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    CRÍTICA: ‘Persona 3 Reaload’ chega ao Nintendo Switch 2

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    Persona 3 Reload foi um dos remakes mais aguardados, já que o título, na era do PlayStation 2, conquistou diversos fãs pelo mundo. Uma verdadeira aula de como fazer um remake sem perder a essência criada pelo clássico, e ainda apresentar a franquia para novos jogadores.

    O remake moderniza a franquia com gráficos totalmente refeitos, adições de cenas extras entre os personagens, nova dublagem e músicas novamente incríveis e apaixonantes. Apresenta muitas melhorias de vida e torna a jornada muito mais agradável de se aproveitar.

    O jogo foi lançado oficialmente no dia 2 de fevereiro de 2024 para PC, PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series X/S; porém, agora, no dia 23 de outubro de 2025, está chegando para o Nintendo Switch 2.

    Agradeço à Sega Brasil por fornecer uma chave antecipada do game, para que eu pudesse jogar e produzir este e outros conteúdos. Dessa forma, consigo contar como foi minha experiência com Persona 3 Reload em 2025, no novo híbrido da Nintendo.

    Sinopse

    Mergulhe na Hora Sombria e desperte as profundezas do seu coração. Persona 3 Reload é uma reimaginação cativante do RPG que redefiniu o gênero, agora repensado para a era moderna com gráficos e jogabilidade de ponta.

    Apenas no Switch 2

    Persona 3

    O game está chegando apenas para o hardware mais atual da Nintendo, o Switch 2, pois a Atlus informou que seria muito difícil trazer o jogo para o Switch 1 e o 2 ao mesmo tempo, já que isso causaria um atraso bem grande no lançamento do jogo.

    Então, a versão de Switch 1 foi considerada e descartada para dar foco ao console mais atual. Provavelmente, também decidiram priorizar essa versão para não se distanciarem da data de lançamento do Switch 2 e, claro, por conta do seu novo poder gráfico, com um novo processador da Nvidia e a possibilidade do uso do DLSS.

    Persona 3 Reload já se provou um excelente remake e, aqui, demonstra isso novamente. Jogá-lo em modo TV ou em modo portátil é incrível, principalmente no modo portátil, onde parece surreal um jogo como esse rodando na palma da sua mão.

    Inclusive, o jogo contém uma demo disponível na eShop, e eu recomendo que você jogue, pois é possível aproveitar o game até o primeiro grande boss — e isso significa muito conteúdo para curtir, podendo testar o jogo diretamente com todas essas melhorias, rodando na sua mão e com localização em PT-BR.

    Você pode carregar o seu save para o jogo final depois, e isso é bem importante. Eu joguei a demo antes de saber da notícia do recebimento da chave e, assim que abri o jogo, ele já identificou meu save da demo e perguntou se eu queria carregá-lo. Não tive problema nenhum, portou o save corretamente e continuei de onde parei.

    O jogo está lindo no Switch 2, o que me surpreendeu. Mas não só isso: o novo hardware dá conta do recado, sim. Vi diversas reclamações sobre o Switch 2 não rodar bem o P3R em questão de performance, e entendo as reclamações, principalmente numa demo.

    Porém, ao jogar o game completo, notei que já está bem melhor mesmo. Os 30 FPS são bem satisfatórios e se mantêm por muito tempo. Eu só vi leves quedas de FPS correndo pelo Tártaros em alguns momentos. No dia a dia, em batalhas etc., não vi quedas de FPS durante toda a minha gameplay. Também não tive outros problemas, como o jogo fechar, congelar ou bugar.

    Meu maior medo era que o jogo, visualmente, não entregasse algo bom, ficando esticado ou com muitos defeitos visuais na tela do portátil ou na TV com o Switch 2. Felizmente, isso não aconteceu: o jogo é muito bonito em ambos os casos.

    Lembra bastante a experiência do PS4, porém um pouco melhor.

    O Jogo

    Persona 3 Reload é um JRPG por turnos completo, com todos os detalhes bem trabalhados, com a alma do clássico, mas com cara de moderno.

    Consegue entregar uma experiência completa de JRPG na modernidade. As melhorias de vida vão além de salvar a qualquer momento e acelerar o game: estão presentes nas músicas, textos, dublagem, batalhas, na possibilidade de trocar equipamentos sem precisar ir ao Tártaros e falar com um personagem por vez. Estão também nos gráficos, nas legendas em PT-BR e muito mais.

    Persona 3

    Começamos o jogo controlando nosso protagonista, um estudante recém-transferido. No caminho para o dormitório designado, vemos caixões por toda parte e, nesse primeiro momento, não entendemos o motivo. Mas, em poucos dias, somos apresentados à trama do jogo e à sua jogabilidade.

    Enfrentaremos desafios na Hora Sombria, ao entrarmos na torre de Tártaros com nossa equipe. Subiremos andar por andar, eliminando sombras e descobrindo o motivo da existência dessa torre. Aqui também entendemos que o jogo funciona como um Dungeon Crawler.

    A cada vez que entramos no Tártaros, ele estará diferente, com itens e sombras em locais novos, tornando a experiência cheia de novidades. Além disso, essa foi uma parte do jogo que, no clássico, acabava enjoando rapidamente, mas aqui melhoraram muito a experiência no remake. E, sim, conforme avançamos, a temática, as sombras, os itens etc. vão mudando.

    Persona 3

    Conforme enfrentamos essas sombras, teremos a hora das cartas, onde podemos adquirir novas Personas, que podem ser fundidas na Velvet Room. Esse local é de extrema importância para a história — vamos conhecê-lo no começo do jogo, mas, além disso, é nosso hub para melhorar nossas Personas. Devemos sempre fundi-las para obter versões mais fortes que nos levarão ao fim do jogo.

