A Netflix tem produzido muito conteúdo com sua marca nos últimos anos e confesso que nem todos eu assisti; e nem todos os que assisti, gostei. No entanto, Viver Duas Vezes (Vivir Dos Veces) entra pra lista dos que acertaram em cheio meu gosto.
Talvez não seja nem tanto o gosto, mas ele bateu forte em certas memórias e contou uma história tão bonita que me cativou. Admiradores do cinema em espanhol, uni-vos e venham ler um pouco sobre meu carinho por este filme.
Como era de se esperar, Viver Duas Vezes está disponível no catálogo da gigante do streaming.
SINOPSE
Emilio (Oscar Martínez), sua filha e sua neta Blanca (Mafalda Carbonell) embarcam em uma louca jornada para encontrar o seu amor de juventude antes de Emilio sucumbir ao Alzheimer.
ANÁLISE
Imagine você qual o resultado se misturassem Pequena Miss Sunshine (2006) com Meu Pai (2020). Talvez houvessem muitas possibilidades dada a riqueza de ambas as obras (cada um em seu gênero), mas Viver Duas Vezes certamente é uma das possibilidades.
Uma longa viagem de carro motivada pelo carinho entre um avô e uma neta, com certas doses de drama e comédia servidas pelo agravamento do Alzheimer de Emilio.
“Me has enseñado a hacer de todo con el teléfono. Menos hablar por teléfono”
As atuações do trio principal são de tirar o chapéu, dando destaque para os dois protagonistas. Oscar Martínez, que interpreta o turrão Emilio, navegando entre a sabedoria de um professor e a inocência forçada pela doença, entrega um trabalho magistral. Talvez só possibilitado pela graça e esperteza de Blanca, personagem de Mafalda Carbonell, atriz de 13 anos de idade.
A química entre os dois é tamanha que eles parecem realmente avô e neta. É lindo ver a relação recheada de brincadeiras, broncas e do mais puro amor. A maturidade da neta para lidar com simplicidade com os problemas que o avô enfrenta é fascinante.
As tramas paralelas como o emprego de Julia (Inma Cuesta), a filha, somado ao caos que vive seu casamento, ajudam a dar a cor certa para a linda pintura que é Viver Duas Vezes.
Falando em pintura, a fotografia do filme é excelente. Núria Roldos conseguiu captar as belezas da paisagem valenciana, trazendo com maestria também, em imagens, as limitações do Alzheimer.
O longa espanhol tem um ritmo delicioso, balanceando os momentos mais tristes com uma comédia agradável, sem nada forçado. Totalmente orgânico.
VEREDITO
Há quem diga que é uma reedição de Diário de uma Paixão (2004). É difícil dizer que uma obra que ganhou tanta fama nos últimos anos não sirva de inspiração. Mas relegar Viver Duas Vezes à uma mera cópia é desrespeitoso.
“No es una S. Es una L”
Ainda assim, Maria Ripoll não busca reinventar a roda ou fazer algo muito mirabolante. Ela se fixou em uma meta e conseguiu atingi-la muito bem. E é isto que faz de Viver Duas Vezes uma obra tão gostosa e leve.
O longa me atingiu de uma forma diferente também porque me lembrou da minha relação com minha avó materna e de nossa relação com um dos principais personagens de Viver Duas Vezes que não aparece nos créditos. O Alzheimer.
A apresentação da doença é inteligentemente bem feita. Tanto na forma como ela ataca a pessoa quanto como a pessoa afetada se sente em relação à esta nova situação imposta. A forma como o esquecimento vai se tornando parte da vida da pessoa, e de quem a cerca, até se tornar uma constante.
É irônico que um filme que aborda o esquecimento tenha me trazido tantas lembranças e revivido algumas saudades. Mas não é sobre doença. É sobre amor. Sobre uma família comum, com problemas, mas que ama acima de tudo e incondicionalmente.
O amor transcende. Não importa se estamos próximos. Não importa se lembramos. O que importa é que o sentimento é maior do que qualquer limitação. E é isso que nos liga. O infinito.
5,0 / 5,0
Assista ao trailer:
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