CRÍTICA – Tchia (2023, Awaceb)

    O mercado indie de 2023 não para de surpreender e no dia 21 de março de 2023 o estúdio Awaceb lançou Tchia. Com claras referências a títulos muito bem quistos pelos fãs, os desenvolvedores apostaram em uma estratégia ousada para divulgar mais sobre sua cultura.

    Naturais da Nova Caledônia, um arquipélago francês situado na Melanésia, 1.500 km a leste da Australia, o membros do estúdio Awaceb (Montreal, Canadá) desenharam Tchia como uma apresentação ao mundo dos costumes e belezas de sua terra. O game é focado totalmente na exploração em mundo aberto, fazendo com que a história às vezes fique de lado, quase como num GTA com baixa classificação indicativa.

    Tchia é um game atualmente disponível para PC (via Epic) e para Playstation 4 e 5.

    SINOPSE

    Acompanhe Tchia em uma aventura tropical de mundo aberto para resgatar seu pai do tirano Meavora, governante do arquipélago. Escale, plane, nade e navegue seu barco por belas ilhas enquanto explora um mundo aberto de física realista.

    Enfrente os soldados de pano criados por Meavora em combates livres onde o que manda é a criatividade. Controle qualquer animal ou objeto que encontrar, faça novos amigos e toque seu ukulele. Uma história poética de amadurecimento inspirada na Nova Caledônia.

    ANÁLISE DE TCHIA

    Como um game focado na aventura de desvendar as paisagens, a fauna e a flora neocaledonios, Tchia, acima de tudo, permite planar, mergulhar, escalar e conhecer os mais variados ambientes do arquipélago.

    Com uma temática de fantasia um tanto infantojuvenil, o jogo conduz o turismo através da história da jovem Tchia em sua jornada para resgatar seu pai. O estúdio Awaceb claramente traz inspirações em alguns títulos de Zelda como Breath of the Wild, Ocarina of Time e Wind Waker.

    Tchia

    TEMÁTICA

    Assim como já mencionado quase exaustivamente, tudo em Tchia conta histórias sobre a Nova Caledônia. Tanto sobre seu povo, uma miscigenação de kanaks, autóctones, franceses e algumas outras etnias da Oceania e do sul da Ásia.

    A história que dá norte ao game conta a lenda da menina Tchia para crianças de um orfanato local. Em sua jornada para resgatar seu pai e derrotar o malvado Meavora, uma deidade antiga que tomou a governança do arquipélago.

    Todos os detalhes como músicas, dialetos, o conflito de idiomas e também os desentendimentos entre as diversas etnias que habitam o território, são ingredientes que tornam o jogo muito mais saboroso. A riqueza da fauna, terrestre, alada ou marítima, é impressionante.

    ARTE

    Os gráficos de Tchia são lindos. Ainda que apostando na simplicidade mais cartunesca, remetendo às estratégias usadas nos títulos de Zelda, o jogo se destaca na qualidade das paisagens, da água e das cores. Carregado de cenários aquáticos e de floresta, o Awaceb aproveitou para trazer ainda mais vida ao seu ambiente que pulsa energia também nas cores.

    Como se a imersão gráfica proporcionada já não fosse suficiente para nos transportar para a Nova Caledônia, a trilha sonora composta por John Robert Matz é de extrema sensibilidade e assertividade. Tendo o cuidado de usar instrumentos locais e fazendo questão de dar voz ao dialeto kanak, é emocionante como cada canção toca e veste cada parte do game.

    MECÂNICAS

    Da mesma forma, não bastasse toda a qualidade já retratada em um jogo voltado à exploração, Tchia oferece um rol de mecânicas simples que facilita e torna divertida a investigação de cada novo espaço projetado neste rico arquipélago. Como Tchia, podemos escalar, planar e deslizar de maneira muito semelhante à permitida em Breath of the Wild. O jogo ainda oferece um estilingue que lembra muito o disponível em Ocarina of Time.

    Do mesmo modo, falando neste último jogo da franquia Zelda, o ukulele que Tchia recebe também permite a ela algumas magias de invocação e alteração de tempo, tal qual Link faz com sua ocarina.

    Entrando no aspecto mágico das mecânicas, o brilho do jogo está na habilidade de Transferência de Alma, onde Tchia pode se transportar e se tornar praticamente qualquer coisa no cenário. Desde aves, peixes e côcos até galões de gasolina e pedras explosivas. A amplitude dessa habilidade, ainda com as especificidades que algumas formas permitem, torna a aventura muito mais divertida e interessante.

    A última referência aos títulos da BigN cabe à navegação marítima em sua jangada. Tchia rompe os mares com mecânicas simples e ao mesmo tempo desafiadoras, lembrando muito Wind Waker, com o controle da vela e do leme. A experiência de mergulho se torna ainda mais incrível pelos belos cenários subaquáticos.

    VEREDITO

    Abri o texto exaltando a indústria indie de games e preciso encerrá-lo de igual forma. É absurdo o que estúdios pequenos com orçamentos e equipes minúsculos tem conseguido entregar por amor aos games e a um propósito.

    Tchia é uma aventura cultural que eu nunca tinha experimentado em game nenhum. Ainda que se inspire em acertos de grandes títulos, o que o pessoal da Awaceb conseguiu entregar é único e encantador. É verdade que possui algumas falhas, como alguns stutters e quedas de FPS quando muitos elementos estão dispostos na tela.

    O progresso do jogo, do meio para o fim, tem algumas “barrigadas”, estendendo trechos sem tanta necessidade. A própria história que começa fofa, abrindo espaço também para assuntos da comunidade LGBTQIAP+, no mesmo trecho mencionado, pesa bastante em alguns anticlímax. 

    Tchia

    Tchia vale o seu carinho

    Mas estes contras são meros detalhes em meio ao mar de belezas e diversão que Tchia nos permite. A exploração no jogo é quase infinita e a história, ainda que agradável, é praticamente secundária em face ao espírito aventureiro que nos toma. É simplesmente impossível (pelo menos para mim) conseguir ir de um lugar ao outro sem se distrair com algum ponto no horizonte e desviar a rota para investigar. E quase todo desvio tem uma recompensa neste jogo.

    Uma pessoa que foque apenas na história, conseguirá terminar Tchia em 8 horas. No entanto, eu precisei de umas 25 para conseguir concluir o jogo em sua completude. Apesar de que Tchia nunca será concluído. Eu sempre voltarei à Nova Caledônia, nem que seja para sobrevoar as matas como um Gafanhoto-de-Coqueiro-Gigante, ou explorar as profundezas dos mares como um Dugongo.

    Em uma realidade em que praticamente todo jogo no Brasil é caro, Tchia mantém seu preço em R$149,50 em todas as plataformas. Não é barato, mas não é injusto para um jogo com estas características.

    Nossa nota

    4,5 / 5,0

    Confira o trailer de Tchia:

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