    Mas vai além: no dia a dia, temos atividades escolares, trabalhos etc. que podemos realizar, mas também temos os Vínculos Sociais. Fortalecer esses vínculos faz com que nossas Personas se tornem ainda mais fortes e, além disso, acompanhamos a história do jogo de forma mais profunda. Cada Vínculo Social tem uma história e uma reflexão sobre a vida, e isso é muito importante.

    Persona 3

    Persona 3 Reload apresenta sua história em diversos diálogos e textos, então a parte de vida social é basicamente uma visual novel, muito bem construída e adaptada, com diversos temas difíceis de serem abordados e, em outros momentos, mais leves, já que a vida tem altos e baixos. Com certeza, você levará vários momentos desse jogo para a sua vida.

    Assim como não duvido que as músicas fiquem na sua playlist por muito tempo.

    Persona 3

    O estilo de combate por turnos é muito divertido, você quer testar o máximo de Personas possíveis, explorar as possibilidades para descobrir as forças e fraquezas de cada inimigo. Principalmente porque, nesse jogo, ao acertar uma fraqueza, você ganha uma ação extra. Mas os inimigos também podem obter essa vantagem se acertarem a fraqueza do seu time.

    Por isso, pensar com cuidado e ter uma boa estratégia renova a gameplay e te faz avançar muito. Esse é um título que vai além de apenas seguir em frente e atacar sem pensar.

    Vale o Preço?

    • Persona 3 Reload, em sua versão base, está custando R$ 299,90. Além dela, temos a versão Deluxe, por R$ 349,90, e a versão Premium, por R$ 444,50.
    • Na versão Deluxe, você receberá também o Livro de Arte Digital e a Trilha Sonora Digital. Já a versão Premium adiciona mais trajes para você utilizar.
    • Nas pré-vendas, todas essas edições têm um bônus: o Kit MF Persona 4 Golden (bônus exclusivo para compras até a data de lançamento).

    Porém, ainda não temos a DLC Episode Aigis nem o Expansion Pass. Foi revelado pela Sega que a DLC estará disponível no dia 23, o dia do lançamento do game.

    Então, sim, o jogo veio custando o preço de um título novo. Mas ele vale a pena se você é muito fã de Persona, queria jogar esse jogo, mas só tinha Switch, e agora adquiriu, ou vai adquirir, um Switch 2. Com certeza, esse título não pode passar despercebido. Já deixa ele na wishlist, baixe a demo e curta bastante.

    E, se você for uma pessoa que gosta muito de JRPGs, ainda não jogou Persona e está pensando em começar, o Persona 3 Reload é a melhor porta de entrada da franquia. Com certeza, você vai se apaixonar e não vai querer soltar o controle, fazendo valer cada centavo investido.

    Já que esse é um jogo feito com muita atenção, carinho e conteúdo, não duvido que, assim como eu, você passe mais de 100 horas jogando e querendo viver ainda mais dessa experiência incrível que Persona 3 Reload apresenta.

    Em caso de aquisição física do jogo, ele será no formato Game Key Card, o que divide opiniões. Você terá um cartucho na caixa, mas nele há uma chave de validação (que, sim, pode ser reutilizada, não ficará vinculada ao seu console ou conta). Isso faz com que jogos que precisam de mais velocidade tenham bom desempenho no Switch 2, mas, sim, desagrada os fãs colecionadores de mídias físicas (me identifico aqui).

    Conclusão

    Joguem Persona 3 Reload.

    Ah, ok, não posso dizer só isso, não é? Persona 3 Reload já foi lançado há algum tempo, então sim, ele já se provou um bom jogo. Muitos dos elogios que escrevi aqui nem são novidade. É um ótimo JRPG, com turnos, história e diversos conteúdos bem trabalhados e bem amarrados.

    O que afasta é o preço cheio, já que ele foi lançado em outras plataformas, já esteve no Game Pass (finado Gema Pass, né?) e já recebeu diversas promoções nessas plataformas. Espero ver o game em promoção no Switch 2 em breve também, tornando-o mais acessível para diversas pessoas.

    Ainda assim, é um ótimo jogo a se considerar. Se você não tem essas outras plataformas e chegou agora ao Switch 2, ou está comprando o novo console, Persona 3 Reload vai te ajudar a aproveitar ainda mais o seu novo videogame, e provavelmente mostrar que valeu cada centavo do investimento.

    É fã de JRPGs, turnos, história densa, batalhas estratégicas, dungeon crawler, visual novel e mais? Persona 3 Reload é para você.

    Confira o trailer do game:

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    CRÍTICA: Com uma história sombria e reflexiva ‘Bye Sweet Carole’ é um excelente jogo

    Um bom conto de fadas sombrio, sempre que possível, é uma boa oportunidade de aproveitar uma história. Isso, ampliado em uma experiência de jogo, se torna muito melhor pela imersão que a interação que os games proporcionam para os seus usuários e, com uma estética chamativa, vai despertar a curiosidade, como é o caso do título Bye Sweet Carole

    Inspirado em animações clássicas, o jogo é desenvolvido pela Little Sewing Machine, liderada pelo artista Chris Darril, responsável pelo roteiro e direção, tendo seu lançamento ocorrido no dia 9 de outubro para PlayStation 5, Xbox Series X/S, Nintendo Switch e PC via Steam. 

    A história de Bye Sweet Carole é ambientada na Inglaterra do século XX. Enquanto o movimento sufragista começa a redefinir a sociedade, a jovem Lana Benton procura por sua amiga desaparecida, Carole Simmons. 

    Bye Sweet Carole

    Sua jornada a leva até o orfanato Bunny Hall e ao misterioso reino de Corolla, um lugar controlado pelo sinistro sr. Kyn, a implacável coruja Velenia e enxames de terríveis coelhos de piche, enquanto outros habitantes a chamam pelo título de princesa.

