Lovecraft Country, nova série da HBO criada por Misha Green e baseada na obra homônima de Matt Ruff, estreou no último domingo (16/8) e está movimentando a internet.
Produzida por J.J. Abrams e Jordan Peele, a série mistura elementos do terror cósmico (e weird fiction) de H.P. Lovecraft e a realidade dos Estados Unidos segregador dos anos 1950 para construir uma trama assustadora.
Nesta análise nós faremos uma crítica COM SPOILERS do episódio 1, intitulado Sundown, e, ao término, traremos todas as referências abordadas ao longo da trama. Então, leia por sua conta e risco.
SINOPSE
Há mais de um ano afastado de casa – enquanto prestava serviço militar para os Estados Unidos na Coreia do Sul – Atticus Freeman (Jonathan Majors) ou Tic, como é conhecido, resolve retornar à sua cidade natal (Chicago) após o desaparecimento de seu pai – em condições inexplicáveis.
Ao reencontrar seu tio George (Courtney B. Vance) e sua amiga Letitia (Jurnee Smollett), os três embarcam em uma viagem pela América de Jim Crow dos anos 1950 na esperança de encontrarem o pai de Tic.
ANÁLISE
Lovecraft Country começa com uma ótima apresentação de todos os três principais personagens.
Desde a primeira cena – uma invasão alienígena misturada com a imagem de Jackie Robinson (primeiro jogador negro a ingressar nas principais ligas de beisebol) – é possível perceber como o terror cósmico de Lovecraft se encaixa com a premissa do seriado e seu período histórico.
Assim que inicia o episódio, a produção deixa implícito seu ímpeto de ser grandiosa. Entretanto, os efeitos especiais, nesse primeiro momento, são um pouco simplórios, deixando um pé atrás sobre o que vamos encontrar ao longo da 1 hora e 8 minutos de duração.
Em seu arco de apresentação, Tic se mostra um rapaz culto, apaixonado por leitura e aficionado por obras de conceito pulp. Letitia é uma jovem livre e engajada, mas que não se dá muito bem com sua família.
Para fechar o trio, temos tio George, um personagem forte e determinado, pronto para colocar o bem-estar de todos acima do seu. George é o responsável pelo Guia – uma alusão ao Green Book, livro que mapeava os locais seguros para negros nos Estados Unidos na época da segregação.
É por meio do Guia que os três possuem locais mapeados onde podem fazer uma refeição, dormir ou tomar banho, por exemplo. Entretanto, vários locais ainda precisam ser mapeados, e a busca pelo pai de Tic (até então sem nome) acaba sendo uma motivação a mais para George completar mais uma área de seu livro.
O desenrolar da trama – com os três pegando a estrada e parando em diversos locais hostis -, já deixa claro que os monstros de H.P. Lovecraft podem ser assustadores, mas os seres humanos são ainda piores. O preconceito que o grupo enfrenta em cada local visitado escancara o quão difícil é a realidade que eles enfrentam.
Se a realidade é terrível, a literatura que George e Tic consomem também não é das melhores. Em uma reviravolta fantástica do último ato, somos inseridos em uma sequência de ação que lembra muito as boas cenas de Stranger Things e o pânico que o primeiro Jurassic Park despertava nos telespectadores.
O uso do CGI em um contexto de anoitecer foi uma boa escolha, pois consegue mascarar qualquer problema – ou baixo custo – que possa ocorrer na sequência em questão.
Apesar de algumas montagens apressadas em seus primeiros minutos, buscando logo passar para a parte importante da história (pós-apresentações), o primeiro episódio da série acerta em todas as suas escolhas, empolgando até mesmo os espectadores que já estavam hypados para o lançamento.
A qualidade do roteiro de Misha Green é incrível, principalmente quando ela consegue encaixar discursos e falas reais ao contexto de apresentação da trama, tornando toda a história ainda mais significativa.
REFERÊNCIAS
Ao longo do primeiro episódio de Lovecraft Country, diversos livros e citações são acrescentados à trama.
A primeira referência é a obra Uma Princesa de Marte, escrita por Edgar Rice Burroughs, considerada um clássico da literatura de ficção pulp.
Publicado pela primeira vez em 1912, o livro é o primeiro de uma série sobre o lendário personagem John Carter, um nativo americano e ex-confederado que um dia acorda em Marte e protagoniza diversas aventuras.
Durante a viagem de ônibus de volta para Chicago, Tic pega no sono e sonha com uma mulher descendo de uma nave alienígena, uma provável referência direta à Dejah Thoris, princesa do conto e interesse amoroso do herói.
Outro livro que aparece durante a cena em que Tic apresenta a carta de seu pai ao tio George é o The Outsider and Others do Lovecraft. A publicação reúne uma série de contos do escritor como O Horror Em Red Hook e O Chamado de Cthulhu, bem populares no Brasil e no mundo.
Como já se sabe, o autor era extremamente racista e usava citações e metáforas horrorosas em seus contos. Obviamente esse entendimento não passaria despercebido, sendo criticado pelos próprios personagens durante a cena.
Além do livro, a cidade de Arkham é também uma referência direta a um município criado por H.P. Lovecraft em um seus contos.
Na verdade, o local que eles estão procurando é Ardham, mas Tic lê erradamente o nome na carta escrita por seu pai e acaba referenciando a cidade clássica da literatura. De acordo com o site Fandom, a cidade fictícia foi citada tantas vezes pelo autor que muitas pessoas acreditam que o local realmente existiu.
Uma outra curiosidade é sobre Bideford, local comentado pelo irmão de Leti durante o jantar. Na história – contada pelo irmão – uma mulher foi morta no local por ser considerada uma “bruxa”.
O fato é que não existe uma Bideford em Massachusetts, mas sim na Inglaterra, onde essa história realmente aconteceu.
VEREDITO
Sundown é um ótimo episódio inicial de série, empolgando e marcando o tom de Lovecraft Country.
Trazendo a palavra ressignificação como um ponto interessante na construção de sua narrativa, o seriado se propõe a criar uma obra diferenciada e única. Atrelada a um período vergonhoso na história dos Estados Unidos, o seriado tem tudo para traçar o caminho de Watchmen e quebrar diversas barreiras.
Além da ótima trama e do desenvolvimento narrativo perfeitamente executado, o elenco principal traz atuações incríveis e mostra uma química interessante em conjunto, fazendo os 68 minutos de duração do episódio passarem voando.
Com um cliffhanger bem construído ao término do primeiro episódio, Lovecraft Country mantém o telespectador interessado em saber o que acontecerá na próxima semana de exibição.
Assista ao trailer legendado:
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