Lovecraft Country: Episódio 3 – Holy Ghost | Análise e referências

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Lovecraft Country: Episódio 3 – Holy Ghost | Análise e referências

O terceiro episódio de Lovecraft Country, denominado Holy Ghost, é provavelmente o mais sobrenatural de todos os que foram lançados até o momento. Nesse novo capítulo, somos introduzidos a uma trama com fantasmas e perseguições.

Esse artigo terá spoilers do terceiro episódio, pois traremos, além da análise, um breve resumo dos acontecimentos e todas as referências encontradas. Portanto, prossiga por sua conta e risco.

SINOPSE

Na esperança de consertar seu relacionamento com sua irmã Ruby (Wunmi Mosaku), Leti (Jurnee Smollett) transforma uma casa em ruínas no norte de Chicago em uma pensão – um empreendimento que irrita a vizinhança racista e desperta espíritos presos na casa.

Enquanto isso, Atticus (Jonathan Majors) continua com a consciência pesada por não contar a verdade sobre os acontecimentos em Ardham para a esposa de George, Hippolyta (Aunjanue Ellis).

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ANÁLISE

Em Holy Ghost nós temos a confirmação de algo que já suspeitávamos: a cada episódio nós teremos o monstro – ou o perigo – da semana. Apesar de cada episódio fazer parte de uma mesma narrativa envolvendo a família Braithwhite, o seriado apresentará histórias e argumentos separados a cada nova semana.

Nesse novo capítulo, encontramos Leti, Tic, Hippolyta e Montrose (Michael Kenneth Williams) lidando com a morte de tio George – cada um à sua maneira. Meses se passaram desde os acontecimentos em Ardham, e Hippolyta não está confiante de que lhe contaram toda a verdade.

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A primeira cena é uma explicação sobre uma casa mal-assombrada, sugerindo que, após 10 dias, três pessoas iriam desaparecer lá dentro sem deixar rastros. Eu, particularmente, cheguei a pensar por alguns minutos que essa história se passaria muito antes de Ardham (como um flashback), mas logo fui surpreendida por essa ser, de fato, uma narrativa após esse momento.

Logo vemos Leti em uma missa, parecendo extremamente abatida e sem vida. Ao longo da trama percebemos que ela está lidando com outro tipo de luto: o seu. Ela morreu em Ardham e, desde sua sobrevida, vem carregando uma sensação de vazio e um trauma constante.

Buscando uma forma de encontrar motivação para viver – e tentando se reaproximar de sua irmã – Leti compra uma casa num bairro nobre de Chicago e a transforma em uma pensão. Obviamente eles são recebidos com atitudes racistas e terroristas de seus vizinhos, que prendem tijolos nas buzinas dos carros para impedi-los de descansarem.

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Tic, que vinha passando um tempo na casa de Hippolyta, resolve voltar para a Califórnia. Antes de realmente ir embora, ele passa pela casa de Leti e, por causa da vizinhança, resolve ficar por um tempo.

É aí que os espíritos do lar mal-assombrado começam a dar as caras – literalmente. O episódio é repleto de espíritos mutilados que andam pela casa assustando os moradores. Essa narrativa garante alguns momentos clássicos de filme de terror, como lençóis sendo puxados da cama enquanto alguém dorme ou um espírito aparecendo no espelho após a pessoa lavar o rosto.

Ainda assim, novamente o fator mais aterrorizante são os próprios seres humanos. Após uma cruz ser queimada na frente da casa, Leti pega um bastão de beisebol e quebra os vidros de todos os carros estacionados – e com as buzinas ligadas – em uma referência clara ao clipe de Hold Up de Beyoncé.

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Essa forma de defesa acaba sendo a faísca necessária para os policiais da cidade os prenderem. Durante a ida para a delegacia, um dos policiais tortura Lit com o “rough ride“, forma de violência policial que mantém a pessoa algemada dentro de uma van (sem cinto de segurança), enquanto a van anda em alta velocidade e faz zigue-zagues.

É nessa hora que vemos pela segunda vez à referência a Winthrop. Parte da seita dos Filhos de Adão, Horácio Winthrop é um importante personagem do livro de Lovecraft Country – e que provavelmente veremos aparecer cada vez mais. Durante a tortura feita pelo policial, ele pergunta a Leti quem mandou que ela comprasse a casa de Winthrop.

A partir dessa referência, Leti faz algumas pesquisas e descobre que a casa era na verdade de Hiram Epstein, um médico e parceiro de Winthrop que desenvolvia experiências macabras com pessoas negras naquela casa. A história lembra um pouco a narrativa de Murder House, a primeira temporada de American Horror Story.