    Mergulhando entre dois mundos, vamos descobrir, através dos olhos de Lana, a assombrosa verdade escondida no desaparecimento de Carole. 

    Sweet Carole é um jogo que, visualmente, vai impressionar os jogadores em uma narrativa que vai ser muito impactante, mesclando um momento histórico muito importante com referências a alguns contos que são muito conhecidos. 

    Impressiona em diversos níveis, como a escolha criativa de usar o formato de animações clássicas consegue fluir de forma tão natural na experiência de jogo, pois, quando vemos a movimentação de Lana pelo cenários, sua interação com os objetos ou demais personagens que estejam no mesmo quadro, não ocorrendo nenhum tipo de bug ou qualquer forma de descontinuidade.

    Bye Sweet Carole

    Isso vai resultar em uma experiência de jogo que vai despertar um sentimento nostálgico, por se tornar um conto de fadas interativo, porém com uma narrativa muito mais sombria e reflexiva. 

    As mecânicas de jogo são muito fáceis de se aprender, o que acaba se tornando uma experiência de jogo menos desafiadora, com o foco muito maior na resolução de quebra cabeças e em se esconder de inimigos do que essencialmente em um combate. Nesse elemento de luta, é possível encontrar uma semelhança com Cuphead pela combinação do visual com o confronto contra os coelhos de piche e outros inimigos que irão surgir no caminho.

    Bye Sweet Carole

    Apesar da sua aparência de algo mais mágico, em diversos momentos Sweet Carole vai nos lembrar que é um conto do gênero de terror, através dos monstros que irão surgir na história, as cenas que ativam quando erramos em alguma ação ou ser derrotado por inimigos. E isso é interessante, porque sempre nos coloca na direção do peso narrativo que o roteiro pretende nos contar. 

    Falando no enredo, acredito que esse seja o ponto que merece elogios quanto a experiência desse jogo, porque é uma ideia original, cheia de referências muito fortes, como Alice no País das Maravilhas, e, sem revelar os detalhes mais importantes, pude compreender que os acontecimentos com Lana são uma jornada de autodescoberta em concomitância a um mundo que está em uma revolução, onde uma mulher com a sua coragem se torna de grande importância. 

    Bye Sweet Carole é uma experiência visual e narrativa que vai impressionar: uma jogabilidade que irá colocar o jogador na condição da protagonista, podendo explorar o mistério sombrio por trás do desaparecimento de uma pessoa tão querida. 

    Confira o trailer do game:

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    PREVIEW: ‘Anno 117: Pax Romana’ eleva a franquia ao seu auge

    Antes mesmo de pertencer à Ubisoft, a franquia Anno surpreendia por como nos mostrava o que se propunha a fazer. Graças às limitações gráficas e de gameplay cumpria o que se propunha de maneira rica, porém, limitada. ‘Anno 1602: Creative of a New World‘ nos lançava à época das grandes navegações, e havia sido o título ambientado mais ao passado desde então. Fui surpreendido pela Ubisoft ao receber o convite para analisar Anno 117: Pax Romana.

    Não por não entender muito as dinâmicas por trás, do gênero, mas pela frustrações que city builders e games rts costumam me trazer. De modo que estes tenham me tirado muito da imersão.

    Em Anno 117, tive algumas sensações parecidas em uma das minhas runs, apenas para entender melhor como as dinâmicas do game se davam. E acho que isso faz parte do ciclo de gameplay. Jogar e repetir apenas para dar ao nosso “Império” a glória que ele merece.

    A Ubisoft acerta ao nos inserir no contexto da Roma. Optando por diversos conceitos já conhecidos, mas adentrando nas minúcias de uma sociedade bem diferente da nossa, o game nos força a compreender como essa sociedade funciona.

    Anno 117

    Com dois modos muito bem definidos, Anno 117: Pax Romana nos permite escolher entre o modo história e o sandbox. O primeiro modo muito me chama atenção, mais por enfrentarmos a realidade e o impacto das nossas ações na sociedade que estamos prestes a criar. No controle da cidade Juliana, é possível escolher entre os dois irmãos — com histórias bem diferentes.

    Anno 117: Pax Romana será lançado para PC, PlayStation 5, Xbox Series X/S no dia 13 de novembro de 2025.

    Talvez, daqui em diante, eu aborde mais sobre o modo história do que o modo sandbox.

    Irmãos, diferentes backgrounds e rumo da história

    Anno 117

    A Ubisoft Mainz desenvolveu o jogo que nos coloca no controle dos irmãos Marcia Tertia ou Marcus Naukratius, o game nos oferece um background e história bem diferentes. Desde uma jovem prometida a um governador, filho do Imperador. Até o irmão, um homem sentenciado pelo seu próprio pai a viver como um servo — ou apenas trabalhar.

    Anno 117: Pax Romana surpreende os jogadores por como envereda sua história, mas também pelos caminhos narrativos e de gameplay. Os diferentes backgrounds tem um impacto na jornada tanto de Marcia, como de Marcus. Ambas as jornadas nos colocam no controle da recém-criada Juliana. Vindos do Egito, cada irmão possui uma jornada distinta. Marcia cuida da cidade e das finanças sem nunca ter visto seu futuro marido, e Marcus precisa ter um choque de realidade e mudar de vida, fazendo a cidade de Juliana crescer.

    Anno 117

    Durante suas jornadas, os dois recebem a missão de reconstruir a cidade. Mas é o Imperador quem lhes confia a missão. O nosso primeiro ajudante em Juliana é o escravizado Ben-Baalion, um homem sábio que nos auxiliará na jornada desde os primeiros minutos.

