CRÍTICA – Bacurau (2019, Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles)

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CRÍTICA - Bacurau (2019, Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles)

Quem nasce em Bacurau é o quê? É GENTE! Esta é a premissa de uma das obras mais relevantes do cenário nacional. Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles nos entregaram um filme com um show de construção de personagem e também uma discussão de uma das precariedades do Brasil: a falta de consideração por cidades menores.

A estrutura do longa é um pouco diferente da usual. O primeiro ato é longo, com uma apresentação de todos os personagens da cidade, mostrando suas funções naquela sociedade e seu objetivo comum: o bem daquele povo.

Bacurau é como se fosse um feudo, esquecida pelas pessoas e subvalorizada pelos políticos. Nem mesmo nos mapas ela habita, algo que rende boas discussões filosóficas, pois é a realidade de muitos municípios brasileiros, principalmente das regiões Norte e Nordeste do país. A forma na qual essas pessoas sobrevivem é se abraçando e se unindo a uma causa própria, a sobrevivência, não só de sua existência como gente, e sim, como povo, lutando pelo seu espaço, seus recursos e sua cultura. Essa estrutura é muito parecida com o que vemos em Pulp Fiction, filme de Quentin Tarantino, pois parecem curtas com diversas histórias paralelas que vem se emaranhando e se tornando uma só até o ultimo ato. Outra referência que pode ser utilizada como exemplo é o filme Midsommar, uma vez que há um isolamento daquela sociedade e cultura, com seus próprios rituais e tradições. A diferença está na dificuldade da captação de serviços básicos, como água e medicamentos. Bacurau é a protagonista da trama e não seus habitantes, uma sacada excelente dos diretores e roteiristas.

Já que citamos Tarantino; quanta violência gráfica! O diretor certamente aplaudiria de pé o trabalho realizado no longa. Aqui ela não funciona para chocar, e sim, como uma catarse ao espectador que já está imerso naquela história. A forma que o ato final é desenvolvido é digno de todos os filmes Tarantinescos, com muito sangue e gore, algo que os amantes de filmes de terror vão adorar.

Sobre as atuações, destaques para Silvero Pereira (Lunga), Sônia Braga (Domingas), Wilson Rabelo (Plínio), Thardelly Lima (Tony Jr.) e Thomas Aquino (Pacote). Eles dão cor e uma cara à Bacurau.

Lunga é um justiceiro, destemido, forte e violento, um selvagem que a cidade precisa para se defender. Domingas é a médica, fria e indiferente, dando um ar badass para a personagem. Plínio é o homem sábio, despretensioso e empático. Pacote é o xerife, o homem que defende sua terra e seu semelhantes, mesmo que tenha que recorrer a métodos pouco ortodoxos. Por fim, mas não menos importante, Tony Jr. é o prefeito da cidade em busca de reeleição, assim como todo político mau-caráter, aparece apenas quando precisa de votos, deixando no resto do tempo Bacurau desamparada à mercê de todos os problemas de estrutura.

Como destaque negativo estão os vilões do filme. O grupo liderado por Michael (Udo Kier) é caricato demais, destoando muito da trama concisa e bem estruturada do filme. Acreditamos que a ideia da direção era mostrar de forma amplificada a vilania dos antagonistas, mas a execução não foi das melhores, sendo o único problema visível do filme.

Bacurau é um filme com qualidade e identidade, mostrando as mazelas da nossa nação sem ser piegas ou apelativo. As escolhas da história e da direção são certeiras e certamente o longa já está na prateleira dos melhores da história brasileira. Viva o cinema nacional!

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