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    CRÍTICA – Será que é Amor? (1ª temporada, 2021, Netflix)

    A nova produção indiana Original Netflix é o seriado Será que é Amor? (Feels Like Ishq). Composta por seis histórias curtas de aproximadamente 30 minutos cada, a série teen é um misto de comédia e romance com alguns momentos de drama.

    Os episódios exploram diferentes nuances desse sentimento tão forte chamado amor na adolescência e no começo da vida adulta.

    SINOPSE

    Estes curtas-metragens retratam o turbilhão de emoções que os jovens experimentam ao se depararem com o amor em lugares inesperados.

    ANÁLISE DE SERÁ QUE É AMOR?

    Produzido e gravado na Índia, Será que é Amor? é um seriado cujos episódios funcionam de modo isolado. Ou seja, as histórias de cada capítulo não se interligam em nenhum momento.

    Por serem concluídas em seus aproximadamente 30 minutos, algumas tramas se sobressaem a outras. Os motivos são variados.

    Algumas histórias são mais consistentes do que outras, fazendo com que as emoções vividas pelos personagens sejam mais intensas também em quem assiste. Outras não são tão atraentes, embora o elenco principal entregue boas atuações em todos os episódios.

    Além de ser mais uma produção indiana num streaming tão popular como a Netflix, outro mérito da produção é a visão diversa sobre o amor.

    As histórias de Será que é Amor? fogem dos clichês. Eu diria que apenas no episódio 5 (Entrevista) não ocorrem deslizes, mas o saldo é positivo na maioria dos episódios.

    Será que é Amor? (Feels Like Ishq) é uma série indiana de curtas-metragens que explora o turbilhão de emoções na vida de jovens adultos
    Cena do episódio 5 (Entrevista) de Será que é Amor?

    Destaco o episódio 4 (Bem me quer, mal me quer), que possui a melhor produção e edição, a ponto até de se distanciar da estética dos demais capítulos do seriado.

    O visual é muito mais próximo de produções teen, e a pós-produção é realmente muito bem feita. É importante também ver uma história queer sendo contada sob uma perspectiva oriental, com as protagonistas vivendo em uma grande metrópole com ares de modernidade.

    Por sua vez, o episódio 6 (Ishq Mastana) é o único que tem mais deméritos do que méritos, no meu ponto de vista. A história tenta forçar uma ideia de que “os opostos se atraem” de modo grosseiro. Isso a torna pouco crível, muito mais pelo roteiro do que pela atuação da atriz e do ator que a protagonizam.

    Apesar dos deslizes – e dos pontos negativos de Ishq Mastana – acredito que o maior trunfo de Será que é Amor? é a capacidade de fazer a audiência se conectar com as histórias. Não que todas vão fazer sentido para quem assiste, mas creio que é impossível não se identificar com pelo menos elementos centrais de um ou outro episódio.

    Será que é Amor? (Feels Like Ishq) é uma série indiana de curtas-metragens que explora o turbilhão de emoções na vida de jovens adultos
    Cena do episódio 2 (Crush da quarentena) de Será que é Amor?

    Embora a característica “maratonável” seja um dos pontos fortes da Netflix, Será que é Amor? deixa a desejar nesse aspecto. Mesmo sendo um seriado com episódios curtos, é uma produção que tranquilamente pode ser assistida de modo espaçado, pois as histórias não chegam a ser atraentes a ponto de querer consumir tudo de uma vez.

    VEREDITO

    Será que é Amor? é um seriado autêntico que explora o amor de maneira diversa. A produção se destaca por ser capaz de fazer com que as pessoas se identifiquem com pelo menos um ou outro episódio, mesmo que as histórias não sejam perfeitas.

    Afinal, o amor da vida real também tem seus momentos de altos e baixos. Com a cultura indiana bem presente, as histórias reforçam essa afirmação, ao mesmo tempo em que servem como um convite para refletir sobre os acontecimentos em tela com uma pergunta instigante: Será que é amor?

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    CRÍTICA – The Sims 4 Vida Campestre (2021, EA)

    The Sims 4 Vida Campestre finalmente chegou! Lançada no dia 22 de julho, a expansão permite que você crie galinhas, vaquinhas e lhamas, além de estimular que você viva da sua fazendinha. O pacote pode ser adquirido diretamente pelo Origin ou nas principais lojas online de games.

