Lovecraft Country: Episódio 5 – Strange Case | Análise e referências

    O quinto episódio de Lovecraft Country, intitulado Strange Case, estreou no último domingo (13/9) na HBO. Sendo um episódio focado na transição de narrativa, preparando terreno para os próximos passos da jornada dos heróis, Strange Case tem como protagonistas Ruby Baptiste (Wunmi Mosaku) e William (Jordan Patrick Smith).

    O texto a seguir terá spoilers do episódio 5. Leia por sua conta e risco.

    SINOPSE

    Depois de fazer uma barganha com William, Ruby se transforma em uma mulher branca, mas sua mudança só fortalece seu descontentamento com a divisão racial nos Estados Unidos.

    A traição de Montrose (Michael Kenneth Williams) libera a raiva reprimida de Tic (Jonathan Majors), deixando Leti (Jurnee Smollett) profundamente perturbada. Paralelamente, Montrose encontra abrigo nos braços de seu amante.

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    ANÁLISE

    Esse episódio é o que chamamos de episódio de transição, pois não há muita ação relacionada à trama principal de Lovecraft Country. Strange Case é todo focado em Ruby e sua subtrama com William, que vimos ser iniciada no episódio A History of Violence serve como um desenvolvimento para a personagem secundária e também uma resolução de dúvidas em relação aos Braithwhite.

    O episódio é necessário para alinhar detalhes que ainda não haviam sido explicados e dar impulso para a trama principal da série se desenrolar nos próximos capítulos. Sem um episódio de transição, provavelmente esses detalhes ficariam soltos no meio de outras informações, se tornando um problema de roteiro no futuro.

    Começamos Strange Case com Ruby acordando no corpo de uma mulher branca. Sua aparência causa estranheza e a faz escapar da mansão de William, voltando para o Sul de Chicago. Estando completamente desnorteada, ela esbarra em um menino negro, o que aciona a polícia e quase coloca a vida do garoto em risco.

    Lovecraft Country: Episódio 5 – Strange Case | Análise e referências

    Nesse ponto já podemos ressaltar um dos problemas do episódio: sua montagem. Em várias cenas fica difícil saber como as coisas aconteceram, pois parece que seu desenrolar foi cortado na pós-produção. Ruby acorda na mansão, mas logo a vemos descabelada e andando pelas ruas do Sul de Chicago. Assim que ela entra no carro da polícia, ela percebe que está sendo levada de volta para mansão, porém nós não vimos ela escapando de lá.

    Esse problema acontece em outras cenas do episódio, como, por exemplo, durante a missão de Ruby na mansão de Lancaster – que eu irei comentar novamente durante essa análise. Da cena do armário para a cena da loja de roupas não há uma explicação, então nós não sabemos como ela escapou. O mesmo acontece após a cena da entrevista de emprego, onde ela está sem a poção e entra em um elevador de carga.

    Esse tipo de resolução simplória deixa o episódio confuso, fazendo com que ele gaste muito tempo em cenas repetidas e pouco tempo em algumas explicações necessárias. Saber como ela escapou dessas situações é algo importante. Portanto, a falta de detalhes acaba desfavorecendo a condução do episódio.

    Lovecraft Country: Episódio 5 – Strange Case | Análise e referências

    Após retornar à casa de William, Ruby passa por sua primeira metamorfose. Ele corta o casulo em que está escondida, fazendo com que ela “renasça” como uma borboleta. Durante a explanação sobre como a metamorfose funciona, William explica que essa foi uma técnica que ele incentivou Hiram (o dono da Mansão Winthrop) a estudar.

    William deixa em cima da cômoda um frasco com a poção, abrindo espaço para que Ruby decida como quer passar o seu dia. Se quer ir embora como Ruby ou tentar viver novamente nos calçados da senhorita Hillary (Jamie Neumann). Ela opta pela segunda opção e, bom, acaba sentindo na pele – literalmente – a diferença de tratamento que ela recebe por todos à sua volta única e exclusivamente por ser branca.

    A partir daqui, Ruby volta a tomar essa poção inúmeras vezes, usando a persona de Hillary para conseguir um emprego na loja de departamento que ela sempre sonhou. Por ser branca e ter um currículo inflado, Hillary logo consegue um dos cargos mais altos: assistente de gerente.

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    O episódio todo mostra como Ruby cria uma “competição” invisível com Tamara (Sibongile Mlambo), a menina negra que conseguiu emprego na loja antes dela. Porém, com o passar do tempo, ela acaba percebendo todos os problemas que Tamara vive – inclusive possíveis assédios cometidos por seu chefe Paul Hughes (David Stanbra).

