CRÍTICA – Men: Faces do Medo (2022, Alex Garland)

    Desde os primeiros os filmes de terror lançados, o gênero contava com um claro aspecto punitivo. Elencando quase sempre os horrores da época por meio de metáforas, ou símbolos quase sempre não tão claros, as personagens femininas quase sempre eram colocadas em um local de perigo. Mas isso mudou quando Sally (O Massacre da Serra Elétrica) e Laurie Strode (Halloween) chegaram aos cinemas.

    O horror foi atualizado e chegou os dias de hoje com diferentes subgêneros. Men: Faces do Medo dá um claro exemplo da nossa violenta sociedade que a cada dia mais, exacerba e explora os elementos cujas narrativas violentas colocam as mulheres quase sempre como seu foco, ou alvo.

    SINOPSE

    Na sequência de uma tragédia pessoal, Harper retira-se sozinha para uma zona rural inglesa, esperando ter encontrado um lugar onde possa recuperar. Mas alguém ou algo dos bosques circundantes parece persegui-la. O que começa como um pavor latente torna-se um pesadelo formado, habitado pelas suas memórias e medos.

    ANÁLISE

    Um dos elementos do mais novo filme da A24 que mais me deixaram curioso ao longo de seu trailer, foi o fato do ator Robert Kinnear (Penny Dreadful, 007 – Sem Tempo Para Morrer) dar vida à quase todos os personagens masculinos do filme, mas enquanto o longa se desenrola entendemos esse motivo.

    Estrelado por Jessie Buckley (Estou Pensando em Acabar com Tudo, A Filha Perdida) o filme nos leva por um trauma feminino, caracterizada pela violência sofrida diariamente – seja física ou psicológica -, a trama desenrola os perigos que as mulheres podem vir a sofrer a qualquer momento.

    Men

    Muito distante de se caracterizar como uma trama “feminista” como muitos portais têm apontado nas últimas semanas, o longa se caracteriza como um horror distante e quase incompreensível para homens – mesmo que esse horror seja causado exatamente por eles. Acredito que esse seja em seu cerne uma exploração da masculinidade tóxica enquanto explora arquétipos, clichês e os horrores enfrentados pelas mulheres de um modo geral.

    O uso de Robert Kinnear na trama é explicado para além de sua estranheza e seu talento, a forma como o ator representa as mais diversas facetas dos indivíduos da pequena Cotson. Exemplifica que os “cidadãos” de bem, ou “homens comuns” significam para as mulheres muito mais do que apenas pessoas normais, com quem podem conviver.

    Enquanto “brinca” com cerca de 8 ou 9 personagens, alguns deles completamente sem falas – e quase todos eles vividos por Robert Kinnear -, Alex Garland propõe uma trama sobre a violência sobre o corpo do outro, sem qualquer consequência, violência desmedida e caracterizada pela força de uma trama que apenas o diretor – também roteirista do filme -, consegue fazer seus atores brilharem.

    VEREDITO

    Com muito horror psicológico, violência gráfica e gore, o filme nos leva por uma trama atual que mostra sua significância em seus confusos atos. Mostrando ainda a propensão masculina à violência em relação ao corpo feminino, Garland nos mostra que invariavelmente, todo homem tem a mesma propensão à violência.

    Com arcos que não param de crescer, mesmo perto de seu final, Men: Faces do Medo exacerba sua violência e o que há de mais gráfico na empreitada de Harper de sobreviver diante da violência que insiste em cercá-la o tempo todo, e sem medo de colocar o horror diante de seus olhos, Alex Garland conta uma história que vai além da sutileza do início e passa uma mensagem clara em seu final.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Confira o trailer do filme:

    Men: Faces do Medo pode ser assistido em cinemas de todo o Brasil.

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