TBT #56 | V de Vingança (2005, James McTeigue)

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TBT #56 | V de Vingança (2005, James McTeigue)

“Lembrai lembrai do 5 de Novembro: A pólvora, a traição e o ardil. Por isso não vejo porque esquecer uma traição de pólvora tão vil.”

Esse trecho é de uma rima feita sobre a Conspiração da Pólvora, que aconteceu em 1605 na Inglaterra. Guy Fawkes, foi um conspirador inglês encontrado no subterrâneo da câmara dos lordes ingleses com barris de pólvora, pronto para explodir o lugar. O plano não deu certo e Fawkes, junto com seus aliados, foi torturado e morto por traição e tentativa de assassinato.

No início da década de 1980, a política da Dama de Ferro, Margaret Thatcher deu a Alan Moore a linha para a criação de V de Vingança, que acabou se tornando um dos maiores clássicos das histórias em quadrinhos, que 23 anos depois ganharia vida no cinema sendo um dos filmes mais marcantes dos anos 2000.

Em uma Inglaterra do futuro, onde está em vigor um regime totalitário, vive Evey Hammond (Natalie Portman). Ela é salva de uma situação de vida ou morte por um homem mascarado, conhecido apenas pelo codinome V (Hugo Weaving), que é extremamente carismático e habilidoso na arte do combate e da destruição. Ao convocar seus compatriotas a se rebelar contra a tirania e a opressão do governo inglês, V provoca uma verdadeira revolução. Enquanto Evey tenta saber mais sobre o passado de V, ela termina por descobrir quem é e seu papel no plano de seu salvador para trazer liberdade e justiça ao país.

O longa é dirigido por James McTeigue, e apesar de ser o primeiro filme do cineasta, o australiano consegue entregar um filme frenético com diversos questionamentos políticos e reforçando ideias e frases da obra de Moore que fazem impacto e são lembradas até hoje.

O estilo da direção cinematográfica é bem diferente do estilo exorbitante das irmãs Wachowski e isso mantém os efeitos especiais em segundo plano, exceto no clímax do filme, que é descomedido. A visão da Inglaterra aos olhos do diretor é extraordinária e funciona muito bem, realizando referências aos filmes políticos como 1984. A elevada direção de arte coopera na ambientação trazendo tons quentes para complementar a paleta de cores ocasionando mais o tom do filme.

“Embaixo dessa máscara há mais do que carne. Atrás dessa máscara há uma ideia, e Sr. Creedy. Ideias são à prova de bala.”

O roteiro é adaptado e modernizado pelas irmãs Wachowski. A história de Alan Moore é mais complexa e pesada, tendo muitos casos paralelos e criticas politicas mais firmes. Algumas tramas foram retiradas e as ideias anarquistas foram suprimidas durante o processo de adaptação para facilitar o entendimento do filme. Apesar das mudanças, a ideia central da HQ é passada com vigor e beleza.

As atuações do elenco principal são acima da média. Hugo Weaving é o destaque, já que rouba as cenas apenas com a voz e movimentos físicos. Os seus discursos são imensamente teatrais, mesmo sem a utilização de movimentos faciais. Natalie Portman está sempre formidável em toda a sua filmografia. O restante do elenco, formado por John Hurt, Stephen Fry e Stephen Rea, mantém o nível das atuações, mesmo tendo participações menores.

É preciso salientar que a resposta anarquista não é a única contida no filme. A inserção de um alter ego de Eve, a prisioneira Valerie, sinaliza outra via de resistência ao totalitarismo. A leitura da história completa da personagem, a torna novamente humana. Para entender isso melhor, basta pensarmos o porquê, por exemplo, de os prisioneiros do Holocausto terem sido marcados por números. Não se tratava apenas de facilitar a sua identificação, mas de desumanizá-los ao lhes negar a sua própria biografia, como seres sem história, de existência provisória e marcados para o extermínio. É por isso que, ao restaurar biografias, V de Vingança dá a mais interessante de todas as respostas ao totalitarismo – a humanista.

Apesar dos atritos da produção com o criador da história, o quadrinista Alan Moore, e das inúmeras mudanças em relação à trama original, o filme possibilitou tornar-se um cult simbólico, trazendo a máscara de Guy Falkes como a representação de uma época ocasionando devidas proporções e efeitos. Afigurou-se como um dos melhores filmes dos anos 2000. A sua vivacidade, valentia e virtuosidade passada por um vigilante mostra que é uma obra relevante para se ter no acervo e também para sempre nos lembrar desse tema tão sério do qual as sociedades em algum momento da história podem estar sujeitas.

Nossa nota

Assista ao trailer:

E você, já assistiu ao filme V de Vingança? Lembre-se de conferir nossas indicações anteriores do TBT do Feededigno.

Nota do público
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