    Com clássicos elementos da fundação da cidade, Anno 117 possui alguns detalhes interessantes. Desde como de qual forma lidaremos com a situação dos escravizados — algo presente na Roma Antiga e até bem depois —, bem como a dinâmica de como Marcia precisa se provar valorosa em um mundo governado por homens. Sendo questionada o tempo todo por suas ações e tendo missões opcionais de acordo com a personagem, o game faz todas as dinâmicas serem ricas.

    Paixão por algo, após enorme frustração

    Anno 117

    Ouso dizer ainda, que alguns dos elementos que me fizeram sentir incomodados, são agora, os mesmos que me fizeram sentir vontade de jogar o jogo sem parar.

    A riqueza de detalhes e dinâmicas, fazem de Anno 117: Pax Romana um dos pontos mais altos da franquia. Belezas referentes às mecânicas muito particulares, assim como os múltiplos passos para o sucesso da jornada ainda é algo que me deixam encucado.

    A criação de templos e grammaticus favorecem bastante nossa progressão e nos auxiliam. Os templos nos permitem escolher os deuses patronos, que proporcionam diferentes buffs. Céres, Netuno, Marte e outros, nos guiam em caminho do reino que queremos nos tornar. Céres nos dá buff em colheitas e produção de itens que ocasionam nas melhorias das habitações, Netuno nos dá um buff relacionado à embarcações e pesca, já Marte, nos favorece em combate e no controle/progressão de tropas de defesa e ataque.

    O Grammaticus, citado anteriormente, nos proporciona a possibilidade de realizar pesquisas que só nos farão avançar. Desde pesquisas avançadas, que nos possibilitam melhorar os quartéis, os depósitos ou até mesmo os muros e as ruas da cidade, Anno 117 faz esta ser a jornada mais profunda dos games até hoje. Relembrando aos jogadores fatos interessantes de criações e costumes romanos, como o uso de roupas feitas de cânhamo, ou a criação de rodovias, aquedutos e afins, o game surpreende e mostra o imenso trabalho de pesquisa feito.

    Jornada, eventos randômicos e criação de um sentido de “povo”

    Revelando até mesmo embates entre os celtas e os romanos, o game nos oferece a opção de escolher de qual lado ficar. Atingindo marcos referentes a seguidores, habitantes e afins, a cidade pode prosperar. Nos rebelando contra o Império ou não, depende de nós escolher como guiaremos nossa jornada. Ao lado de Ben-Baalion, seja com Marcia ou Marcus, cada personagem encontrará um desafio muito pessoal. Seja o motivo de se provar como uma mulher regente em meio à tantos homens, ou como o jovem que precisa superar suas próprias dúvidas e ascender como o regente apontado pelo Imperador.

    Com quicktime events, como ataques, festivais e celebrações, a ilha precisa estar pronta para qualquer problema que surgir. Mesmo que o problema sejam os próprios habitantes da ilha — que ocasionalmente causam incêndios sem querer — que podem vir a se rebelar, ou causar problemas maiores.

    Anno 117 surpreende por como conta a sua história, mas ainda mais pela maneira como desenvolve seu jogo. É quase palpável perceber o efeito direto de nossas ações, causa e consequências se manifestam diante de nós. A forma como cuidamos de nossas cidades, transformando-as de um simples descampado em uma vila rural e, por fim, em uma metrópole romana como as conhecemos e idealizamos, é tão envolvente quanto gratificante.

    Por meio de costumes, ou pela interação com os habitantes daquele lugar, nosso personagem, a/o regente nomeado pelo Imperador, ambos precisarão prosperar mesmo quando tudo se puser contra eles e o sucesso da ilha e de seu povo. Sendo deixados de certa forma à própria sorte, Marcia ou Marcus precisam escolher por qual caminho guiarão sua própria ilha, escolhendo para si e seu povo o que é de fato ser romano.

    Confira o trailer do game:

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    CRÍTICA: ‘Ghost of Yōtei’ é a grande sequência de um jogo querido

    Em 2020 Ghost of Tsushima foi lançado sendo um sucesso de crítica, público e conseguindo alguns prêmios, agora cinco anos depois chega a sequência dessa obra dos universo dos games. Ghost of Yōtei chegou no dia 2 de outubro desenvolvido pela Sucker Punch responsável pelo antecessor e publicado pela Sony Interactive sendo lançado momentaneamente como um exclusivo para Playstation 5.

    A história deste novo capítulo é ambientada 300 anos após os acontecimentos do capítulo em Tsushima em uma história ambientada no Japão rural do século XVII tendo como protagonista Atsu, uma mercenária solitária, atormentada pelo passado em uma jornada de vingança à caça daqueles que, muitos anos antes, assassinaram a sua família em sua infância.

    Da mesma forma que Ghost of Tsushima foi uma experiência maravilhosa acredito que essa nova aventura em Yōtei alcançou o mesmo patamar de satisfação através das melhorias em alguns aspectos, mudanças simples na sua jogabilidade, um mundo amplo que proporciona diversão ao explorá-lo e visuais espetaculares.

    Ghost of Yotei

    Em primeira análise, por incrível que pareça os detalhes do jogo que mais vão chamar à atenção nesse jogo estão conectados a melhora na funcionalidade que temos em administrar a nossa jornada com pequenos cartões divididos na história principal, contos, outras atividades que estão disponíveis no mundo em um visual muito mais limpo, com fácil compreensão das possibilidades e qual caminho deseja seguir na sua progressão de jogo.

    Falando nisso, foi muito satisfatório explorar a região de Yōtei e continuar esbarrando com pequenos acontecimentos, seja para proteger um morador, enfrentar um ronin em busca da cabeça de Atsu por uma recompensa e até mesmo a presença de um vendedor ambulante oferecendo cosméticos ou algum suprimento.

