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    CRÍTICA – A Voz Suprema do Blues (2020, George C. Wolfe)

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    A Voz Suprema do Blues é o novo filme da Netflix baseado na peça Ma Rainey’s Black Bottom de August Wilson. O longa tem George C. Wolfe como diretor e no elenco estão Viola Davis, Chadwick Boseman, Colman Domingo, Glynn Turman e Michael Potts.

    SINOPSE 

    A Voz Suprema do Blues Voz acompanha Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda em Chicago, 1927. Em uma tarde quente, Ma prepara-se para uma sessão de gravação de álbum. Contudo, os conflitos no local revelam a tensão entre Ma e seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman), como também com a gerência branca que está determinada a dominar a incontrolável “Mãe do Blues”.

    ANÁLISE 

    Para entender o processo criativo e político de A Voz Suprema do Blues é preciso falar do dramaturgo August Wilson. O principal trabalho de Wilson inclui uma série de dez peças de teatro, The Pittsburgh Cycle, pelo qual recebeu dois prêmios Pulitzer de Teatro. Cada um é definido em uma década diferente, representando os aspectos cômicos e trágicos da experiência de vida dos negros na América do século XX.

    Nesse sentido, A Voz Suprema do Blues é a única peça que não se passa no Hill District de Pittsburgh, o bairro economicamente deprimido onde Wilson nasceu em 1945 e passou seus primeiros anos. Esse fato é extremamente importante para dar luz às discussões tanto da peça como do filme de George C. Wolfe que se passa nos anos 20 na cidade de Chicago.

    Chicago representava as ideias do Norte, uma região mais industrializada, defensora da liberdade, igualdade e principalmente antiescravagista. Com o fim da guerra civil, ex-escravos do Sul migraram para essa região em busca de empregos, onde fundaram vários bares tradicionais de blues.

    Contudo, a tensão racial era predominante em todos os Estados Unidos e os artistas negros que ganharam estrelado, ainda era segregados e desqualificados. É nesse meio que o filme de Wolfe se encontra, às margens de uma época em que a exploração negra apenas tinha se adequado.

    Logo, George C. Wolfe faz questão de colocar a peça no filme e não ao contrário. Felizmente, o espectador já havia presenciado tal feito em Um Limite Entre Nós (2016) que também é uma adaptação da série de peças de Wilson. Filme produzido, atuado e dirigido por Denzel Washington que rendeu um Oscar a Viola Davis. Só que desta vez, Washington está como produtor de A Voz Suprema do Blues.

    Essa combinação entre o tratamento intenso de Washington e a direção densa de Wolfe cria um filme que denota às frustrações dos artistas negros frente a uma sociedade racista e injusta. A Voz Suprema do Blues consegue um estilo próprio que honra com maestria o material original, usufruindo do pouco cenário para lançar luz a atuações incríveis.

    Ao apresentar uma tarde quente de verão em Chicago, Ma Rainey e sua banda vagam por um estúdio de gravação. Hora discutindo sobre o papel dos negros na sociedade, hora fazendo música, o que cria uma imersão até os minutos finais. Consequentemente, adaptar uma peça para o cinema não é um trabalho fácil, mas Wolfe tem como resultado um tom teatral que cativa com suas cores vivas, intensidade musical e flashes ocasionais.

    Quem é a voz suprema do blues?

    O blues originalmente é uma música sobre o sofrimento do povo negro frente a escravidão. O gênero surgiu no século XIX nas fazendas de algodão, onde durante o percurso, escravos cantavam melodias lentas e chorosas para expressar suas tristezas. Porém, assim como toda cultura afro, o blues foi sendo apropriado pela sociedade branca.

    Sendo assim, a Mãe do Blues não o inventou, mas foi a primeira mulher a fazer sucesso com o estilo musical. Em A Voz Suprema do Blues, Viola Davis interpreta Ma Rainey em todo o seu esplendor. Ainda que, outros artistas e gêneros musicais estivessem surgindo, Ma tinha a música dentro de si.

    Ao longo do filme, Ma tem uma personalidade implacável, faz inúmeras exigências ao seu agente e ao dono da gravadora, nunca satisfeita com o que lhe é oferecido. Essa impetuosidade é uma forma de manter seu valor perante aos que a rodeiam. Como mulher negra, Ma sempre foi subjugada e mesmo com o estrelato, nunca deixou de ser vista sob maus olhos.

