“Eu sou um cara bem comum, com uma personalidade típica de Nova Jersey. Eu não exalo aristocracia ou intelectualismo, mas eu tento dar a esse cara comum alguma faceta extraordinária.” (Jack Nicholson)
Completando hoje seus 85 anos, Jack Nicholson não se limita à carreira de um grande ator, mas conjuga-se à própria história do cinema e do século XX. Figura de personalidade marcante, Nicholson colecionou prêmios e polêmicas em décadas de carreira, vivendo, por trás das câmeras, de maneira tão intensa quanto seus personagens que ele ajudou a trazer à luz.
Hoje vamos desvendar com fluidez esse ícone, que não apenas escreveu seu nome na célebre Calçada da Fama de Hollywood, mas deixou uma marca indelével em sua época.
Nascido em 22 de abril de 1937, em Neptune, Nova Jersey, filho de uma dançarina com um suposto artista do ramo. Devido à carreira da mãe, Jack foi criado pelos avós maternos John e Ethel.
REVELAÇÕES FAMILIARES
Nicholson cresceu acreditando que os avós eram, na realidade, seus pais. Quando bebê, a avó pediu para cuidar dele no lugar de June, de 17 anos, para ela continuar a carreira de dançarina. Com isso, o ator acreditava ser irmão mais novo da verdadeira mãe.
A revelação demorou muito e veio de maneira trágica. Jack Nicholson descobriu em 1974, por meio de um jornalista da Time, quem estava escrevendo uma matéria sobre ele devido ao lançamento de Chinatown. Na época, os verdadeiros avós e a mãe já haviam morrido, e o ator acabou não descobrindo quem era o próprio pai. Mesmo com o grande drama familiar, Jack nunca saiu dos holofotes ou se afastou da carreira.
INÍCIO DE CARREIRA
Na década de 50, ainda adolescente, ele conseguiu um trabalho de assistente no estúdio de animação de William Hanna e Joseph Barbera, a MGM, e chegou a receber uma oferta para crescer na área. No entanto, Nicholson preferiu seguir o sonho de ser ator, e em 1955, conquistou seu primeiro papel na série de televisão Tales of Wells Fargo. Depois disso, fez parte de um grupo de atores no teatro Players Ring, localizado em New Hampshire, um treinamento que garantiu trabalhos nos palcos e em novelas, até sua estreia no cinema como protagonista do filme The Cry Baby Killer (1958).
AS 10 MELHORES PERFORMANCES DE JACK NICHOLSON
Sem Destino (1969)
Wyatt (Peter Fonda) e Billy (Dennis Hopper) são motoqueiros que viajam pelo sul dos Estados Unidos. Após levarem drogas do México até Los Angeles, eles as negociam com um homem em um Rolls-Royce. Com o dinheiro a dupla parte rumo ao leste, na esperança de chegar a Nova Orleans a tempo para o Mardi Grass, um dos Carnavais mais famosos em todo o planeta.
Apesar do filme ter uma curta participação de Jack Nicholson, o seu personagem George Hanson, calmo, de sotaque e já com um humor espevitado, toma o filme pra si e domina a situação sempre que está em cena.
Chinatown (1974)
Jack Nicholson é o detetive Jake Gittes, sobrevivendo no clima ensolarado e de moral obscura, na Califórnia do período anterior à guerra. Contratado por uma bela socialite (Faye Dunaway) para investigar o caso extraconjugal de seu marido, Gittes é colhido num furacão de situações dúbias e tradições mortais, desvendando uma teia de escândalos políticos e pessoais, que se chocam em uma única e inesquecível noite em Chinatown.
A presença de Nicholson está em praticamente 100% do filme, dominando tudo. É uma aula, finalizada com toque de classe. O filme é sempre citado no topo das obras do gênero noir – o longa é um dos filmes preferidos do grande público no IMDb.
PUBLICAÇÃO RELACINADA – TBT #129 | Chinatown (1974, Roman Polanski)
Profissão: Repórter (1975)
David Locke (Jack Nicholson) é um jornalista em viagem ao Deserto do Saara para reportar sobre as guerrilhas que acontecem no local. No hotel, ele conhece um homem muito parecido com ele que morre repentinamente. Querendo livrar-se dos seus problemas e mudar sua vida, David resolve assumir a identidade do falecido na espera de levar uma vida mais interessante.
O longa foi um dos fatos que tornaram Nicholson em uma estrela já nos anos 70. À medida que David Locke explora sua nova identidade e o modo de vida à ela forjado, perpassa também cenários lindos, mais movimentados ou essencialmente pacatos, que rendem enquadramentos comoventes e reforçam a dimensão da solidão. A cena final é uma obra de arte à parte.
Um Estranho no Ninho (1975)
Randle McMurphy (Jack Nicholson), um prisioneiro, simula estar insano para não trabalhar e vai para uma instituição para doentes mentais, onde estimula os internos a se revoltarem contra as rígidas normas impostas pela enfermeira-chefe Ratched (Louise Fletcher), mas ele não tem ideia do preço que irá pagar por desafiar uma clínica “especializada”.
A saga do McMurphy simboliza que a luta contra um sistema injusto muitas vezes custa caro, mas esse inconformismo é necessário e pode gerar uma semente de mudança nos que ficam.