    Apesar dessa dinâmica de jogo ser conhecida do seu antecessor a possibilidade de encontrar outras figuras itinerantes no mapa acrescentam uma camada de vivacidade que vai ser um incentivo a andar por esse mundo, a pé ou cavalgando, não apenas para buscar uma melhoria de personagem, mas também pela simples curiosidade do que vai estar pelo seu caminho.

    Ghost of Yotei

    Durante essa parte de exploração também temos disponível a possibilidade de estabelecer um acampamento em qualquer setor do mapa com a opção de fazer um pequeno minigame de acender a fogueira utilizando as funcionalidades do controle dual sense.

    Enquanto estamos com essa pequena base estabelecida podemos receber a visita de nossos aliados com alguma novidade ou melhoria que estará disponível e habitantes que durante um bom bate papo darão informações sobre Os Seis de Yōtei, alvo principal de Atsu.

    Esse aprimoramento na jogabilidade é interessante por ser de grande utilidade quando estamos em uma localidade muito distante para algum objetivo de jogo e queremos fazer uma melhoria naquele exato momento. Com essa opção não precisamos recorrer a viagem rápida e retornar para onde estamos otimizando o tempo da jogatina.

    Ghost of Yotei

    Ainda sobre o deslocamento no mapa foi surpreendente como utilizei tão poucas vezes a viagem rápida e isso se vale por ser tão prazeroso andar por Yōtei e sua linda ambientação digital que foi desenvolvida para essa jornada.

    O trabalho no aspecto visual é válido de grande admiração com a concepção de um universo que tem variedade no seu bioma, design de personagens, efeitos sonoros e trilha, elementos climáticos impressionantes como chuva, neve e até o vento enquanto Atsu está a cavalo impressionam fazendo dessa mescla de elementos uma experiência cinematográfica e isso se conecta diretamente, a jogabilidade com os planos de câmera que vão tornar cada combate da protagonista algo digno de um grande filme do gênero chanbara.

    Outro detalhe muito interessante relacionado a esse tema é o retorno do modo Kurosawa, um filtro que faz uma homenagem ao diretor de Os Sete Samurais e Ran colocando uma faceta mais clássica na jogabilidade.

    Ghost of Yotei

    Em Yōtei outros dois modos são acrescentados na estética cinematográfica do diretor Takashi Miike, conhecido pelo filme O Teste Decisivo (The Auditon) mudando a estrutura da fotografia do jogo, aumentando a violência e o caos dos combates ao intensificar a quantidade de sangue e lama, aproximar a câmera durante as lutas e criar uma atmosfera mais suja.

    O outro modo é inspirado no diretor Shinichirō Watanabe de Cowboy Bebop e sua mais recente produção Lazarus substituindo a trilha sonora por um tema lo-fi, supervisionado pelo próprio cineasta que vai fazer a aventura de Atsu ficar ao melhor estilo Samurai Champloo.

    Diferente da nossa jornada com Jin Sakai, com Atsu temos um arsenal mais variado com a Katana que já conhecemos além da possibilidade de uma postura com duas delas, a Odachi uma espada larga com manuseio de duas mãos, Yari que é uma lança e a Kusarigama uma foice com corrente e essas armas vão substituir as posturas de combate que utilizamos no primeiro jogo para vencer os diferentes tipos de inimigos que temos.

    Ghost of Yotei

    Essa mudança me agradou muito porque anteriormente, ainda que precisando fazer algum esforço além, era possível vencer inimigos sem necessariamente mudar a postura, o que resultava em algumas vezes colocar essa mecânica em um segundo plano.

    Em Yōtei somos incentivados a ter mais agilidade na manipulação dos comandos para que alternas entre as armas para vencer os nossos adversários como, por exemplo, enfrentar um inimigo comum com uma katana ao mesmo tempo que um lanceiro irá nos atacar sendo necessário alternar para a katana dupla para se ter vantagem sobre esse adversário e derrotá-lo.

    Ghost of Yotei

    Em essência essa mecânica de combate não é diferente do que já conhecíamos da experiência anterior, mas essa melhoria coloca os confrontos com os adversários em um patamar mais desafiador porque não vamos apenas enfrentar o que surgir a nossa frente, mas ter atenção ao que temos em mãos mapeando os nossos arredores para equilibrar a defesa com um ataque que a medida que vamos vencendo sem sofrer dano alcançamos o estado Onryō que funciona como um especial de luta.

    A evolução de personagem é muito prática com uma árvore de habilidades muito intuitiva, mas a novidade que me agradou foi a podermos melhorar concomitantemente a protagonista uma Loba que iremos estabelecer um vínculo que será muito importante para os desafios que iremos enfrentar.

    O enredo dessa nova história é muito interessante e sem falar sobre as grandes revelações que acontecem ao longo dessa jornada é possível encontrar elementos que são parecidos com a nossa luta por defender Tsushima, com a diferença de ser uma jornada de vingança do que algo com objetivos mais virtuosos como defender o seu lar.

    Atsu é uma personagem que é muito ferida pela sua tragédia pessoal que é o fio condutor da história de Ghost of Yōtei e isso ganha um maior simbolismo através da sua relação com a loba, o animal solitário que tem o mesmo inimigo em comum nos levando para uma história que vai ser reflexiva e emocionante.

    Ghost of Yōtei é um dos bons jogos do ano, uma excelente sequência para um jogo muito querido e um trabalho muito bem elaborado pela Sucker Punch criando uma experiência imersiva e muito emocionante.

    Confira o trailer do game:

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    CRÍTICA: ‘A Própria Carne’ é aterrorizante retrato do Brasil

    Poucas coisas tendem a mexer tanto com o brasileiro quanto quando nosso senso de realidade é abalado. Compreender mais detalhadamente o retrato de um perverso conflito armado da maior guerra da América do Sul pode nos fazer entender como a proporção destes eventos viria a impactar a criação do estado brasileiro daquele momento em diante. A Própria Carne escancara a violência armada da Tríplice Aliança e de um Brasil muito antes de ele ser o país que conhecemos hoje. Mas, ao mesmo tempo, quase os suspende no tempo e os equipara, evidenciando privilégios e expondo o racismo presente em todos desde aquela época.

