CRÍTICA – Dementia 21 (2020, Todavia)

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CRÍTICA – Dementia 21 (2020, Todavia)

A juventude é o período em que a maioria das histórias encontra o seu solo mais fértil. Desde contos infantis que trazem elementos fantásticos, passando pelas descobertas da adolescência e culminando na fase adulta, quando confrontamos nossos medos e receios sobre o futuro. Quando retratada a “velhice”, seja em dramas ou sátiras, resta inúmeras vezes apenas a contemplação da solidão e do obscuro. Dementia 21, lançamento da Editora Todavia escrito por Shintaro Kago, apresenta de maneira sarcástica e divertidíssima a forma como tratamos aqueles a quem temos muito a agradecer.

Contada na perspectiva de Yukie Sakai, uma cuidadora de idosos que trabalha para a empresa Green Net, Dementia 21 reúne 17 histórias bizarras sobre a terceira idade e o abandono, tendo em muitos momentos uma abordagem vinculada diretamente à cultura pop japonesa. Com apelo emocional ao término de cada conto, Shintaro consegue fazer valer seu ponto sem cair nos clichês, usando o absurdo como ferramenta de conscientização.

Originalmente publicado no Japão em sete volumes, Dementia 21 possui ao todo 37 histórias. Nesse primeiro volume disponibilizado pela Todavia, nós encaramos histórias sobre vírus do envelhecimento, dentaduras assassinas, Jogos Vorazes de idosos e até um ENIM (Exame Nacional do Idoso-Modelo). Em cada conto, o elemento surreal é levado a um novo patamar, despertando sentimentos singulares de divertimento e frustração em quem está lendo.

Shintaro Kago é responsável não só pelo roteiro, mas também pelas artes. Com estilo clássico de mangá – o livro é todo em preto e branco -, os traços de Dementia 21 são exagerados e passam toda a sensação de loucura que a história entrega. A cada novo quadro, temos elementos que traduzem a urgência da situação e o desespero de Yukie com mais uma experiência perturbadora durante sua jornada de trabalho.

CRÍTICA – Dementia 21 (2020, Todavia)

Os elementos da cultura pop japonesa podem ser mais palatáveis para aqueles que já consomem algum produto da indústria oriental. Grupos como o AKB48 (idols femininas), atores e atrizes famosos em novelas orientais e até personagens “estilo” Ultraman são referenciados, escancarando que aqueles ícones que hoje você prestigia e ama também irão envelhecer – e precisarão de ajuda.

Por se tratar de uma sátira, há também alguns estereótipos que são incansavelmente utilizados. É o caso da rivalidade nora e sogra, que tanto vemos em literaturas e entretenimento no geral. Shintaro encontra uma forma de encaixar a maldade como algo recorrente entre as mulheres do quadrinho, sendo Yukie uma das poucas que não são vistas dessa forma. Esse talvez seja o único ponto negativo da publicação.

Em um dos contos, que é provavelmente o meu favorito, idosos se cansam dos mandos e desmandos dos mais jovens – e do descaso do governo – e resolvem buscar por vingança, subindo um em cima do outro e formando um grande monstro que sai pela cidade destruindo tudo que encontra. Em outra história, uma pilha de contêineres forma um grande complexo para abandonar idosos, e é nesse local que eles criam basicamente um novo governo.

CRÍTICA – Dementia 21 (2020, Todavia)

Com muita criatividade e ousadia, Dementia 21 é uma publicação fantástica e de fácil leitura, que consegue agradar até aqueles que nunca tiveram contato com publicações do gênero. Uma incrível obra que merece a sua atenção.

Nossa nota

 

Sobre o autor:

Um dos mais cultuados artistas dos mangás da atualidade, Shintaro Kago faz parte do grupo de expoentes do gênero ero guro nansensu, tradição nascida nos anos 1930 e que usa o humor, o grotesco e o nonsense para falar de forma ácida da sociedade japonesa, de suas normas e tabus. Neste que é um de seus mais celebrados trabalhos, Kago-san criou uma obra-prima cômica sobre os percalços de uma dedicada cuidadora de idosos.

Editora: Todavia

Autor: Shintaro Kago

Páginas: 280

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