CRÍTICA – BoJack Horseman – (6ª temporada – Segunda parte, 2020, Raphael Bob-Waksberg)

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BoJack Horseman chegou ao fim no dia 31/01/2020 na Netflix, terminando uma era de grandes personagens. Com um texto afiado, uma dublagem excelente e uma história sensacional que mistura humor com dramas relevantes como misoginia, depressão, sexualidade e solidão, a série do cavalo mais famoso da gigante do streaming vai deixar saudade, pois foi construída de forma magnífica pelos seus roteiristas.

ESSA PUBLICAÇÃO CONTÉM SPOILERS: LEIA POR SUA CONTA EM RISCO!

TRAMA DE BOJACK HORSEMAN

Retomando as questões abordadas da primeira parte, dois jornalistas continuam sua caçada à verdade por trás da morte de Sarah Lynn (Kristen Schaal). BoJack Horseman (Will Arnnett), agora um professor de faculdade de teatro, tenta se aproximar de Hollyhock (Aparna Nancheria).

Dyane (Alison Brie) tenta ter uma vida normal em Chicago com seu namorado Guy (Lakeith Stanfield). Os demais personagens seguem quase estabelecidos. Todd (Aaron Paul) possui um relacionamento firme e precisa de um fechamento com sua mãe. Mr. Peanutbutter (Paul F. Tompkins) tenta lidar com as consequências de sua traição com Picles e Princess Carolyn (Amy Sedaris) está consolidada como uma agente de sucesso e uma boa mãe, uma vez que agora é uma das mulheres mais poderosas de Hollywoo.



ANÁLISE

A segunda parte da sexta temporada conta com diversos acertos, mas começaremos pelos seus erros que foram poucos.

Apesar de ter um dos melhores episódios da temporada e um dos melhores diálogos de toda a série, o arco de Diane foi o mais desinteressante dentro do que foi apresentado dos demais personagens. A escritora tem uma personalidade difícil e bem construída ao longo dos seis anos da série, todavia, seu final é o mais fraco, mesmo sendo um bom fechamento para a personagem.

Diane nunca teve uma vida comum e feliz, e a tentativa de conseguir é o seu fim, poético, mas pouco para uma das personagens mais complexas de BoJack Horseman.

Outro problema é a fluidez da trama. Os arcos de Mr. Peanutbutter, Princess Carolyn e Todd formam barrigas dentro da história. Se seus arcos tivessem sido finalizados na primeira parte, a segunda seria perfeita em sua execução. O correto seria focar nos desenvolvimentos de BoJack e Diane para fechar de uma forma “mais redonda” a temporada, entretanto, as histórias paralelas não incomodam ao todo, só atrapalham um pouco o que poderia ter sido épico.

Já sobre os acertos, temos vários aqui. Três episódios específicos deveriam receber um prêmio pelo que foi apresentado! Vamos falar um pouco dos três:

EPISÓDIO 10 (Good Damage)

O episódio inteiro é focado em Diane e aborda depressão e fuga dos nossos problemas por meio de medicação.Vemos o quão danosos os relacionamentos, amorosos ou não, foram para a escritora. A perspectiva dela em relação a sua família, amigos e seu ex-marido, Mr. Peanutbutter, nos faz enxergar como é difícil ter uma estabilidade emocional no meio de tanta pressão. Por mais que as pessoas tentem nos ajudar, sempre temos uma cobrança interna muito forte, algo que é demonstrado de forma exemplar na série.

EPISÓDIO 12 (Xerox of a Xerox)

O segundo ponto alto e um dos melhores episódios de toda a série, Xerox of a Xerox é sobre ego, culpa e angústia. A entrevista que BoJack dá para um canal de fofocas nos mostra o quanto o astro de Horsin Around é mesquinho e narcisista, pois o personagem fica querendo que as pessoas o amem mesmo quando ele comete um ato monstruoso. O protagonista tenta sair como um exemplo de herói e acaba saindo como o grande vilão, corretamente, mostrando, de fato, a sua verdadeira face de pessoa egoísta e maldosa com todos que o rodeiam.

EPISÓDIO 15 (The View of Halfway Down)

O episódio mais intenso e complexo de toda a temporada, quiça de toda a série! BoJack está desacordado e encontra todos seus entes queridos e Zack Braff (Scrubs). Numa jornada de regressão, dor e sofrimento, BoJack Horseman enfrenta todos os seus demônios reencontrando Herb Kazzaz (Stanley Tucci), Sarah Lynn, Beatrice Horseman (Wendie Malleck), Corduroy (Brandon T. Jackson), seu tio e pai que morreram tragicamente.

Questões como aceitação e negação da nossa mortalidade, o medo da solidão e do fim são apresentados de forma poética e avassaladora neste episódio. A culpa de BoJack vem como um soco na cara do espectador e toda a construção de cenas é uma obra-prima. O fato do melhor amigo do protagonista, Herb Kazzaz, ser o apresentador é algo genial, pois foi ele quem apresentou ao cavalo mais famoso da Netflix todo o mundo do show business, nada mais justo do que ele apresentar o fim.

O grande acerto da temporada foi ir mais fundo na cabeça de BoJack e entender o que ele sente. Não existe um certo ou errado aqui, só consequências dos atos de cada um, mostrando que todos os personagens são seres com problemas reais e, ao mesmo tempo, complexos, algo que é um fardo da nossa geração millenial que não soube lidar com os problemas passados pelos nossos pais.



CONCLUSÃO

Ao longo de seis anos vimos uma aula de criação de personagens. O trabalho dos roteiristas foi impecável e deve ser aplaudido de pé. As histórias de todos os personagens foram muito bem construídas, assim como suas personalidades.

O diálogo final de Diane e BoJack falando sobre todos os problemas e situações nas quais o egoísmo e narcisismo de Horseman passaram por cima de tudo e de todos fez com que ela crescesse como pessoa. O fato do cavalo ser tudo aquilo que não queremos fez todos evoluírem e se desenvolverem como pessoas, ou seja, BoJack foi um mal necessário a todos.

Os criadores não terminarem a série com um final feliz foi um grande mérito que fechou com chave de ouro ao som de Mr. Blue, canção de Catherine Feeny, se consolidando como uma das melhores séries da atualidade.

BoJack Horseman vai deixar muita saudade na vida deste crítico.

Nossa nota

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