    Antes mesmo da Independência do Brasil, à época colônia de Portugal, e do mito da Lei Áurea que ainda entraria em vigor, muitos brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios vieram a perecer no conflito. Tendo o conflito como o pano de fundo, acompanhamos três desertores do Exército Imperial Brasileiro.

    A Própria Carne

    Estrelado por George Sauma, Jorge Guerreiro, Pierre Baitelli, Luiz Carlos Persy e Jade Mascarenhas, nos embrenhamos em uma história que mistura a dor da realidade com o horror fictício e quase intangível. 

    Tivemos a oportunidade de assistir A Própria Carne durante a Première Nights do Festival do Rio, com a presença dos integrantes da produção do filme, como o diretor Ian SBF e os produtores, Alexandre Ottoni (Jovem Nerd) e Deive Pazos (Azaghal), que nos concederam entrevista durante o evento.

    Prometo que farei o máximo para não revelar detalhes do roteiro, mas uma coisa ou outra pode acabar fugindo do controle, pois, a fim de dar um melhor contexto, talvez precise adentrar em elementos narrativos do longa.

    Como primeira empreitada cinematográfica do Jovem Nerd, em parceria com Ian SBF, A Própria Carne apresenta elementos visuais e signos que dialogam com o público brasileiro, transmitindo temores muito característicos e compreensíveis para nós, mas também, símbolos universais de perigo.

    A Própria Carne

    Luiz Carlos Persy, como o Fazendeiro, e Jorge Guerreiro, como Gustavo fazem do longa uma obra de arte à parte. A estranheza do Fazendeiro e de tudo que cerca provocam um arrepio na espinha desde seus primeiros momentos, quando ele emerge das sombras e adentra a luz pela primeira vez para encarar o trio de desertores.

    A figura antagônica no filme se estende para além da presença do Fazendeiro. Mais do que aquilo que se vê em cena, a Guerra do Paraguai é, no longa, uma sombra que mancha a história do continente latino-americano e um elemento que pode representar a morte do que restou dos três desertores após o tempo no campo de batalha.

    Ao chegarem na fazenda, se deparam com a privação de tudo o que são e do que podem fazer. À medida que o filme se desenrola, o longa desnuda nossos personagens de seus segredos até então, bem guardados, apenas para lançá-los em uma espiral de loucura.

    A Própria Carne

    Flertando com o sobrenatural o tempo todo, A Própria Carne nos provoca ojeriza ao apresentar sua narrativa em um design de produção muito competente — que na produção do longa ficou a cargo do Martino Piccinini.

    De modo curioso, o filme parece se dispor a arranhar o interior de nossas mentes com cenas de horror corporal extremo, apenas para nos surpreender a quase todo momento. Fugindo do tropo do “preto mágico”, cunhado por Spike Lee, o longa se abstém de atribuir ao personagem negro a função de guiar os “heróis” brancos da história. Gustavo não é o primeiro a morrer, e sua presença no longa tem importância e peso — o que abre espaço para que as dinâmicas entre Jorge Guerreiro e Luiz Carlos Persy floresçam.

    As atuações de George Sauma, Pierre Baitelli e Jade Mascarenhas são dignos de nota, dando especialmente a Sauma um tom distinto daquele ao qual estamos acostumados a vê-lo, nas comédias.

    A Garota de Mascarenhas causa incômodo pela forma como se porta — e esse é justamente o intuito da personagem; ela foi feita para ser assim. Quando contracena com Baitelli, os dois brilham em cena, criando uma dinâmica tão disfuncional como a mente de seus personagens.

    Com um texto que vai além do que se é esperado de um filme e uma produção de terror brasileiros, o longa se afasta das demais produções do Jovem Nerd e ousa colocar o dedo na ferida, escancarando as faces mais terríveis do ser humano. Rondados por um mistério perverso que não compreendem, ao fugir, Gabriel, Gustavo e Anselmo logo percebem, ao tentar fugir, que talvez encontrem fora da guerra um caminho pior do que o campo de batalha.

    Funcionando para além de uma simples história de cautela, ouso dizer que A Própria Carne é um filme verdadeiramente brasileiro — um retrato que expõe o privilégio branco desmedido e os preconceitos de uma terra banhada em sangue negro e indígena.

    Com símbolos que vão além do que conseguimos compreender, somos presenteados com o horror e suas múltiplas faces na sua mais pura forma: a face de lutar uma guerra covarde, a de fugir dela e ser sentenciado à morte — e a do imaginável. 

    A Própria Carne funciona para mim como uma expansão do já vasto multiverso de histórias que poderiam facilmente ter escapado de um dos roteiros do Nerdcast RPG, escritos por Leonel Caldela e suas campanhas aterrorizantes. Ao enveredar a narrativa por caminhos inesperados, o filme nos surpreende a cada curva do roteiro. E, por mais que, próximo do meio do terceiro ato, o filme perca a força, ele nos surpreende pela forma como opta por finalizar a história. 

    Acostumados com uma forma americanizada de produzir roteiros e obras megalomaníacas, A Própria Carne é contida em si e possui sua própria forma e seu tempo para contar a história. E ao seguir o caminho oposto da máquina de cinema norte-americano, o longa acerta ao não erotizar a guerra e não mostrar o embate como algo glorioso, foca em seus desertores, pessoas cansadas que apenas buscavam a liberdade.

    Sem autoexplicações, o longa não pega na mão de seus espectadores, nem subestima sua inteligência; distanciando-se de filmes de terror atuais, o longa independente brasileiro nos causa uma sensação de pertencimento e identificação muito singular, colocando no personagem de Guerreiro a vontade única de ser livre mais uma vez.