    Outro fato, é que Ma é fruto do seu tempo. Ser uma mulher negra (e provavelmente bissexual) com atitude e coragem nos anos 20 deveria ser extremamente cansativo. E ela sabe bem disso, suas atitudes elevam sua figura perspicaz, mas também demonstram sua capacidade de ser protetora e amorosa.

    Por outro lado, temos Levee vivido pelo incrível Chadwick Boseman. O ator que nos deixou em 2020, apresenta seu último trabalho como um legado de sua genialidade, sensibilidade e leveza. Levee não só rouba a cena em A Voz Suprema do Blues, como representa todo tolo jovem sonhador.

    Logo, Ma sente que tem uma ameaça na figura de Levee, mas o embate entre ambos nunca chega as vias de fato. O que não é um problema, dada toda comoção que esses personagens conseguem passar sem ao menos entrarem em grandes discussões. Levee, por si só, carrega todos os seus sonhos, mas também a impaciência da juventude.

    Além disso, os monólogos de Boseman põem em xeque um personagem que com certeza sofreu demais e não aceitará menos do que merece.

    Levee em um estado de fúria atrelado a tristeza, diz:

    “Vocês não sabem nada sobre mim. Nem o sangue que corre nas minhas veias! Como é o coração que bate no meu peito!”

    É essa complexidade de personagem que parece carregar todas as frustrações e sonhos do mundo que fazem de Levee com seu trompete um supremo do blues, tanto quanto Ma. Mas, ambos estão com as garras da indústria fincadas em suas peles. Logo, Ma tem total consciência disso:

    “Eles não se importam comigo. Só querem a minha voz.”

    O trágico é que Levee por ser um sonhador, não enxerga tais prisões.

    Ainda que por suas próprias lutas, eles cheguem onde merecem, no fim do dia não passam de acessórios para uma sociedade eurocêntrica. A obra de August Wilson transmite com singularidade e maestria, as dores e alegrias das vidas negras em uma sociedade que insiste em inviabilizados.

    VEREDITO 

    A Voz Suprema do Blues é um filme essencial para entender a conjuntura dos negros na América nos anos 20. Além disso, vale ressaltar as incríveis atuações de Colman Domingo e Glynn Turman que elevam o filme ao seu máximo. Com isso, ressalto que Chadwick Boseman é gigante e faz a atuação que lhe entregará um Oscar póstumo.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Confira o trailer de A Voz Suprema do Blues:

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    CRÍTICA – I’m Your Woman (2020, Julia Hart)

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    I’m Your Woman é o mais recente filme original da Amazon Prime Video dirigido e roteirizado por Julia Hart. No elenco, Rachel Brosnahan (Maravilhosa Sra. Maisel), Marsha Stephanie Blake e Arinzé Kene.

    SINOPSE

    I’m Your Woman é um drama policial situado em 1970. O filme conta a história de Jean (Rachel Brosnahan), uma mulher que é obrigada a fugir após seu marido trair seus parceiros, enviando-a com seu bebê em uma viagem perigosa, sendo caçados pelos ex-comparsas do marido.

    ANÁLISE

    Há algum tempo se fala em Hollywood sobre filmes dirigidos, roteirizados por pessoas que representam certas comunidades, gêneros ou etnias. I’m Your Woman é mais uma prova de que quando as mulheres fazem filmes voltados para mulheres, o trabalho consegue ser mil vezes melhor do que se estivesse em mãos masculinas.

    Talvez, a diretora e roteirista Julia Hart não tivesse necessariamente essa intenção, mas seu longa indiscutivelmente cresce ao apresentar mulheres determinadas e fortes. Não da forma pedinte que alguns filmes costumam ter ao tratar de problemas de gênero, tudo em I’m Your Woman parece naturalmente e silenciosamente real.

    CRÍTICA – I'm Your Woman (2020, Julia Hart)

    Assim também é Jean, a protagonista vivida por Rachel Brosnahan que ganha sua primeira forma em tela como uma mulher despreocupada. Ainda que afastada do marido, Jean parece a típica mulher dos anos 70: Sob o Sol fuma um cigarro deitada em uma cadeira de praia usando um robe roxo. Seu ar, meio entediada, faz jus as mulheres de uma década que ansiavam por liberdade.

    Mas, Jean ainda não sabe disso. Ela é extremamente dependente de seu marido Eddie (Bill Heck). Sem nunca saber de fato quais são os negócios dele ou até mesmo não podendo dirigir (já que Eddie não deixava), Jean não tem uma identidade própria. Logo, é nesse sentido que Eddie acredita que com um bebe fará Jean se ocupar.

