Deserto Particular escrito e dirigido por Aly Muritiba (O Caso Evandro) foi o escolhido para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2022. No elenco estão Antônio Saboia e Pedro Fasanaro.
SINOPSE
Daniel (Antônio Saboia) é um policial exemplar, mas acaba cometendo um erro que coloca em risco sua carreira e sua honra. Quando nada mais parece o prender a Curitiba, ele parte em busca de Sara (Pedro Fasanaro), uma mulher com quem se relaciona virtualmente. Ele então mergulha em um intenso processo interno para aprender a lidar melhor com seus próprios afetos.
ANÁLISE
O filme escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil no Oscar 2022 fala sobre uma relação intrínseca. Deserto Particular confronta duas realidades completamente diferentes que ao se encontrarem provocam o âmago de seus protagonistas. É um filme paciente que sabe como quer contar sua história, tanto narrativamente, como visualmente.
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Pode parecer que Deserto Particular demora para acontecer, afinal, seu título só sobe em tela após meia hora de filme, quando o policial Daniel (Antônio Saboia) decide ir em busca de sua paixão virtual. Porém, é nesse tempo que o espectador passa com Daniel que entende-se o quanto esse personagem vive em um mundo apático.
Os dias se tornam difíceis, entre os cuidados do pai e o afastamento da política devido a um excesso de violência. Sua única saída daquele universo tão sem cor, que fica expresso na escolha em representar uma Curitiba descolorida, é Sara, uma mulher com quem Daniel conversa virtualmente.
É na falta de Sara, que abruptamente para de responder Daniel, que o policial decide embarcar em uma viagem para o interior da Bahia atrás da amada. Dessa forma, Deserto Particular se inicia de forma despretensiosa e paciente, como roteirista Aly Muritiba apresenta personagens consistentes e transparentes.
Antônio Saboia como Daniel deixa de lado os estereótipos de policial, apesar do corpo másculo, apresenta um persona mais reservada, contida que sente dificuldades em se abrir completamente. Vide a cena, onde Daniel por não conseguir se expressar com seu pai acaba por quebrar o gesso do braço a duras batidas em uma pedra.
Da mesma forma, o encontro com a mulher dos seus sonhos, Sara (Pedro Fasanaro), que é uma mulher transgênero, é um momento de desaprovação para os conceitos machistas de Daniel. Sara/Robson pergunta por vezes, “O que eu sou?” para Daniel, que mudo não consegue responder. É no silêncio e também na trilha sonora melancólica que Muritiba faz o espectador refletir sobre o impacto de diferentes vivências e especificamente, sobre os anseios dos indivíduos LGTBQIA+.
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A estética queer aparece pouquíssimas vezes no longa, mais presentes nas boates que Daniel e Sara se encontram e dançam juntos. O que há de fato em Deserto Particular é a exploração dos tons típicos do deserto, como quem mostra uma realidade LGTBQIA+ muito diferente dos filmes coloridos, visto que, estamos no interior da Bahia.
Mas, de certa forma, Deserto Particular também quer atenuar a imagem de Daniel, o sensibilizá-lo e desfazer seu estereotipo de homem branco e hetero. Por isso, um breve deslumbre de uma cena de sexo entre dois homens, com a qual, o espectador pode finalmente se comover por Daniel.
Logo, o filme de Aly Muritiba é tão pouco objetivo, como subjetivo. Sua direção evidencia planos abertos de forma a complementar personagem e ambiente. Dessa maneira, existe em Deserto Particular uma singularidade difícil de desvendar, que por vezes pode incomodar por não evidenciar um rumo direito, mas que sem dúvida chega a sua totalidade.
VEREDITO
Deserto Particular é um filme visualmente belo que sabe aproveitar bem seus personagens e não têm pressa em se desenvolver. É uma história de amor, mas com um certo drama que coloca o espectador para refletir sobre vivências, desventuras e o próprio indivíduo.
4,0 /5,0
Confira o trailer de Deserto Particular:
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