    Confira o trailer do filme:

    A Própria Carne estreia nos cinemas no dia 30 de outubro.

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    CRÍTICA: ‘O Agente Secreto’ é o clímax do cinema político e afetivo de Kléber Mendonça Filho

    Aviso de antemão que tentei maneirar bastante nos spoilers de O Agente Secreto, mas coisa ou outra acabou saindo pelos poros.

    A primeira vez que Kléber Mendonça Filho me fisgou foi nos meus anos de caloura na Universidade Federal Fluminense. Eu tinha acabado de chegar do interior do estado do Rio de Janeiro, estudante de Filosofia, deslumbrada com a vida universitária e frequentadora assídua do Cine UFF, onde aprendi que o cinema podia ser tão instigante quanto um bom texto de Deleuze ou Benjamin.

    Mas, curiosamente, não foi em uma sala de cinema que conheci Kléber. Como toda estudante com poucos recursos e muita vontade de ver o mundo, assisti O Som ao Redor com a minha turma da melhor qualidade, durante uma das ocupações que fazíamos no esqueleto inacabado do IACS — prédio que só foi inaugurado, enfim, no ano passado, já sob o novo governo Lula. Hoje vejo que não poderia haver espaço mais simbólico para um primeiro encontro com o universo desse diretor: assistir a um filme sobre resistência em um prédio ocupado por estudantes é quase uma cena escrita por ele.

    De lá pra cá, segui religiosamente cada lançamento, sempre com a mesma expectativa de quem sabe que vai ver algo importante. Tive a sorte de conhecer Kléber de perto, em uma sessão com debate de Retratos Fantasmas — um filme que habita também O Agente Secreto, onde o ator Carlos Francisco revive o projecionista Alexandre e o Cinema São Luiz vira mais uma vez cenário da trama.

    O Agente Secreto

    O cinema de Kléber Mendonça Filho nos devolve algo que o cinema industrial há muito esqueceu: a noção de que filmar é lembrar. A fotografia e o audiovisual nasceram do desejo de preservar o instante, de lutar contra o esquecimento, de registrar o que somos antes que o tempo apague. Em seus filmes, lembrar não é um gesto nostálgico, mas político — é um modo de existir no mundo, de afirmar uma presença coletiva que insiste, que resiste, que não se deixa silenciar.

    Ambientado no carnaval de 1977, em um Recife tomado pela festa e pela violência banalizada, O Agente Secreto, de Kléber Mendonça Filho, começa já desvelando o que será seu eixo central: a corrupção estrutural de uma polícia que não serve à sociedade, mas a domina. Desde as primeiras cenas, o filme expõe, com precisão cirúrgica, uma força policial que não age pela segurança pública, mas pela perpetuação do poder. Kléber demarca essa subversão de papéis com firmeza: o Estado policial, em vez de protetor, é o próprio predador — uma engrenagem autônoma e autoritária a qual todos são obrigados a se submeter.

    O Agente Secreto

    Nesse cenário em que a ordem é uma farsa e a violência é a norma, acompanhamos Marcelo, interpretado de forma magistral por Wagner Moura. A princípio, ele é apenas mais um homem em fuga que age, com toda razão, como alguém que não cometeu absolutamente nada de errado. Em sua primeira interação com o policial corrupto que simboliza, ali, o estado de coisas, seu gesto de não dar propina, mas somente um cigarro, demonstra de maneira singela sua atitude perante a vida e perante tudo o que o filme retrata.

    Mas, à medida que o filme avança, descobrimos que “Marcelo” é, na verdade, Armando — e sua mudança de nome é mais do que um disfarce: é um ato de sobrevivência, um apagamento forçado, assim como o de sua mãe. O mistério que cerca sua fuga vai se revelando aos poucos, e o espectador é conduzido a compreender que o que o move não é o crime, mas uma perseguição infiltrada no âmago do próprio Estado aparelhado pelo poder econômico, tema ainda muito caro nos dias atuais. Aliás, Kleber sempre demarca muito bem em seus filmes o embate entre o “norte” e o “sul” do Brasil, o país do poder econômico, do entreguismo, e o Brasil da resistência – ou, como Aldir Blanc canetou décadas atrás, o Brazil e o Brasil.

    O Agente Secreto

    O fusquinha amarelo de Marcelo (ou Armando) se destaca e se dissolve ao mesmo tempo. Ele se mistura ao trânsito cheio de outros fusquinhas, numa espécie de espelho coletivo que nos lembra que Marcelo é um homem comum, um rosto entre tantos, alguém como todos nós — vivendo e sobrevivendo sob a engrenagem de um país em que o poder se confunde com a força, e a violência se naturaliza.

    No coração dessa trama densa e vibrante, a personagem Sebastiana, vivida magistralmente por Tania Maria, acolhe “refugiados” e surge como uma força telúrica — um eixo moral e emocional que ancora o filme. Recentemente premiada por sua interpretação, Tania entrega uma performance que transcende o estereótipo do alívio cômico: Sebastiana é, ao mesmo tempo, o riso que salva e o gesto que acolhe, uma mulher forjada pela dureza da vida e movida por uma ternura feroz. Sua presença evoca tantas brasileiras que conhecemos — e que reconhecemos — nas ruas, nas feiras, nas casas cheias de gente e de histórias. Mulheres que, mesmo sem farda ou diploma, exercem diariamente o ofício da proteção.