    Em um determinado momento, William “cobra” um favor de Ruby: ele pede que ela encontre Christina (Abbey Lee) em uma festa. No local, Christina entrega para Ruby o que parece ser uma runa com um símbolo no meio. Ela diz para Ruby que Seamus Lancaster (Mac Brandt) tentou matar William com um tiro nas costas, e que colocar a runa no escritório do chefe de polícia é a única forma de revidar.

    Ruby aceita a missão e realmente coloca a runa na escrivaninha de Lancaster. Porém, ela escuta um barulho no armário e, lá dentro, encontra um homem amarrado e com a garganta cortada. Nessa hora, Lancaster e seus capangas entram no escritório, obrigando Ruby a se esconder no armário junto com o homem.

    Durante o tempo que passa na sala, Ruby escuta Lancaster e seus capangas falando sobre um observatório. Eles dizem que o Observatório Winthrop está seguro, o que abre inúmeras possibilidades para o futuro. Uma delas já se destaca: será que a máquina do tempo está neste observatório?

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    Após essa cena no escritório, como mencionei anteriormente, nós já vemos Ruby novamente transformada em Hillary e tentando alertar Tamara a sempre ser a melhor em tudo, pois só assim ela pode escapar das garras dos brancos malucos que existem naquele lado na cidade. Nessa hora ela é “parada” por seu chefe e acaba dizendo que Tamara levará a todos ao Sul da cidade para uma noite de festa.

    Durante a noitada, Ruby acaba se arrependendo da realidade que está vivendo e se desfaz definitivamente de sua pele de Hillary. Ela vê Hughes assediando Tamara nos fundos da festa, o que só alimenta ainda mais seu ódio.

    Na mansão de William, Ruby encontra Christina, que a aconselha a usar a poção para fazer tudo o que ela tivesse vontade. Pensando nisso, Ruby resolve se vingar de seu chefe. Ela aborda Hughes (no corpo de Hillary) e o agride, em uma das cenas mais fortes do episódio – e da série até então. Conforme a carcaça de Hillary se desfaz, uma Ruby completamente diferente renasce daquela situação.

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    Já ao término do arco de Ruby, vemos William chegando na mansão e, sem ter tempo de renovar sua poção, acaba se transformando em Christina, confirmando todas as teorias desenvolvidas no episódio anterior.

    Como eu mencionei no início, esse capítulo é um episódio de transição, então tivemos pouquíssimos avanços nos acontecimentos da semana anterior – sobre as páginas de Titus e as motivações de Montrose em atrasar o grupo. Entretanto, algumas boas informações foram inseridas nesse quinto capítulo.

    Após o arco de Christina, temos a conclusão dos acontecimentos do episódio anterior, em que Montrose assassinou Yahima (Monique Candelaria). Ao dar a notícia de que Yahima “escapou” (junto com as páginas do livro) para Tic e Leti, Montrose é brutalmente agredido por Tic. Extremamente assustada, Leti chama algumas pessoas hospedadas na casa para impedirem que Tic assassine Montrose.

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    Desnorteado, Tic vai até o estúdio de Leti procurando fotos das páginas do Livro dos Nomes, torcendo para que todo o esforço deles não tenha sido em vão. Leti, com medo de Tic, desce com o bastão de beisebol – utilizado no episódio Holy Ghost – como forma de se proteger de Tic. Desapontado, ele vai embora da mansão Winthrop.

    Algum tempo depois, vemos Montrose encontrando seu amante Sammy (Jon Hudson Odom). Ao que parece, ao chegar ao extremo de assassinar uma pessoa como forma de “proteger” sua família, Montrose percebe que não há mais nada que possa pará-lo de viver. Em uma cena muito bonita durante um ballroom, Montrose beija Sammy pela primeira vez, aceitando sua realidade e seus sentimentos.

    Paralelamente ao ballroom, Leti e Tic conversam e fazem as pazes. Ele conta a ela sobre Ji-Ah (Jamie Chung), uma mulher com quem ele teve um relacionamento durante a guerra na Coréia – a mesma mulher que vemos em seu sonho sobre A Princesa de Marte no início do episódio Sundown e atacando Tic em Whitey’s on the Moon. 

    Posteriormente, após Leti entregar as fotos do pergaminho a Tic, ele diz a ela que Montrose matou Yahima. Leti afirma que todos esses feitiços e essas histórias são amaldiçoadas, e ele tenta convencê-la com um discurso clichê de “usar a magia para o bem”.

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    Enquanto analisa as fotos, Tic cai no sono e sonha com sua ancestral fugindo da casa de Titus Braithwhite com um livro embaixo dos braços – possivelmente o famigerado Livro dos Nomes.