    Ela que sempre quis ser mãe e teve vários abortos espontâneos aceita Harry como se fosse seu próprio filho, passando a dar amor a criança. Enquanto, para Eddie o bebe não passa de um presente. Mas, é quando seu marido sai de cena por causa de um roubo mal sucedido que Jean é jogada em uma realidade que nunca fez parte de sua vida.

    Desorientada e sem muitas opções a não ser fazer o que lhe mandam, Jean e Harry acabam sendo ajudados por Cal (Arinzé Kene), um amigo de Eddie, que tem a tarefa de guiá-la nessa nova vida transitória para escapar das garras dos criminosos que estão procurando por ela e o marido. Com inúmeras perguntas que nunca são respondidas, Jean é levada no banco de trás do carro.

    CRÍTICA – I'm Your Woman (2020, Julia Hart)

    Desse modo, I’m Your Woman nos apresenta os anos 1970 quase como um personagem. O filme é uma mistura de road movie com um drama muito bem colocado porque, se de um lado temos cenas de ação com longos carros, do outro, temos a determinação de Jean em sobreviver.

    Consequentemente, a ambientação em planos abertos mostra a imensidão do caos em que Jean está, mas também há os planos fechados no rosto de Brosnahan para dar luz as angústias da personagem. Atrelado ao plano de fotografia, a paleta de cores creme dá um toque de fim de tarde como se Jean estivesse esperando eternamente por Eddie.

    Contudo, é nos destaques sobre desigualdade de gênero e etnia que Hart faz de seu filme não um ato político, mas uma releitura histórica do cotidiano. Ao serem abordados por um policial branco, Jean precisa mentir que é esposa de Cal, já que o certo policial desconfiou de uma mulher branca está viajando com um homem negro.

    Sendo assim, Jean como uma mulher branca não tem total consciência de seu privilégio, mas isso é pouco significante para uma mulher que esteve sob um relacionamento regrado. Aos poucos, ela se mostra uma mulher persistente que precisa se reafirmar naquela situação que está.

    A sororidade feminina 

    CRÍTICA – I'm Your Woman (2020, Julia Hart)

    Muito se fala sobre sororidade feminina, mas são poucos os filmes que de fato exploram essa união entre mulheres. Em I’m Your Woman, Jean conhece Teri (Marsha Stephanie Blake), esposa de Cal, que assim como Jean precisa fugir com seu filho Paul dos criminosos que agora estão atrás de Cal também.

    Teri é uma mulher forte e intrigante. Conforme o filme avança, é mostrado que Eddie e Teri foram casados e tiveram Paul. Em um ponto as duas mulheres têm uma conversa esclarecedora:

    Jean: É pior porque temos um filho.

    Teri: Nada é pior para você.

    Jean: Você não sabe disso.

    Teri: Sim, eu sei.

    Nesse momento, as linhas de raça e gênero ficam claras. A diretora Julia Hart mantém a dinâmica entre as personagens combinando uma narrativa sucinta com consciência social sem ser exagerada. Mais do isso, surge a imersão da empatia feminina.

    Algo que poderia muito bem ser subvertido no longa, por exemplo. Jean e Teri poderiam criar uma rivalidade. Felizmente, tudo caminha para um apoio mútuo já que ambas se veem sozinhas sem a ajuda de seus maridos.

    CRÍTICA – I'm Your Woman (2020, Julia Hart)

    Essas pequenas alegorias fazem parte de um roteiro bem construído que exalta a sororidade em uma década que a emancipação feminina estava apenas começando.

    Nesse sentido, Jean representa o ontem e o hoje dos anos 70. É uma mulher que reivindica sua identidade tanto como mãe, como pertencente acima de tudo a si mesma. Não à toa, Jean termina o filme dirigindo um carro e com inúmeras possibilidades à sua frente.

    VEREDITO

    I’m Your Woman é uma obra completa que exalta os filmes de ação dos anos 70 usufruindo de uma perspectiva totalmente feminina e poderosa.

    Nossa nota

    4,5 / 5,0

    Assista ao trailer:

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    CRÍTICA – Bridgerton (1ª temporada, 2020, Netflix)

    Inspirado nos livros da escritora Julia Quinn, o seriado adapta a história do Duque de Hastings e da família Bridgerton no período Regencial em Londres. Trazida para a Netflix pela ShondaLand – produtora de Shonda Rhimes (Grey’s Anatomy, Scandal) – a série está repleta de fofocas, intrigas, traições e romances ardentes.

