Darmok | A importância da mitologia em Star Trek: Nova Geração

    Darmok, é o segundo episódio da quinta temporada de Star Trek: Nova Geração, lançado originalmente em 1991 demonstra de uma forma sutil e criativa um dos maiores potenciais da ficção-científica e para mim, um dos melhores capítulos de toda a série. Ao longo do episódio, continuamos acompanhando as missões exploratórias da Enterprise NCC-1701-D, sob o comando do nosso estimado Jean-Luc Picard (Patrick Stewart), que mais tarde seria conhecido por interpretar o professor Xavier.

    O capitão desta embarcação desta vez guia a nave rumo a um planeta desabitado em mais uma de muitas viagens rumo ao desconhecido. Próximo dali, existe uma raça aparentemente pacífica e enigmática, conhecido como Tamarianos ou penas Filhos de Tama, uma espécie reptiliana com um sistema de organização linguística um tanto dissemelhante, que impossibilitou para a Federação dos Planetas Unidos um contato assertivo.

    Darmok

    A espaçonave Tamariana se aproxima da Enterprise e o primeiro contato entre as duas não resulta em sucesso, pois como a linguagem utilizada por eles deixa a todos intrigados e apesar de suas palavras serem entendidas, a forma de organização continua um mistério. A comunicação sempre foi uma ideia recorrente dentro da ficção científica, de A Chegada (Denis Villeneuve, 2016), Contato (Robert Zemeckis, 1997), Contatos Imediatos de Terceiro Grau (Steven Spielberg, 1977) e Robot Monster (Phil Tucker, 1953), dentre várias outras obras.

    Os limites da comunicação perpassa as obras de ficção, lembrando do acontecimento da Pedra de Roseta que foi utilizada para entender a escrita Egípcia antiga, utilizando uma tradução cruzada feita por Jean-François Champollion em 1822, e foi uma “pedra” fundamental para entender uma língua que no século XIX era tida como morto.

    Darmok

    Data (Brent Spiner) um androide membro da tripulação da Frota Estelar informa sua análise da situação, em sua dedução positrônica, os Filhos de Tama se comunicam por uma forma derivada de uma abstração tremenda e imagética. Referindo aos elementos, pessoas e acontecimentos utilizando experiências gerais de seu povo, usando também de sua mitologia para referenciar o que acontece no tempo presente.

    Como se eu falasse “trespassou o Rubicão” como um exemplo de uma decisão onde não pudesse voltar atrás para uma a pessoa que não soubesse da chegada a Roma por Júlio César em 49 a.C, ou se eu falasse “fui tratado como sedanapo” – que significa uma situação que fui deixado de lado – para alguém que nunca tivesse ouvido Gloria Groove.

    Por esse motivo, os membros da Enterprise não conseguiam entender, pois falta uma maior completude das referências utilizadas pelos alienígenas. Assim como, se as pessoas não estão familiarizadas com os mitos de sua cultura, torna-se difícil para elas compreenderem as metáforas presentes, pois os signos desempenham um papel crucial na interpretação simbólica e na transmissão de significados profundos.

    Na década de 50 uma antropóloga chegou a uma conclusão próxima, Laura Bohannan contou Hamlet, de Shakespeare, para os moradores de uma tribo chamada Tiv, e mesmo que de forma traduzida a falta do conhecimento dos elementos de uma outra cultura impedem o entendimento de uma narrativa.

    O capitão Picard e o líder da nave alienígena Dathon (Paul Winfield) são transportados para o planeta desabitado, transporte esse motivado pelo estranho plano dos Filhos de Tama, uma tentativa de comunicação. Lá se inicia uma tentativa de diálogo o capitão Jean-luc muito ressabiado se distancia mas o Tamariano entrega uma adaga, mas ele não queria lutar. O alien fala frases estranhas como “Darmok e Jalad em Tanagra”, “usani, seu exército com seu punho aberto”, “ Darmok no oceano”. Mas no final das contas o planeta não estava tão sozinho quanto se pensava, ali habitava uma criatura violenta que atacaria os dois capitães.

    Darmok

    O que iniciou como um problema de entendimento entre espécies se transformou em uma “reencenação” de um mito Tamariano, onde Darmok e Jalad em Tanagra significava um que dois guerreiros passassem por um desafio. A experiência passada por Picard fez com que ele mesmo que de forma rudimentar entendesse a estrutura de comunicação de Dathon.

    Ao prosseguir o episódio o Filho de Tama foi atacado e ferido pela criatura, muito debilitado e sangrando o capitão da Enterprise para aliviar a situação narra um dos mitos mais antigos da humanidade, a Epopeia de Gilgamesh. Onde um antigo rei Sumério passa por diversos desafios para aprender a lidar melhor com as situações de sua vida. Infelizmente o Danthon veio a falecer, e uma de suas últimas frases ele disse “seus muros abertos” significando que suas diferenças foram retiradas.

    Darmok é um episódio que mesmo com seus vários problemas de orçamento conseguiu pelo seu roteiro criativo construiu uma história fantástica, onde mitologia e linguagem são discutidas, demonstrando a importância dos signos de nossa cultura e como esses símbolos representam para a formação cultural e composição de quem somos, do que nós somos. Um sci-fi que vai de Shakespeare até a antiga suméria dentro de uma nave espacial.

    Star Trek: Nova Geração está disponível na Netflix.

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