    Kléber constrói esse universo com a mesma atenção ao detalhe que já é sua marca. O Recife de O Agente Secreto é pulsante, contraditório, vivo — uma cidade onde o carnaval, ao mesmo tempo em que explode em cor e música, carrega a contagem de seus mortos. O filme nos lembra que a sociedade brasileira sempre foi atravessada pela violência e que a celebração popular frequentemente convive com o luto. As cenas em que os jornais anunciam o “saldo de mortos” do carnaval revelam o quanto essa brutalidade foi naturalizada — e o quanto a mídia, subordinada às versões oficiais, reproduzia as narrativas da própria polícia, reforçando o controle do discurso e apagando a verdade.

    É nesse contexto que emerge uma das imagens mais potentes do filme: a “perna cabeluda”, figura lendária do folclore recifense que, nas mãos de Kléber, ganha outra camada de sentido. O que antes parecia um mito urbano assustador — uma perna solta que persegue os desavisados — torna-se símbolo de ocultação de corpos, de um horror real mascarado pela fabulação popular. A “perna cabeluda” não é assombração, mas vestígio: o que restou visível de corpos desaparecidos e ocultados pela polícia matadora. O imaginário popular, nesse sentido, serve para ocultar o crime do Estado — uma forma de lidar, ainda que inconscientemente, com o terror cotidiano.

    O Agente Secreto

    Outro símbolo marcante é a presença do tubarão nas telas do cinema, através do filme do Spielberg, em exibição no Cinema São Luiz, e na realidade recifense, já que o animal de fato vive em muitas das praias da costa de Pernambuco. No filme, ele é o presságio do perigo, o rumor do medo coletivo — uma metáfora menos sobre o monstro em si, e mais sobre o que ele representa: o sentimento difuso de que algo sempre pode emergir das profundezas, pronto para devorar quem se desvia da ordem imposta.

    Por fim, dos muitos símbolos que Kleber costura com sutileza, o gato de dois rostos, criatura estranha e bela, é o que melhor sintetiza a condição dos moradores daquela casa de “refugiados” — todos com nomes duplos, histórias partidas, identidades que coexistem e se chocam. O gato, com suas duas faces, parece olhar o mundo e a si mesmo, como o próprio Brasil que o filme retrata: um país dividido entre o que foi e o que quer ser, entre o nome imposto e o nome escolhido.

    Entre as atuações memoráveis, destaca-se Robério Diógenes, em uma interpretação impressionante como o delegado — um homem cuja autoridade se sustenta na violência e na impostura. Robério constrói um personagem de camadas: ora carismático e paternal, ora brutal e imprevisível, encarnando o tipo de poder que se alimenta do medo e da submissão. Sua presença em cena é magnética, um lembrete de que o autoritarismo, no Brasil, sempre teve rosto humano e voz mansa — o que o torna ainda mais perigoso.

    Destacamos uma presença que merece menção honrosa: Laura Lufesi, em atuação brilhante como Flávia, pesquisadora e mãe no Brasil do presente. Ela representa, assim como Armando no passado, a resistência pirracenta da universidade, da ciência e da memória, lutando contra o esquecimento e contra o domínio do capital sobre o pensamento. Flávia é o espelho contemporâneo de Armando — duas figuras que atravessam o tempo com a mesma teimosia em existir, pesquisar, lembrar e proteger.

    Devemos mencionar, ainda, a aparição extraordinária de Udo Kier, no papel de um alfaiate judeu que é, ironicamente, confundido com um soldado nazista da Segunda Guerra Mundial. Esse episódio, ao mesmo tempo absurdo e profundamente simbólico, revela a lógica distorcida de uma sociedade que se acostumou a ver o inimigo em quem é diferente, invertendo culpados e vítimas. A sequência, filmada com humor amargo e um senso de estranhamento quase surreal, é uma das mais potentes do longa.

    E há algo que une toda a filmografia de Kléber Mendonça Filho, além do olhar agudo sobre o país e sua história: a música. Poucos diretores brasileiros entendem tão bem o poder da trilha sonora quanto ele. De fato, seus filmes arrasam também no som — aquele som que não ilustra, mas narra, que vibra como personagem. Quem esquece a abertura de Bacurau, com o drone sobrevoando o sertão ao som de “Objeto Não Identificado”, na voz inconfundível de Gal Costa? Ou a coleção de discos de Clara, em Aquarius, que é mais do que cenário — é extensão de sua alma, seu arquivo afetivo, sua forma de resistência?

    Sônia Braga como Clara em Aquarius (2016).

    Em O Agente Secreto, essa tradição sonora continua viva e intensa. Entre ruídos de rádio, vozes de protesto, batuques e sussurros, surgem canções do icônico álbum Paêbiru, de Zé Ramalho e Lula Côrtes — uma obra-prima da psicodelia nordestina, tão mística quanto política, tão poética quanto experimental. Essas músicas não aparecem por acaso: são como raízes sonoras que ligam a narrativa às forças da terra, às vozes ancestrais, à vibração de um Brasil que pulsa por baixo da história oficial.

    O cinema de Kléber Mendonça Filho é, afinal, uma arte da lembrança — mas também da escuta. Ele nos convida a ouvir o país, seus ruídos, seus sotaques, suas canções, seus fantasmas. Em seus filmes, lembrar é resistir, e ouvir é uma forma de estar presente — de afirmar que, apesar de tudo, o Brasil continua falando, dançando, cantando, sonhando, como vimos na apresentação do filme no Festival de Cannes.

    Sem jamais perder o ritmo ou a humanidade, O Agente Secreto é um filme sobre o Brasil que se repete, sobre o país que transforma sua história em fábula para suportar a dor. Kléber Mendonça Filho não faz um cinema de denúncia fria, mas de percepção sensível: ele olha o passado e o presente com a mesma clareza com que filma o cotidiano — revelando que, sob as máscaras do carnaval e os retratos dos generais, o poder continua dançando a mesma música.

    O Agente Secreto estreia nos cinemas todo o Brasil no dia 6 de novembro de 2025. Confira o trailer:

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