    SINOPSE

    Adaptando os acontecimentos principais do volume 1 da saga Bridgerton (O Duque e eu), o seriado acompanha a relação de Simon Basset (Regé-Jean Page) e Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor) durante a temporada social em Londres no século XIX.

    ANÁLISE

    Imagine a junção de Gossip Girl e algum romance de época estilo HBO. Essa talvez seja a melhor definição para o resultado de Bridgerton, nova série da Netflix. Com uma legião de fãs da saga de livros criada por Julia Quinn, a adaptação chega ao streaming com a expectativa de ser um estrondoso sucesso.

    Narrada pela icônica Julie Andrews, que dá voz à personagem Lady Whistledown, a série apresenta a temporada social em Londres, onde todas as garotas estão à procura do par ideal para se casarem. Ao despertar os olhares da Rainha Charlotte (Golda Rosheuvel), Daphne Bridgerton se torna o melhor partido daquela estação, sendo cobiçada por todos os homens da cidade.

    Devido às fofocas publicadas no jornal de Lady Whistledown, as coisas não acontecem da forma que Daphne esperava. E, assim, ela acaba criando um plano com Simon Basset, o Duque de Hastings: eles irão fingir que estão apaixonados, garantindo que a moça seja cada vez mais cobiçada, e que ele fique fora do radar das outras meninas que estão desesperadas por um casório.

    Além da história principal, outros personagens da família Bridgerton possuem tramas específicas ao longo dos episódios. Tirando as crianças, que não são o foco dessa temporada, os irmãos Anthony (Jonathan Bailey), Eloise (Claudia Jessie), Colin (Luke Newton) e Benedict (Luke Thompson) também possuem seus próprios momentos, mas sem grandes desenvolvimentos.

    Se a produção seguir a lógica dos livros de Quinn, em que cada filho é o personagem principal de determinada publicação, provavelmente esses personagens terão um melhor aproveitamento nas próximas temporadas.

    É perceptível o grande esforço em trazer uma caracterização interessante de figurinos e cenários para Bridgerton. Entretanto, algumas vezes os vestidos ficam exageradamente apertados nas atrizes, principalmente em Lady Violet (Ruth Gemmell). Talvez tenha sido proposital, mas a sensação de desconforto é quase inevitável em algumas cenas.

    CRÍTICA – Bridgerton (2020, Chris Van Dusen)

    A trilha sonora de Bridgerton é bem interessante e parece ser pensada estrategicamente, buscando agradar o público que se interessa por grandes hits do presente. De Ariana Grande a Maroon 5, muitas canções foram adaptadas para formatos orquestrais, tocando nos diversos bailes que ocorrem ao longo da temporada.

    O seriado criado e roteirizado por Chris Van Dusen tenta inserir algumas discussões sobre o papel da mulher na sociedade do século XIX, principalmente por meio da personagem Eloise, mas toda a problemática fica um pouco perdida nos diversos acontecimentos do roteiro. Existem também várias personagens femininas em destaque, mas suas complexidades são pouco exploradas nessa primeira temporada.

    Um fator a ser elogiado é a diversidade no elenco. Com algumas mudanças nas origens dos personagens, o seriado de Dusen traz uma Rainha negra no mais alto cargo hierárquico, inserindo outras famílias como monarcas da sociedade londrina.

    Por se tratar de um romance escrito por uma mulher e que traz diversas cenas “picantes”, a escalação de duas diretoras para conduzirem os episódios focados nos momentos de prazer feminino é outra ótima escolha da produção. Infelizmente, há uma nítida quebra de ritmo e mudança de tom no seriado a partir de um determinado ponto da trama, e é nesse momento que alguns espectadores podem se desconectar da história.

    O personagem que possui o melhor background é certamente o Duque, interpretado por Regé-Jean Page. Apesar da atuação mediana, o ator possui ótima química com Phoebe Dynevor, o que rende momentos bem divertidos, principalmente na primeira metade da temporada. Destaco também o núcleo da família Mondrich, que possui uma história interessante, destoando de toda a pompa e riqueza das famílias nobres de Londres.

    VEREDITO

    Bridgerton mistura o melhor de Gossip Girl com o charme dos romances de época. A produção tem tudo para agradar aos fãs da saga literária de Julia Quinn e acampar no Top 10 de mais assistidos da Netflix Brasil.

