maradona, The Hand of God: A Mão de Deus é um filme tecnicamente cheio de méritos, especialmente em relação à fotografia e à direção do elenco, mas que peca em seu roteiro. A narrativa possui diversos acontecimentos que pouco acrescentam à ambientação desse coming-of-age italiano. Apesar disso, é um entretenimento interessante, principalmente para fãs do cinema europeu e quem deseja conhecer a filmografia de Paolo Sorrentino.
Infelizmente para o Brasil o filme Deserto Particular (Aly Muritiba) não passou para a seleção de 15 semifinalistas para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2022. Também para o azar do público brasileiro o indicado do país não foi 7 Prisioneiros (Alexandre Moratto), também da Netflix, produção estrelada por Rodrigo Santoro e Christian Malheiros. Ambos poderiam se sair melhor na temporada de premiações em comparação ao que A Mão de Deus entrega, especialmente 7 Prisioneiros, por conta da excelente história provocativa criada por Alexandre Moratto.
3,2 / 5,0
Assista ao trailer de The Hand of God – A Mão de Deus:
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