Lovecraft Country: Episódio 4 – A History of Violence | Análise e referências

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Chegamos ao 4º episódio de Lovecraft Country intitulado A History of Violence. Nesse novo capítulo, Tic (Jonathan Majors), Leti (Jurnee Smollett) e Montrose (Michael Kenneth Williams) se envolvem em uma nova aventura com os melhores elementos de Indiana Jones!

Essa análise terá spoilers do 4º episódio do seriado. Sendo assim, leia por sua conta e risco.

SINOPSE

Após Christina (Abbey Lee) aparecer misteriosamente em sua porta, Leti confronta Tic sobre seu plano de voltar para a Flórida. Mais tarde, em uma aventura em busca das páginas escondidas de Titus Braithwhite, Leti, Tic e Montrose seguem para Boston com Hippolyta (Aunjanue Ellis) e Diana (Jada Harris) para um passeio em um museu.

Paralelamente, William (Jordan Patrick Smith) resolve ter um encontro com Ruby (Wunmi Mosaku) após os Braithwhite não conseguirem entrar na casa de Winthrop.

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ANÁLISE

A History of Violence é, provavelmente, o melhor episódio desde Sundown. Com uma mistura de terror e aventura, o capítulo traz elementos de caça ao tesouro, em uma clara referência aos clássicos do gênero. Indiana Jones, Goonies e o próprio Viagem ao Centro da Terra, referenciado durante o episódio, são alguns nomes que podemos lembrar logo no início da nossa jornada.

Nesse novo capítulo, Tic quer encontrar as páginas do Livro dos Nomes roubadas por Titus. A informação foi repassada a ele por Christina no episódio Holy Ghost, onde ela explicitou que a casa de Horacio Winthrop seria peça-chave nessa busca.

Lovecraft Country: Episódio 4 – A History of Violence | Análise e referências

Falando em Christina, ela apareceu na porta da casa de Leti e foi barrada pelo ritual feito no episódio anterior. Ela não consegue entrar na casa de Winthrop, então precisa encontrar outra forma de fazê-lo. Durante sua conversa com Leti, ela menciona o planetário de ouro escondido dentro da mansão – que, a essa altura, está na casa de Hippolyta ao sul de Chicago.

Unindo todos os pontos, Leti vai atrás de Tic e descobre que ele tem investigado sobre as páginas de Titus Braithwhite e que pensa em ingressar nessa caça ao tesouro. Sabendo que Montrose já havia percorrido toda essa investigação anteriormente, Leti fala com o seu futuro sogro pedindo ajuda para encontrar a caixa forte onde as folhas estão escondidas.

Montrose, na verdade, desempenha um grande papel nesse episódio. Logo no início vemos cenas de seu apartamento revirado com fotos de Dora (Erica Tazel), George (Courtney B. Vance) e Tic.

Em um breve momento ouvimos uma voz masculina (provavelmente seu pai), dizendo para ele “parar de se emperequetar”, o que nos abre algumas discussões sobre tudo o que ele passou todos esses anos e que ele provavelmente é homo ou bissexual.

Durante essa passagem ele queima o livro da Ordem dos Filhos de Adão, entregue a ele por George antes de falecer. Há algo naquele livro que Montrose não quer que ninguém tenha acesso e que pode ser a chave para a sobrevivência ou derrocada do grupo.

Leti e Tic convencem Montrose a irem a Boston, já que Montrose acredita que a caixa forte possa estar em um museu da cidade – reformado por Titus quando ele fez parte do conselho. Hippolyta e Diana se convidam para a viagem e Tree (Deron J. Powell) também pega uma carona com eles.

Ao chegarem em Boston, o grupo se divide no museu. Tic, Leti e Montrose esperam até o anoitecer para começarem suas buscas com a assistência de um amigo de Montrose (que é segurança do local). Esse amigo, aliás, acaba sendo uma dica de Tree para Tic: ele acredita que Montrose e Sammy (Jon Hudson Odom), dono do bar que Montrose frequenta, tem um affair.

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A partir daqui, a história toma realmente os ares de uma aventura de caça ao tesouro. Utilizando a luz da lua para iluminar um monumento dedicado a Titus – em uma ala do museu com diversos apetrechos roubados de outras civilizações pelo homem branco – a entrada para o cofre logo é revelada.

Abaixo do museu existem três túneis. Eles precisam chegar até a caixa forte antes da lua desaparecer e da maré subir, para não morrerem afogados. Essa missão requer um trabalho em equipe, pois eles precisam decidir juntos qual túnel é o correto. Com a sabedoria e o feeling de uma vencedora, Leti usa a informação sobre a última viagem de Titus (para o Caribe) como fonte para decidirem qual lado deveriam seguir.