    Nossa nota

    3,0 / 5,0

    Bridgerton será lançado na Netflix no dia 25 de dezembro. Confira o trailer:

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    CRÍTICA | Saga – Vol. 1 (2014, Devir)

    Uma guerra que parece durar mais tempo do que todos que fazem parte dela lembram, toma conta de Aterro e sua lua Grinalda. Aqueles que são lançados ao fronte, nem mais se lembram a razão da guerra ter se iniciado, esse é o mote do quadrinho Saga.

    Alguns elementos são fáceis de apontar para identificar cada um dos soldados dessa guerra, os nascidos em Aterro, possuem asas, já os habitantes de Grinalda, possuem chifres dos mais diversos tamanhos e são poderosos usuários de magia.

    Após um longo tempo preso, um amor nasce entre um nascido luarino e sua carcereira, e é o estopim para a história de Saga.

    O Volume 1 tem início poucos momentos antes do nascimento da pequena Hazel, fruto do amor entre duas pessoas tão diferentes, que lutavam em lados opostos da guerra.

    Marko e Alana que estão fugindo há mais de 9 meses, finalmente são alcançados em Fenda, quando a hora do parto de Hazel chega, e todos os esforços da fuga parecem ser em vão, os obrigando mais uma vez a seguirem fugindo depois do nascimento da pequena filha, a primeira híbrida a nascer com elementos que nos remetem aos nascidos em Aterro, assim como de Grinalda.

    saga

    Quando a guerra com Grinalda teve início, os combates aconteciam geralmente entre a população, em cidades como esta, a capital de Aterro.

    Mas como a destruição da lua tiraria Aterro da órbita, a luta foi levada para outras frentes, ou melhor, outros planetas e logo, até quem não estava envolvido na guerra, foi obrigado a escolher um lado.

    A história de Brian K. Vaughan e as ilustrações de Fiona Staples nos colocam de cabeça na história desde o primeiro momento, com imagens gráficas que nos deixam de boca aberta, assim como o cuidado ao contar não só a história de Hazel, mas também o romance de Marko e Alana, nos colocando em fuga com os dois, com os mais diversos artifícios de enredo e curvas que a história toma.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Editora: Devir

    Autor: Brian K. Vaughan

    Páginas: 160

    A Devir está lançando reimpressões de Saga, e é a sua chance de garantir a sua cópia!

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    CRÍTICA | O Mundo Sombrio de Sabrina – Vol. 1 (2019, Geektopia)

    Aqueles que nasceram nos anos 90 se divertiram muito assistindo a série de TV Sabrina, Aprendiz de Feiticeira que conta a história de uma adolescente bruxa tentando lidar com esse lado dela e a vida de uma garota normal.

    No programa existia o gato Salém um personagem debochado e sarcástico fazendo com que fosse o principal fator cômico, algo que não tem na HQ, que aborda a parte mais sombria de Sabrina.

    A HQ O Mundo Sombrio de Sabrina é escrito pelo premiado roteirista Roberto Aguirre-Sacasae (Archie: Mundo dos Mortos, Riverdale), desenhada por Robert Hack (Doctor Who, Arquivo X) e publicada aqui no Brasil pela editora Geektopia.

    ANÁLISE

    A trama do quadrinho é em torno da vida da Sabrina, uma adolescente de 16 anos criada por suas tias que ensinam tudo referente ao lado bruxa, enquanto isso, tenta lidar com as questões de uma adolescente humana, já que a personagem fica entre esses dois mundos.

    Um fator muito interessante e diferente da série da Netflix, é que na HQ os personagens são mais trabalhados na dualidade do ser, ou seja, eles não são completamente bons ou completamente maus, fazendo com que eles sejam mais complexos.

    Isso fica bem óbvio quando explica a história dos pais da bruxinha, que é contada de forma mais aprofundada e deixando apenas um leve mistério sobre o que aconteceu.

    Ao nos aprofundarmos mais sobre o drama dos pais de Sabrina há uma incrível ligação à personagem da Madame Satã, que quando entra na trama consegue colocar mais situações macabras e sensuais que é algo bem presente nas figuras das bruxas.

    Para Roberto Aguirre-Sacasae, ao definir sua obra fica bem claro qual é sua intenção e os fãs de Sandman notarão facilmente as referências, bem como a outras obras de terror:

    “Sabrina é minha carta de amor a Sandman.”

    Outra referência é nos diversos momentos em foi introduzido letras de música ligando a personagem com a história, um artifício que Neil Gaiman utilizava bastante em Sandman, em que o Roberto soube usar com a mesma maestria.

