CRÍTICA – I’m Your Woman (2020, Julia Hart)

    I’m Your Woman é o mais recente filme original da Amazon Prime Video dirigido e roteirizado por Julia Hart. No elenco, Rachel Brosnahan (Maravilhosa Sra. Maisel), Marsha Stephanie Blake e Arinzé Kene.

    SINOPSE

    I’m Your Woman é um drama policial situado em 1970. O filme conta a história de Jean (Rachel Brosnahan), uma mulher que é obrigada a fugir após seu marido trair seus parceiros, enviando-a com seu bebê em uma viagem perigosa, sendo caçados pelos ex-comparsas do marido.

    ANÁLISE

    Há algum tempo se fala em Hollywood sobre filmes dirigidos, roteirizados por pessoas que representam certas comunidades, gêneros ou etnias. I’m Your Woman é mais uma prova de que quando as mulheres fazem filmes voltados para mulheres, o trabalho consegue ser mil vezes melhor do que se estivesse em mãos masculinas.

    Talvez, a diretora e roteirista Julia Hart não tivesse necessariamente essa intenção, mas seu longa indiscutivelmente cresce ao apresentar mulheres determinadas e fortes. Não da forma pedinte que alguns filmes costumam ter ao tratar de problemas de gênero, tudo em I’m Your Woman parece naturalmente e silenciosamente real.

    CRÍTICA – I'm Your Woman (2020, Julia Hart)

    Assim também é Jean, a protagonista vivida por Rachel Brosnahan que ganha sua primeira forma em tela como uma mulher despreocupada. Ainda que afastada do marido, Jean parece a típica mulher dos anos 70: Sob o Sol fuma um cigarro deitada em uma cadeira de praia usando um robe roxo. Seu ar, meio entediada, faz jus as mulheres de uma década que ansiavam por liberdade.

    Mas, Jean ainda não sabe disso. Ela é extremamente dependente de seu marido Eddie (Bill Heck). Sem nunca saber de fato quais são os negócios dele ou até mesmo não podendo dirigir (já que Eddie não deixava), Jean não tem uma identidade própria. Logo, é nesse sentido que Eddie acredita que com um bebe fará Jean se ocupar.

    Ela que sempre quis ser mãe e teve vários abortos espontâneos aceita Harry como se fosse seu próprio filho, passando a dar amor a criança. Enquanto, para Eddie o bebe não passa de um presente. Mas, é quando seu marido sai de cena por causa de um roubo mal sucedido que Jean é jogada em uma realidade que nunca fez parte de sua vida.

    Desorientada e sem muitas opções a não ser fazer o que lhe mandam, Jean e Harry acabam sendo ajudados por Cal (Arinzé Kene), um amigo de Eddie, que tem a tarefa de guiá-la nessa nova vida transitória para escapar das garras dos criminosos que estão procurando por ela e o marido. Com inúmeras perguntas que nunca são respondidas, Jean é levada no banco de trás do carro.

    CRÍTICA – I'm Your Woman (2020, Julia Hart)

    Desse modo, I’m Your Woman nos apresenta os anos 1970 quase como um personagem. O filme é uma mistura de road movie com um drama muito bem colocado porque, se de um lado temos cenas de ação com longos carros, do outro, temos a determinação de Jean em sobreviver.

    Consequentemente, a ambientação em planos abertos mostra a imensidão do caos em que Jean está, mas também há os planos fechados no rosto de Brosnahan para dar luz as angústias da personagem. Atrelado ao plano de fotografia, a paleta de cores creme dá um toque de fim de tarde como se Jean estivesse esperando eternamente por Eddie.

    Contudo, é nos destaques sobre desigualdade de gênero e etnia que Hart faz de seu filme não um ato político, mas uma releitura histórica do cotidiano. Ao serem abordados por um policial branco, Jean precisa mentir que é esposa de Cal, já que o certo policial desconfiou de uma mulher branca está viajando com um homem negro.

    Sendo assim, Jean como uma mulher branca não tem total consciência de seu privilégio, mas isso é pouco significante para uma mulher que esteve sob um relacionamento regrado. Aos poucos, ela se mostra uma mulher persistente que precisa se reafirmar naquela situação que está.

    A sororidade feminina 

    CRÍTICA – I'm Your Woman (2020, Julia Hart)

    Muito se fala sobre sororidade feminina, mas são poucos os filmes que de fato exploram essa união entre mulheres. Em I’m Your Woman, Jean conhece Teri (Marsha Stephanie Blake), esposa de Cal, que assim como Jean precisa fugir com seu filho Paul dos criminosos que agora estão atrás de Cal também.

    Teri é uma mulher forte e intrigante. Conforme o filme avança, é mostrado que Eddie e Teri foram casados e tiveram Paul. Em um ponto as duas mulheres têm uma conversa esclarecedora:

    Jean: É pior porque temos um filho.

    Teri: Nada é pior para você.

    Jean: Você não sabe disso.

    Teri: Sim, eu sei.

    Nesse momento, as linhas de raça e gênero ficam claras. A diretora Julia Hart mantém a dinâmica entre as personagens combinando uma narrativa sucinta com consciência social sem ser exagerada. Mais do isso, surge a imersão da empatia feminina.

    Algo que poderia muito bem ser subvertido no longa, por exemplo. Jean e Teri poderiam criar uma rivalidade. Felizmente, tudo caminha para um apoio mútuo já que ambas se veem sozinhas sem a ajuda de seus maridos.

    CRÍTICA – I'm Your Woman (2020, Julia Hart)

    Essas pequenas alegorias fazem parte de um roteiro bem construído que exalta a sororidade em uma década que a emancipação feminina estava apenas começando.

    Nesse sentido, Jean representa o ontem e o hoje dos anos 70. É uma mulher que reivindica sua identidade tanto como mãe, como pertencente acima de tudo a si mesma. Não à toa, Jean termina o filme dirigindo um carro e com inúmeras possibilidades à sua frente.

    VEREDITO

    I’m Your Woman é uma obra completa que exalta os filmes de ação dos anos 70 usufruindo de uma perspectiva totalmente feminina e poderosa.

    Nossa nota

    4,5 / 5,0

    Assista ao trailer:

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