O filme que deu o primeiro Oscar de Melhor Ator para Jack, e numa fase de sua vida em que ele estava no auge de sua forma, é definitivamente um dos trabalhos mais inesquecíveis e cativantes na história do cinema.
O Iluminado (1980)
Jack Torrance (Jack Nicholson) se torna caseiro de inverno do isolado Hotel Overlook, nas montanhas do Colorado, na esperança de curar seu bloqueio de escritor. Ele se instala com a esposa Wendy (Shelley Duvall) e o filho Danny (Danny Lloyd), que é atormentando por premonições. Jack não consegue escrever e as visões de Danny se tornam mais perturbadoras. O escritor descobre os segredos sombrios do hotel e começa a se transformar em um maníaco homicida, aterrorizando sua família.
O longa magistral de Stanley Kubrick que adapta o livro de Stephen King é considerado uma das melhores obras do horror. Muita gente reclama do exagero da atuação de Nicholson, seu histrionismo, suas caras e caretas. Reclamam que isso torna óbvio sua descida à loucura. No entanto, isso é em parte injustiça e em parte incompreensão sobre o que é O Iluminado. É um filme que desafia os sentidos, que nos faz mergulhar em mundo do qual temos até dificuldade de voltar tamanha é a imersão que a fita proporciona.
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Ironweed (1987)
Francis Phelan (Jack Nicholson) e Helen Archer (Meryl Streep) são dois alcoólatras que têm a difícil missão de sobreviver ao próprio passado. Francis vive com o trauma de ter deixado o seu filho cair no chão 22 anos antes, enquanto Helen vive a depressão de ser uma antiga cantora de rádio sem sucesso.
O drama rendeu duas indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Ator para Nicholson e Melhor Atriz para Meryl Streep. A dupla consolidou um ótimo entrosamento, enquanto ele exibe no olhar marejado o eterno luto de vida; ela, quase sempre parece estar prestes a desfalecer – uma “morta-viva”, empurrada pelo destino.
Batman (1989)
Em Gotham City, um milionário (Michael Keaton), que quando jovem teve os pais assassinados por bandidos, resolve combater o crime como Batman, o Homem-Morcego. Mas o vilão Coringa (Jack Nicholson) decide dominar a cidade e se torna um grande desafio para o super-herói.
O prestígio Nicholson já tinha de trabalhos anteriores, então aqui ele simplesmente se diverte e, é claro, enriquece com um acordo que lhe garantia uma porcentagem da bilheteria. Batman foi um fenômeno sem precedentes e introduziu ao mundo os blockbusters, onde podemos afirmar que o longa de Tim Burton elevou o jogo a outro patamar (com uma das campanhas de marketing mais agressivas e pioneiras da história).
Questão de Honra (1992)
Após um soldado morrer acidentalmente em uma base militar, depois de ter sido atacado por dois colegas da corporação, surge a forte suspeita de ter existido um “alerta vermelho”, uma espécie de punição extraoficial na qual um oficial ordena a subordinados seus que castiguem um soldado que não tenha se comportado corretamente. Quando o caso chega aos tribunais, um jovem advogado (Tom Cruise) resolve não fazer nenhum tipo de acordo para tentar descobrir a verdade.
Aqui, Nicholson mostra mais uma vez do que é capaz. Mesmo com pouco tempo, ele rouba a cena total e tem de longe a melhor performance do filme, com sua interpretação de um coronel forte, intimidador e histérico, Jack conseguiu uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante.
Melhor é Impossível (1997)
Em Nova Iorque, um escritor grosseiro e sarcástico (Jack Nicholson) tem como alvos principais um artista homosexual (Greg Kinnear), que é seu vizinho, e uma garçonete (Helen Hunt) que enfrenta problemas por ser mãe solteira e ter que se desdobrar para cuidar de seu filho, que tem asma crônica. Mas o destino vai fazer com que eles fiquem muito mais próximos do que poderiam imaginar.
Nicholson, no auge de seus 60 anos, termina a década de 90 com uma nota altíssima. Com Melvin Udall, seu personagem com TOC conquistou toda uma nova gama de fãs, demonstrando para uma geração mais recente quem era Jack Nicholson. O filme foi indicado para 7 Oscars, e levou os prêmios de Melhor Ator para Nicholson e Melhor Atriz para Helen Hunt, seu par no longa.
Os Infiltrados (2006)
A polícia trava uma verdadeira guerra contra o crime organizado em Boston. Billy Costigan (Leonardo DiCaprio), um jovem policial, recebe a missão de se infiltrar na máfia, mais especificamente no grupo comandado por Frank Costello (Jack Nicholson). Aos poucos Billy conquista sua confiança, ao mesmo tempo em que Colin Sullivan (Matt Damon), um criminoso que foi infiltrado na polícia como informante de Costello, também ascende dentro da corporação.
Aqui, finalmente Jack Nicholson e Martin Scorsese conseguiram concretizar a tão aguardada parceria, com ambos já na terceira idade, em fases maduras de suas carreiras. Jack faz um arco de vilão muito coerente, com seus trejeitos clássicos/nostálgicos, que o torna quase impossível de ser odiado.
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