CRÍTICA – Returnal (2021, Housemarque)

    A nossa existência basicamente gira em torno de ciclos, alguns se repetem apesar de estarem em uma configuração diferente do anterior e, a cada nova rodada, usamos o aprendizado adquirido para superar a próxima etapa e curiosamente a minha experiência de jogar Returnal, jogo exclusivo do PlayStation 5, me colocou sobre a reflexão nesta ideia.

    Sendo produzido pela Housemarque e lançado em abril de 2021, o game foi vencedor dos prêmios The Game Awards do mesmo ano na categoria Melhor Jogo de Ação, o D.I.C.E. Awards em Excelência em Composição Musical Original e Excelência em Design de Áudio, além do British Academy Games Awards nas categorias Melhor Música, Melhor Jogo e Melhor Performance em um Papel Principal para Jane Perry que interpretou a astronauta Selene Vassos.

    SINOPSE

    Após o pouso forçado num mundo que muda de forma, Selene deve pesquisar a paisagem árida de uma antiga civilização para escapar. Isolada e solitária, ela se vê lutando com unhas e dentes pela sua sobrevivência. Repetidas vezes ela é derrotada – forçada a reiniciar sua jornada sempre que morre.

    ANÁLISE

    Quando iniciei o texto comentando sobre a nossa existência de viver ciclos não me remetia apenas a nossa vida como um todo, mas da nossa protagonista Selene Vasso, brilhantemente interpretada por Jane Perry, e a sua jornada de um looping infinito no planeta Atropos, onde caímos durante um pouso forçado.

    No aspecto de jogabilidade, Returnal é muito simples em relação aos seus comandos e compreensão dos itens que estarão a nossa disposição, o que se torna fixo e o que se perde ao longo dos ciclos e exploração dos seis biomas existentes. O jogo além de ser no modo single player permite você realizar a exploração do cenário com outros jogadores em um modo online, tornando-se um game que pode ser aproveitado de outras formas a cada nova reentrada no planeta.

    Apesar de seguir os padrões do gênero roguelike – da repetição com mudança de configuração a cada nova tentativa – é possível jogar por longos períodos, porém para jogadores impacientes ou que não tenham familiaridade com o gênero, a sensação de retornar para o ponto de partida pode dar a sensação de não estar avançando no jogo.

    A grande virtude de Returnal está na própria narrativa e sua metáfora que encontramos neste looping de Selene em busca da “sombra branca”, pois sua jornada de exploração acontece concomitantemente a vivência de traumas e perdas que teve durante a sua história de vida.

    O jogo por ser muito abstrato em relação aos fatos que apresenta, não ficando claro se a experiência da protagonista no planeta é algo real ou um delírio, porém o que pude perceber ao jogar Returnal é que vivemos através dos olhos, pensamentos e descobertas de Selene, que está em um processo de luto de uma mãe que tem questões de relacionamento com a sua própria mãe; consequentemente, nos mostrando que antes de Atropos, ela já estava dentro de um ciclo.

    Se tratando destes processos, a elaboração do luto tem alguns aspectos cíclicos, pois sempre relembramos de quem ou o que se foi, enquanto o mundo interno se reorganiza de forma a preencher aquele espaço que surgiu com a perda; e Selene em sua jornada a bordo da nave Hélios – que tem o mesmo nome de seu filho -, contempla este simbolismo.

    Em um dos finais do game encontrando diversas versões de Selene que chegaram até o bioma final e quando conhecemos a sua história trágica; ao mesmo tempo em que a protagonista emerge a superfície, significando que esta começando a seguir em frente.

    VEREDITO

    Returnal em diversos aspectos pode satisfazer os jogadores que decidirem embarcar nesta jornada confusa, porém muito intensa, uma narrativa que explora abertamente o aspecto da descoberta – seja sozinho ou com a companhia de outra versão da protagonista – proporcionando momentos surpreendentes.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Assista ao trailer de gameplay:

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