    Como nas obras do selo Vertigo, aqui Aguirre-Sacasae soube equilibrar muito bem os momentos de terror, elaborando uma obra bem mais macabra que a série e colocando elementos de fantasia, satisfazendo os fãs deste tipo de conto e transformando a leitura mais intrigante e viciante.

    Os acontecimentos das vidas de Sabrina são ambientados em 1960, isso é um ponto crucial para entender a estética da HQ, algo que o cartunista Robert Hack soube lidar muito bem.

    É possível identificar um trabalho bem feito ao deixar bastante retrô, tanto nos elementos que imitam aspectos dos quadrinhos de papel mais antigos, quanto nos traços dos ambientes e naqueles que estão nas expressões dos personagens.

    Hack, escolheu laranja para ser a cor predominante nas ilustrações, algo muito interessante pela forma com que foi utilizada; além de utilizar as cores marrom e preto para fazer efeitos de sombras para aumentar o nível de terror.

    Porém, a saturação do laranja conforme vai avançando na leitura incomoda, causando um certo cansaço na vista, esse problema foi resolvido quando a história se aproxima do fim.

    VEREDITO

    Com um texto bem construído e equilibrado, ilustrações bem feitas, Roberto Aguirre-Sacasae e Robert Hack, conseguiram entregar uma obra que agrada muito aqueles que gostam de HQ de terror.

    É uma leitura que prende bastante, se tornando viciante e proporcionando uma grande curiosidade em ler o próximo volume da série.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Editora: Geektopia

    Autores: Roberto Aguirre-Sacasae e Robert Hack

    Páginas: 160



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    CRÍTICA – Os Sete (2016, André Vianco)

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    Uma caravela portuguesa naufragada há mais de 500 anos é descoberta no litoral brasileiro. Dentro dela, uma estranha caixa de prata lacrada esconde um segredo; apesar do aviso grafado, com a recomendação de não abri-la, a equipe de pesquisadores, junto com os mergulhadores que a descobriu decidem seguir em frente e encontram sete cadáveres. Esses corpos misteriosos são levados para estudos e a situação parece estar sob controle até o despertar do primeiro d’Os Sete.

    ANÁLISE

    O livro do paulista André Vianco, foi lançado originalmente em 2000 de forma independente e logo se tornou um best-seller, o que rendeu a continuação intitulada Sétimo; além de outros livros.

    Em Os SeteVianco atualiza o mito dos vampiros ao apresentar aos leitores seres poderosos dotados de características únicas, mas com a já conhecida natureza monstruosa e sanguinária.

    O livro que eu já conhecia fazia muito tempo, infelizmente nunca tive me dado a oportunidade de lê-lo; E após 20 anos do seu lançamento original, tive uma grata surpresa ao receber o exemplar da Editora Aleph.

    A nova edição chama atenção já pela bela ilustração de capa feita por Rodrigo Bastos Didier onde podemos notar os vampiros do título. Mas para os que não gostam de spoilers, durante a leitura é fácil perceber que a ilustração tem um possível grande spoiler da trama.

    VEREDITO

    Os Sete é um bom livro de vampiros e faz jus ao sucesso que André Vianco merecidamente conquistou. A obra não é perfeita, já que tem suas pontas soltas com perguntas sem respostas e cortes abruptos de sequência; por outro lado, a escrita de Vianco é fluida e prazerosa. 

    Mesmo que seja impossível não comparar os vampiros do autor com os X-Men, ao trazer os vampiros portugueses do período das grandes navegações e descobrimento do Brasil aos dias atuais e situá-los em cidades como Porto Alegre e Osasco, Vianco cria algo totalmente novo para nós tupiniquins já tão acostumados com os vampiros hollywoodianos.

    Além da fácil leitura da escrita do autor, é divertida a descoberta dos seculares vampiros lusitanos após acordarem na ex-Ilha de Vera Cruz e que o Brasil e seus brasileiros evoluíram significativamente nesses 500 anos anos de descobrimento, além da emancipação do extinto Império Português.

    Achei extremamente interessante termos as representações culturais dos gaúchos em seus diálogos com palavras como bah, tchê, barbaridade, bem como as lusitanas como ó pá, gajo e muitas outras.

    Mas não se engane, apesar do cenário ser aqui no Brasil, André Vianco faz bem o dever de casa ao nos apresentar vampiros assassinos e que abraçam sua natureza monstruosa.

    Sim, aqui o gore está presente e o número de vítimas das presas e garras desses seres não são baixos. Prepare-se para muito sangue ao virar das páginas.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Editora: Aleph

    Autor: André Vianco

    Páginas: 429



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