Um Lobisomem Americano em Londres: 40 anos do clássico

    Ninguém sabe a fórmula de um clássico, esses filmes simplesmente acontecem, um filme surge e marca época de uma maneira que ninguém esperava, é o que aconteceu com Um Lobisomem Americano em Londres, um dos filmes que ajudou a definir o cinema dos anos 80 e que ainda é uma referência e inspiração para o gênero.

    Escrito e dirigido por John Landis, a produção é um filme muito querido. Seus efeitos especiais, seus personagens carismáticos e sua história aterrorizante fizeram com que o filme ficasse marcado na memória de seus espectadores mesmo depois de 40 anos de seu lançamento.

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    ENREDO

    David Kessler (David Naughton) e Jack Goodman (Griffin Dunne), dois estudantes americanos, estão de férias na velha Inglaterra, viajando de carona, e acabam passando ao anoitecer no vilarejo remoto East Proctor. Ao entrar na taberna local, O Cordeiro Massacrado (que tem um pentagrama de proteção pintado numa das paredes, entre duas velas), tem uma recepção hostil por parte dos habitantes locais, que não querem interagir com nada nem ninguém de fora. Não se sentindo bem-vindos, eles vão embora, atravessando a floresta em plena noite de lua cheia (apesar das recomendações para permanecerem na estrada).

    Após começarem a ouvir uivos cada vez mais próximos, eles são atacados por um animal violento, que trucida Jack e morde David, que escapa apenas porque alguns habitantes do vilarejo atiram na besta. David, desorientado de dor, pouco antes de desmaiar, olha para onde deveria estar o animal morto e vê apenas um homem nu baleado múltiplas vezes.

    PROCESSO CRIATIVO

    Rick Baker, responsável pela figura monstruosa e por uma das melhores transformações de lobisomens já vistas no cinema, acabou discutindo diversas vezes com o diretor John Landis, a começar pela aparência da criatura. Landis queria que o lobisomem se parecesse com um cão monstruoso do Inferno, em suas quatro patas; enquanto Baker acreditava que a criatura deveria ser bípede, já que, para ele, lobisomens são seres que andam em duas pernas. 

    Desde o início da ideia, o diretor John Landis avisou que queria Rick Baker como o responsável pela maquiagem e efeitos visuais. Mas, depois de tantos anos, Baker ficou cansado de esperar a produção do filme iniciar e assumiu o cargo em Gritos de Horror (1981). Quando Landis ligou para Baker e finalmente avisou que tinha o dinheiro para o filme, Baker disse que já estava em um filme de lobisomem. O que se seguiu foram gritos e xingamentos pelo telefone. Baker, por fim, resolveu largar a produção de Gritos de Horror e deixou os efeitos sob responsabilidade de seu protegido, Rob Bottin.

    SELEÇÃO CRIATIVA

    Landis pode ser considerado o mestre em criar ambientações graças ao que fez em Um Lobisomem Americano em Londres. Na cena do ataque, o som de lobo que ouvimos é composto por nove sons diferentes, incluindo um lobo, um leão e até uma locomotiva. Isso se deve ao fato de que John Landis queria um clima estranho para as filmagens noturnas. Além disso, ele queria que as gravações acontecessem em um período frio, por isso escolheu entre fevereiro e março, na cidadezinha galesa de Crickadarn. 

    E por que escolher Londres? Porque, para o diretor, Londres é a cidade do horror, com Jack, o Estripador, Jekyll e Hyde, entre outras figuras. Mas isso quase não aconteceu: Landis teve que lutar muito para conseguir as autorizações necessárias para Griffin Dunne e David Naughton. O governo britânico e a British Actors’ Equity Association (Associação de Equidade de Atores Britânicos) questionaram a necessidade de dois atores norte-americanos, e não o contrato de atores britânicos para os papéis. John Landis disse que não abriria mão de atores norte-americanos para interpretarem turistas dos Estados Unidos, e quase mudou o cenário para Paris.

    A (MELHOR) TRANSFORMAÇÃO

    Um Lobisomem Americano em Londres atinge seu ápice com a antológica cena da transformação de David em lobo. Algo jamais visto no cinema com tamanha qualidade e impacto e que jamais foi superado, seja com CGI ou assim como qualquer outro tipo de efeito. Não é a toa que Rick Baker conquistou o Oscar de Melhor Maquiagem pelo filme. Todos os detalhes da transformação são maravilhosos e impecáveis, acabando, assim, com aquela visão infame de que um lobisomem é uma criatura peluda vestida com roupas humanas. Aqui, ele vira algo horrendo, um lobo gigantesco, assustador, faminto e imparável.

    O protagonista David Naughton disse que a cena da transformação levou seis dias para ser concluída, aproximadamente dez horas por dia gastas na aplicação da maquiagem, cinco horas no set e três horas de remoção da maquiagem. Como a maquiagem demorou muito para ser aplicada e removida, havia apenas tempo suficiente para uma cena por dia. Rick Baker estimou que apenas meia hora de filmagem foi filmada durante toda a semana. A cena do focinho no grau máximo de extensão foi o último take a ser filmado e não incluiu o ator, mas uma cabeça animatrônica. 

    A mutação é o ponto chave para transformar o filme de vez. O horror toma conta em definitivo e a criatura está fora de controle. O humor desaparece e Um Lobisomem Americano em Londres não se perde. Muito pelo contrário. O suspense e a tensão durante os ataques da criatura acompanham o espectador com maestria até o seu derradeiro final, fazendo com que este não apenas seja o melhor filme de lobisomem de todos os tempos, como também um dos maiores clássicos do gênero.

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    FOTOGRAFIA E TRILHA SONORA

    A forma como o filme evoca os clássicos da Universal, se reflete nas cenas da abertura, de clima bucólico (ao som de “Blue Moon” cantada por Bobby Vinton), onde a fotografia de Robert Paynter capta a beleza melancólica da paisagem rural do norte da Inglaterra, embalada pela música de Elmer Bernstein que tem uma playlist de canções que sempre tem a palavra “moon” (lua) em suas letras.

    Além das cenas oníricas de seus sonhos, durante sua gradual transformação, e enquanto leva o seu romance com Alex (ao som de “Mondance” por Van Morrison), o clima é perpassado pela atmosfera do seu tema de suspense, que reflete o clima da taberna de East Proctor onde seus frequentadores assustados vivem procurando esconder o segredo maldito de sua comunidade.

    No cinema, ninguém viu o mito da maldição do lobisomem de forma mais impactante, dramática e assustadora do que John Landis em seu Um Lobisomem Americano em Londres. Terror físico, brutal e desesperador, o seu maior clássico, inspirado na tendência em voga da época de tirar o terror do campo sobrenatural e intangível e colocá-lo mais próximo, com cheiro de ser humano, foi responsável não apenas por criar alguma das sequências das mais sangrentas e brutais já vistas, mas também por revisar uma figura já clássica no imaginário do século vinte e dar-lhe uma nova forma e abordagem tipicamente modernas, ainda atuais e impressionantes.


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