CRÍTICA – Benedetta (2022, Paul Verhoeven)

    O filme francês Benedetta do diretor Paul Verhoeven (Robocop) chegou aos cinemas. Com roteiro de David Birke e do próprio diretor, o longa é uma adaptação do livro Atos Impuros da historiadora inglesa Judith C. Brown

    No elenco estão Virginie Efira, Charlotte Rampling e Daphne Patakia.

    SINOPSE

    No século XVII, a jovem Benedetta Carlini (Virginie Efira) é enviada a um convento italiano, crescendo com devoção completa a Deus. Quando a instituição acolhe uma jovem agredida pelo pai, as duas mulheres se aproximam e iniciam um relacionamento proibido. Enquanto isso, Benedetta passa a ter visões, logo alguns enxergam na mulher uma mensageira divina, mas outros a consideram uma farsante perigosa.

    ANÁLISE

    Considerado um dos filmes mais polêmicos do ano, Benedetta traz o teor provocativo e crítico, a marca característica do diretor Paul Verhoeven. Famoso por filmes que discutem tabus da sociedade, Verhoeven faz de Benedetta talvez sua obra mais importante ao debater religião e sexo de uma forma única. 

    O longa, como o livro, se baseia em fatos reais. A freira existiu no início do século XVII em Pescia, uma pequena vila no norte da Itália e teria tido um relacionamento com uma de suas freiras enquanto ela era abadessa do Convento da Mãe de Deus. 

    Logo, Benedetta foi destituída de seu posto e presa quando o Papado descobriu sobre o caso. Ela também relatou ter visões e até recebeu os estigmas. Em 1619, ela afirmou ter sido visitada pelo próprio Jesus, que disse a Benedetta que ela deveria se casar com ele. As pessoas começaram a questionar as declarações de Benedetta, e a investigação que se seguiu revelou o relacionamento proibido.

    O filme de Verhoeven se assemelha em muito aos relatos dos fatos, no entanto, se tratando de uma obra cinematográfica também imagina como foram as visões de Benedetta e tenta dar sentido às suas ações. Dessa maneira, o diretor tem o cuidado de nunca colocar a freira sob um olhar crítico, o que está em jogo é a relação da Igreja para com a sociedade e como esta pode ser hipócrita. 

    Em Benedetta, o corpo feminino é visto como pecaminoso sendo uma construção da visão da Igreja sobre as mulheres. Consequentemente, o filme brinca com esses conceitos, visto que, as visões da protagonista com Jesus são acompanhadas de tensão sexual. Mais do que chocar, o diretor deseja passar uma mensagem, ainda que sem efeito em seu final.

    Isso porque, existe um certo ar de mistério se as visões de Benedetta são reais ou não, mas que aos poucos vai sendo deixado de lado para dar espaço a outras tramas. O impacto que as manifestações de Jesus causam em Benedetta poderia ser maior explorado, mas é nítido que o diretor está mais interessado no impacto que esses acontecimentos causam naquela sociedade.

    Por isso, a personagem tão intensamente vivida por Virginie Efira carrega uma forte convicção de seus atos que surpreende até mesmo a noviça Bartolomea (Daphne Patakia), seu interesse amoroso. O filme até demora para tratar dessa relação vista como pecaminosa, o encontro entre ambas acontece sem pressa por parte do diretor, para depois explodir em cenas íntimas.

    Longe de ser um filme feminista, afinal temos um diretor, Benedetta explora as questões da fé em contato com a atração carnal. Para isso, o extremo físico é abordado de diferentes maneiras em cenas como quando Benedetta obriga Bartolomea a queimar a mão para provar sua devoção ou aquela em que a estátua da Virgem Maria se torna um objeto para penetração. 

    Depois que Benetta dá um novo significado a seu desejo sexual como algo divino, é fácil para a freira se desprender do pecaminoso e afirmar repetidamente que a relação faz parte do “compartilhamento do amor de Cristo”, ainda que mais ninguém ali veja dessa forma. 

    Da metade para o final, quando o filme introduz a Peste e a passagem de um cometa como sinais da ira de Deus, segundo aquela sociedade, o filme começa a perder sua potência. Logo, não é difícil que Benedetta caia em um área de estranhamento, onde não se sabe se o diretor deseja fazer uma sátira da Igreja ou um filme mais sério. Afinal, podem ser ambos ou nenhum. 

    VEREDITO

    Benedetta é um filme intenso que parte de uma história real sobre o primeiro caso lésbico entre freiras reconhecido pela Igreja Católica, onde o diretor conduz veemente a primeira metade do filme propondo verdadeiras discussões sobre fé e desejo sexual. Porém o longa se perde no seu final, querendo fazer realmente um espetáculo, o que parece ser a real intenção do diretor. Ainda que não agrade a todos.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Assista ao trailer:

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