    Após muitas horas analisando as letras do pergaminho – e comparando com alguns caracteres que ele acredita que são suas iniciais e a palavra proteção – Tic acaba descobrindo uma mensagem que o deixa perturbado e o faz ligar para Ji-Ah. Ela pergunta se ele finalmente acredita nela, e ele pergunta como ela sabia. Ao desligar a ligação, a câmera foca na letras D-I-E escritas em um papel.

    Por se tratar de um episódio de transição, Strange Case é provavelmente um dos episódios mais fracos lançados até agora. Apesar de termos todo o desenvolvimento de Ruby, a falta de explicação de alguns acontecimentos e o gasto excessivo de tempo nas transformações acabam tornando tudo um tanto cansativo.

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    Apesar de tomarem muito tempo, os efeitos especiais estão incríveis. As transformações de Hillary para Ruby são super trash, mas muito bem executadas. Todas as vezes em que ela sai daquele casulo, nos passa uma sensação de agonia e pavor, por não saber o que pode acontecer com Ruby e se ela ficará bem.

    O mesmo podemos dizer da transformação de William para Christina que é visualmente impecável. O episódio possui uma ótima parte técnica relacionada aos efeitos especiais e merece um grande destaque nesse sentido.

    Strange Case consegue também abrir outras perguntas que irão impulsionar a trama principal da série nos próximos episódios – como já havia mencionado anteriormente. Por exemplo:

    O que está no porão de Christina? Ela trabalhava com Hiram antes dele morrer? Ela conheceu Horacio Winthrop?

    O que Ji-Ah sabe sobre os Braithwhite? Como ela encontrou Tic? Quem é ela?

    O que o Tic encontrou naqueles pergaminhos?

    Quem é o cara do armário do Lancaster?

    Por que Lancaster matou o próprio filho?

    A Christina roubou a identidade do William?

    Essas são algumas perguntas que ainda não temos respostas, mas que nos animam a continuar assistindo aos próximos episódios.

    REFERÊNCIAS

    Nesse episódio não tivemos nenhum livro referenciado diretamente. Entretanto, toda a ideia do capítulo se assemelha muito ao livro clássico O Médico e o Monstro (em inglês chamado de Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde) escrito por Robert Louis Stevenson.

    No conto, publicado originalmente em 1886, Dr. Henry Jekyll descobre uma poção que o transforma periodicamente em Edward Hyde, exatamente como Ruby encarna seu lado cruel e vingativo no corpo de Hillary.

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    Outro ponto interessante é que a mesma atriz que interpreta Hillary também atua como Dell, a personagem que apareceu protegendo a torre onde Montrose era feito prisioneiro em Ardham.

    Por que Christina decidiu transformar Ruby em alguém que ela já conhecia? Para fazer a poção dar certo é necessário utilizar algum elemento de uma pessoa que já existiu? Isso significa que Dell morreu após ser golpeada por Leti em Whitey’s on The Moon? Será que os dois estão no porão da Christina?

    Durante a primeira transformação de Ruby, no momento em que William está abrindo a carcaça com uma faca, a câmera foca na televisão que está passando uma matéria sobre metamorfose de gafanhotos. Uma grande coincidência em um momento tão oportuno, não é mesmo?

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    Na cena que se passa no escritório de Lancaster muitas coisas acontecem. Entretanto, uma das que mais chama atenção é que, quando Lancaster tira a camisa, seu corpo possui outra cor. Será que o policial fez parte dos experimentos de Hiram Epstein?

    Tudo que cerca a hospedaria de Chicago parece extremamente obscuro. Ainda não sabemos se a história sobre Lancaster ter assassinado o próprio filho é real, mas do jeito que ele mantém corpos mutilados dentro do armário… Não é de se duvidar, certo?

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    O símbolo que aparece na runa entregue por Christina para Ruby também pode ser visto em uma das páginas do Livro dos Nomes que são analisadas por Tic e Leti. Tic acredita que aquele seja um feitiço de proteção, porém Christina usa o símbolo em uma runa contra Lancaster.

    Definitivamente aquele símbolo não deve significar algo de bom e, talvez por isso, Tic tenha ligado tão desesperado para Ji-Ah no final do episódio.

    VEREDITO

    Strange Case é um bom episódio para alinhar a trama, amarrar algumas pontas soltas, finalizar arcos e impulsionar a trama para sua próxima fase.

    Apesar de alguns problemas em sua montagem e condução, ainda assim, Strange Case é um bom episódio e serve para expandir nosso conhecimento da personagem Ruby. Toda a experiência vivida por Ruby durante a metamorfose pode moldar seus passos ao longo da série, aproximando-a de sua irmã e colocando ambas na mesma jornada

    Em suma, Strange Case cumpre seu papel e traz inúmeras novas perguntas a serem respondidas.

    Nossa nota

    3,5/5,0

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