O túnel termina em uma cena muito similar a Indiana Jones e a Última Cruzada, com direito a uma prancha de madeira ligando dois lados de construção e um precipício enorme embaixo. A prancha começa a desaparecer após Leti começar o seu caminho, obrigando Montrose e Tic a trabalharem juntos para chegarem ao outro lado.

Já próximos a cair no penhasco, o grupo chega até a porta do outro lado da prancha, sendo necessário empurrar partes da porta – como em um código – para que ela se abra. Montrose relembra o poema nas primeiras páginas do livro da Ordem que falam sobre Deus, Eva, Adão e os Monstros, conseguindo solucionar o código e salvar à todos.

Nesse momento começam as desconfianças dentro do próprio grupo. Como Montrose sabe tanto sobre a Ordem? Há quanto tempo ele vem investigando essas pistas?

O roteiro de A History of Violence é extremamente inteligente em nos conduzir para o caminho da dúvida e das teorias. Há algo de errado com Montrose, e isso vem sendo construído desde que ele retorna de Ardham. Resta saber o quê.

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Paralelamente à aventura dos heróis, nós vemos Christina encontrar o “chefe” de outra hospedaria. Ao longo do episódio descobrimos que não existe apenas uma, mas 34 hospedarias relacionadas a Ordem dos Filhos de Adão. Aliás, quem mencionou esse número foi o próprio Montrose mais cedo no episódio.

Christina desafia Seamus Lancaster (Mac Brandt), um dos membros da Ordem e policial daquela região de Chicago. De acordo com ela, o planetário de ouro é chave para a máquina do tempo criada por Hiram, o médico louco que fazia experimentos na mansão.

Não gostando da atitude de Christina, Lancaster manda capangas perseguirem a moça até sua residência, e é nessa hora que temos a confirmação de uma teoria que já vem rolando há muito tempo: Christina é William! Conforme Christina entra na casa, William sai e golpeia os capangas de Lancaster.

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Após esse acontecimento, Christina (disfarçada de William) vai ao encontro de Ruby, irmã de Leti. Ela pretende seduzi-la e – provavelmente – conseguir uma forma de ser convidada a entrar na casa Winthrop.

Com o cair da noite, Hippolyta e Diana estão retornando para Chicago após perderem Leti, Tic e Montrose – que não retornaram ao local de encontro no museu. Frustrada, Hippolyta vê o desenho de uma morte no mapa de George – especificamente no Condado de Ardham. Frustrada com todos os acontecimentos recentes, ela resolve procurar por respostas, abrindo ganchos para os acontecimentos da próxima semana.

Conforme segue pelo túnel, o grupo percebe que a maré começa a subir intensamente. No fim das contas se descobre que aquele túnel dá direto no elevador da casa de Leti, sendo o caminho que vimos no final do episódio Holy Ghost.

Ao final do caminho, há uma porta que só pode ser aberta por alguém que possua o sangue da linhagem de Titus. Tic, então, coloca o braço na fechadura e um alçapão se abre. Lá encontramos um sótão repleto de cadáveres, sendo que um deles está segurando os pergaminhos de Titus.

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Quando tentam pegar o pergaminho, o cadáver se regenera, apresentando uma nova personagem: Yahima Maraokoti (Monique Candalaria), uma mulher indígena de dois espíritos que Titus conheceu e sequestrou em sua jornada para à Guiana. Falando o idioma Arawak, que Tic consegue compreender, a mulher explica que foi aprisionada por Titus após ajudá-lo a decifrar algumas partes do Livro dos Nomes.

Como já foi enganada uma vez, Yahima se recusa a ajudar o grupo. Montrose em um ato calculado de extrema irresponsabilidade, arranca o pergaminho da mesa, fazendo com que o local seja inundado. Todos saem nadando até o elevador e Montrose deixa pra trás o pergaminho.

Em um ato de coragem, Leti novamente salva todo mundo, buscando o pergaminho e nadando de volta para o elevador. Quando eles estão salvos, Yahima dá um grito de sereia, revelando que Titus havia colocado uma maldição nela: fora da sala onde estava aprisionada, ela não teria voz e não poderia contar nada para ninguém.

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No maior cliffhanger do seriado até então, Montrose assassina Yahima na casa Winthrop – enquanto Tic e Leti estão dormindo – em um plot twist até então inesperado. Em algum momento da trama, Montrose foi comprometido e está trabalhando para atrasar Leti e Tic.

