CRÍTICA – Ela Disse (2022, Maria Schrader)

    Ela Disse (She Said) é a adaptação de Maria Schrader e Rebecca Lenkiewicz do livro de mesmo nome escrito pelas jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey. O longa acompanha as duas repórteres durante a investigação dos crimes cometidos pelo produtor Harvey Weinstein.

    Confira nossa crítica sobre a produção que estreia nos cinemas do Brasil no dia 8 de dezembro.

    SINOPSE DE ELA DISSE

    As repórteres do The New York Times Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan) contam uma das histórias mais importantes de uma geração – uma história que ajudou a iniciar um movimento e quebrou décadas de silêncio sobre o assunto de agressão sexual em Hollywood.

    ANÁLISE

    Em outubro de 2017, o artigo escrito por Megan Twohey e Jodi Kantor foi o início de um efeito cascata em Hollywood. Junto ao artigo escrito por Ronan Farrow, e publicado no The New Yorker na semana seguinte ao das jornalistas, a investigação se tornou a peça principal para colocar atrás das grades um dos maiores produtores da história do cinema.

    Acontecimentos tão relevantes quanto esses acabam, eventualmente, se tornando livros e filmes. No caso de todos os jornalistas citados acima, o trabalho nessas matérias envolveu uma série de ameaças, perseguições e até ataques hackers. Apenas a ideia de investigar Weinstein já configurava um risco de vida para esses profissionais, que colocaram sua segurança em jogo para trazer a verdade à tona.

    Em Ela Disse, a roteirista Rebecca Lenkiewicz costura todos os acontecimentos da vida de Jodi e Megan antes e durante a investigação contra Weinstein. Além de apresentar as personagens e tudo o que envolve a vida profissional e pessoal delas, a trama ainda precisava apresentar todas as vítimas, suas histórias e o caminho percorrido pelas jornalistas para que a matéria finalmente fosse publicada.

    O longa acaba se apoiando muito em seu trabalho de montagem, pois as diversas pequenas cenas de contatos telefônicos, entrevistas e outras simulações que compõem os acontecimentos precisam ser construídas de forma a não tornar a produção chata e desgastante, evitando algo extremamente burocrático.

    Nesse sentido, Ela Disse consegue ter uma boa execução, encontrando alguns momentos importantes que conseguem emocionar a audiência. Poucas são as cenas que são inseridas apenas para confirmar um ponto ou reforçar um discurso, algo que parece estar ali gratuitamente. Quando acontecem, ficam deslocadas, e você é afastado da experiência num geral.

    O filme parece seguir uma cartilha minuciosa, como a própria investigação das jornalistas, para encontrar um resultado satisfatório. Não há nada muito ousado, ou que entregue alguma cena que você vá lembrar com grande empolgação após assistir. O ritmo é sempre o mesmo, sem altos e baixos, mas bem executado pela dupla de atrizes principais.

    Maria Schrader (Nada Ortodoxa) faz uma boa condução do seu elenco durante os 129 minutos de duração, ainda mais com uma atriz tão competente quanto Carey Mulligan (Bela Vingança) no núcleo principal. Mesmo com diálogos longos e cenas que poderiam ser entediantes em alguns momentos, Schrader tira o melhor das situações quando Mulligan e Zoe Kazan estão juntas.

    As cenas conduzidas com as atrizes que interpretam as vítimas Weinstein também são comoventes, e aqui a edição do longa também trabalha bastante para criar um senso de unidade entre simulação do passado e relatos do presente. O fato do longa não ter nenhuma cena de violência sexual é um grande acerto, bem como a escalação de Ashley Judd para interpretar ela própria, dando espaço para a atriz contar sobre sua própria experiência.

    Apesar de todo o sofrimento e angústia que essas as vítimas e os profissionais envolvidos nessa investigação sofreram, Ela Disse serve para nos lembrar que Hollywood segue a mesma. O fechamento do longa, que elenca algumas “vitórias” no caso Weinstein, deixa uma sensação amarga quando analisamos a indústria nos anos seguintes ao #MeToo.

    VEREDITO

    Ela Disse (She Said) é um filme lento e linear, que não apresenta cenas e atuações memoráveis, mas que cumpre o que se propõe a fazer. A direção e as escolhas criativas de Maria Schrader são interessantes, pois colocam o poder nas mãos das mulheres e fogem dos clichês de alguns filmes jornalísticos. Mesmo sem cenas marcantes, as atuações de Carey Mulligan e Zoe Kazan estão ótimas.

    Nossa nota

    3,7 / 5,0

    Assista ao trailer:

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