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Após as descobertas, Leti e Tic resolvem fazer um ritual de exorcismo no porão da casa, momento que rende uma das melhores cenas do episódio. A atuação de Jurnee é arrebatadora, tornando o episódio muito melhor do que qualquer um poderia imaginar.

Holy Ghost é, na verdade, um episódio totalmente focado em Leti para conhecermos melhor a personagem. Sabemos que existiram problemas entre ela e sua mãe, que ela e os irmãos não se dão e que Leti desenvolve diversos trabalhos de resistência contra a América supremacista. Porém, aqui conseguimos conhecer também um outro lado da personagem, uma parte mais frágil e solitária.

A cena entre ela e Tic no banheiro da casa – que termina com Leti chorando – mostra o quão sem vida e cansada de tudo a personagem se sente, buscando algo que possa trazer de volta sua vontade de viver. Seu diálogo com sua irmã (que deixou no ar que talvez as duas não sejam filhas do mesmo pai), escancara o quão quebrada Leti se sente por todas as escolhas que já fez em sua vida.

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Perto dos minutos finais, Tic reencontra Christina (Abbey Lee) e une as pontas soltas que faltavam ser amarradas: Christina deu o dinheiro para Leti como se fosse uma herança de sua mãe e a conduziu à compra da casa de Winthrop.

Ao que tudo indica, Winthrop roubou páginas de um dos livros dos Filhos de Adão que pode ser a chave para a vida eterna – e Christina quer esse material. Portanto, ter a casa seria algo importante para sua estratégia, e ela quer que Tic faça parte desse plano. Esse seria o gancho para ele permanecer em Chicago e não voltar para a Flórida.

REFERÊNCIAS

Em Holy Ghost, ao contrário dos episódios anteriores, não há muitos livros expostos nas prateleiras para que possamos analisar. Entretanto, Hippolyta rasga uma versão de Drácula de Bram Stoker – um dos livros favoritos de George e que ele referencia no primeiro episódio da série.

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Lovecraft Country: Episódio 3 – Holy Ghost | Análise e referências

Outro momento interessante de Hippolyta, e que faz referência direta ao livro de Lovecraft Country, é a cena em que ela encontra um item de ouro em um quarto da casa mal-assombrada. O item é um Planetário (em inglês chamado Orrery), e ele apareceu justamente para a personagem que nós já sabemos ser apaixonada por astronomia.

Ao que tudo indica, esse planetário terá grande relevância na trama e nos próximos episódios. Então essa é uma referência que devemos ficar de olho.

Lovecraft Country: Episódio 3 – Holy Ghost | Análise e referências

Durante a festa de inauguração da casa, as crianças resolvem fazer um jogo em um tabuleiro Ouija (uma ótima ideia). Um dos meninos que está no grupo pergunta ao tabuleiro se ele fará uma “boa viagem”, e o espíritos respondem que não.

Já amplamente divulgado na mídia, após a viralização de uma thread no Twitter, o acontecimento faz referência ao jovem Emmett Louis Till que foi assassinado aos 14 anos durante uma viagem ao Mississipi.

Lovecraft Country: Episódio 3 – Holy Ghost | Análise e referências

A história de segregação nos Estados Unidos não é novidade. A escolha dessa narrativa para o episódio Holy Ghost é reflexo de diversas casas de integração que existiram na cidade nos anos 1950 e que sofreram represálias dos supremacistas brancos.

Nesse artigo da Esquire você pode ler sobre a história real de diversas iniciativas.

VEREDITO

Holy Ghost é mais um ótimo episódio de Lovecraft Country. Com um tom completamente diferente dos dois episódios anteriores, a série mostra sua versatilidade em abranger diversos gêneros de ficção em um mesmo projeto – não se mantendo apenas no weird fiction de H.P. Lovecraft.

O ritmo da trama nesse episódio foi muito superior ao de Whitey’s On The Moon, sendo menos atropelado e com menos acontecimentos para acompanhar. Algumas resoluções são simplórias – como a resolução da casa assombrada -, entretanto a possibilidade de aprendermos mais sobre a personagem de Jurnee Smollett foi um grande acerto.

Há de se destacar também todas as referências que compõem o resultado final, além da contínua utilização de acontecimentos reais como forma de balancear o terror ficcional.

A atuação de Jurnee é outra vez um grande destaque, colocando a atriz como uma co-protagonista cada vez mais presente no desenrolar da trama, não sendo apenas uma sidekick para Tic.

Em suma, Holy Ghost é mais um ótimo episódio de Lovecraft Country e sua trama paralela me deixa cada vez mais curiosa com os próximos capítulos.

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