Esse final revela dezenas de possibilidades: será que Montrose matou George? Será que ele realmente foi raptado ou fazia parte do plano dos Braithwhite? O que ele leu no livro da Ordem para ter tanto medo do que Tic pode descobrir? Ele estaria trabalhando com alguma outra hospedaria? Suas motivações em relação ao filho são realmente sinceras?

A atitude de Montrose de matar Yahima traz nuances completamente novas para a série.

Lovecraft Country: Episódio 4 – A History of Violence | Análise e referências

Não só os Braithwhite são os vilões, como também um integrante dentro do próprio grupo está agindo para atrasar Tic e Leti. Se Montrose descobrir que Hippolyta está com o planetário, será ela a sua próxima vítima?

Literalmente, ninguém está seguro no roteiro de Misha Green.

Toda a situação da máquina do tempo também abre precedentes interessantes para a trama. É curioso você ter um ator como Courtney B. Vance no elenco e utilizá-lo apenas em 2 episódios. Por isso, a máquina do tempo pode ser a forma de Hippolyta salvar o seu marido e trazê-lo de volta para trama.

Lovecraft Country: Episódio 4 – A History of Violence | Análise e referências

Assim como nos outros episódios, A History of Violence também toma o seu tempo para desenvolver os personagens entre uma aventura e outra. Neste capítulo, conseguimos visualizar alguns pontos que assombram Montrose e o fazem beber compulsivamente. Há muito rancor e frustração nessa equação, o que acaba o guiando sempre para o caminho errado.

Leti mais uma vez é o destaque do episódio. Jurnee está incrível a cada novo capítulo e crava cada vez o seu caminho a uma indicação ao Emmy de 2021. Jonathan Majors também tem entregue uma ótima atuação, mas é indiscutível o quanto Jurnee rouba a cena.



REFERÊNCIAS

A maior referência desse episódio é o livro Viagem ao Centro da Terra, de Julio Verne. Durante a cena da biblioteca, vemos uma criança lendo-o.

Lançada em 1864, a obra é um clássico da literatura fantástica e já foi adaptado para o cinema algumas vezes. No enredo, Otto Lidenbrock encontra um manuscrito escrito em código único pelo antigo alquimista Arne Saknussemm. Ao decifrá-lo, ele descobre que quem desce a cratera do vulcão Sneffels antes do início de Julho, consegue chegar ao centro da Terra.

Em A History of Violence, o grupo realmente encontra um manuscrito com uma escrita única – que apenas Yahima e sua família poderiam transcrever. Alguns caracteres do idioma estavam escritos nas cavernas de Alomun Kundi, local conhecido por Yahima. E, bom, Titus não era um alquimista, mas era um bruxo de primeira.

Em um dado momento do episódio, Hippolyta conta à filha Diana que ela participou de uma competição nacional para nomear uma constelação e venceu, dando o nome de Carruagem de Hera.

Porém, a comissão que escolheu o vencedor não gostaria de associar o nome da constelação a uma criança negra, atribuindo como vencedora uma jovem sueca chamada Nancy Studebaker.

Na história original do livro de Matt Ruff, em que a série se baseia, Hippolyta havia nomeado o planeta Plutão e não uma constelação. A premissa é a mesma: ela venceu o concurso, mas teve seu feito roubado e atribuído a uma jovem – Venetia Burney.

Entretanto, provavelmente para não gerar problemas futuros ou boicote – já que Venetia Burney realmente existiu e deu nome ao planeta – a produção adaptou a história, criando essa ramificação.



VEREDITO

A History of Violence conseguiu brincar com a nossa nostalgia trazendo um episódio com cara – e qualidade – dos antigos filmes de Indiana Jones. É o tipo de aventura que não vemos mais nos dias atuais em grandes produções e que mexe fundo com nossos sentimentos, pois representou uma parte muito importante na história do cinema.

A habilidade de Misha Green em adaptar a história do livro com tanta versatilidade (indo do terror psicológico à aventura infanto-juvenil) é algo incrível e mantém as pessoas interessadas para o formato do episódio seguinte.

Os ganchos propositais deixados de um episódio para o outro também são interessantes, mesmo que eu acredite que essa série seria mais prazerosa de assistir maratonando e não com um episódio por semana. São plot twists que deixam a condução da série imprevisível.

É claro que todos esses elementos trazidos para a série podem se tornar um problema futuramente para a trama – caso ela não seja conduzida com qualidade. Se absolutamente tudo for possível nesse universo – desde bruxos e monstros até máquinas do tempo -, o roteiro começa a se tornar um pouco conveniente. Entretanto, tenho grandes expectativas que a série se manterá com um pé na realidade e o outro no mundo fantástico.

A History of Violence é mais um grande episódio e, junto com Sundown, se torna um dos melhores já lançados até o momento.

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