    SINOPSE

    Deleite-se com o charme singular do The Sims 4 Pacote de Expansão Vida Campestre, com animais amigos, refeições da horta à mesa e uma comunidade intimista. Explore a floresta para fazer amizade com criaturas selvagens ou vá à cidade para conhecer habitantes locais.

    Seja abraçando uma vaca, fazendo amizade (ou inimizade) com as galinhas ou cultivando os maiores vegetais da região, o campo está repleto de novas maneiras dos Sims se conectarem com o mundo.

    ANÁLISE

    A nova expansão de The Sims 4 é tudo o que estávamos esperando. Com mais de 200 itens (dentre customização de Sims e decoração) e inúmeras atividades a serem completadas, The Sims 4 Vida Campestre é o tipo de jogo que vai te manter entretido durante horas.

    Se a expansão Diversão na Neve trouxe várias atividades divertidas, mas pecou em alguns problemas de jogabilidade, o novo pacote de The Sims certamente vai surpreender os jogadores positivamente. São inúmeras opções de customização no estilo rural que vão encher os olhos dos fãs da franquia, além de trazer uma melhor organização com o calendário de eventos que acontecem durante o jogo.

    Começando pela arquitetura, acredito que os fãs vão gostar muito das opções de móveis e decoração. Quando você inicia o game, no novo mundo de Avelândia do Norte, é possível escolher lotes pré-prontos ou construir em um lote vazio.

    Você também pode selecionar os desafios do lote, que consistem em colocar algumas dificuldades na sua jornada como fazendeiro. Uma das opções é ficar sem rede de água e luz, tornando a vida do seu Sims bem mais complicada.

    Além de montar a sua casa, você também pode escolher ter estábulos, galinheiros e hortas. Cada estábulo possui espaço para um animalzinho, que pode ser uma vaquinha ou lhama. Por sua vez, os galinheiros comportam várias galinhas, sejam elas filhotes ou adultas.

    As hortas são cultivadas diretamente no solo e você pode customizar o tamanho da sua plantação, escolhendo ter um grande espaço ou apenas uma horta pequenininha. Essas plantações são legais porque fornecem vegetais e frutas que podem ser comercializados, tornando a sua atividade de fazendeiro mais rentável.

    Mesmo não sendo uma profissão, como estamos acostumados a escolher no início das outras expansões, você pode trabalhar normalmente vendendo as coisas que a natureza dá.

    CRÍTICA - The Sims 4 Vida Campestre (2021, EA)

    Além dos animais que você pode comprar, há também aqueles que ficam em torno da sua casa. As raposas vivem em volta do galinheiro, então é necessário tomar cuidado, pois elas roubam os seus bichinhos. Por sua vez, os coelhos costumam visitar a sua plantação em busca de frutas e verduras, permitindo que você brinque com eles.

    No início do jogo eu tentei ter dois estábulos, hortas e um galinheiro tendo apenas um Sims. Logo percebi que essa é uma missão impossível, pois os animais ficam sujos e com fome muito rapidamente, o que acaba fazendo o seu Sims trabalhar quase sem parar.

    Mais do que só comida e higiene, os animais precisam socializar. Portanto, é comum ver uma galinha ameaçando fugir da sua casa se você não melhorar o tratamento. Tenha isso em mente quando configurar o seu jogo: dividir as tarefas é a melhor forma de manter os animais felizes e os seus Sims também.

    A função de estilos de vida também se mostra bem efetiva na vida no campo. Quanto mais você estimula seu Sims a conversar com as plantas e trabalhar na sua fazenda, mais ele se sente disposto e feliz em se manter fora de casa, evitando computadores e celulares.

    Além dos animais e decorações, você também pode aprender a cozinhar petiscos e compotas com substitutos de carne e vegetais. Há muito o que fazer nessa expansão, e o tempo passa voando enquanto você joga.

    CRÍTICA - The Sims 4 Vida Campestre (2021, EA)

    Mesmo com todas essas atividades para fazer no seu quintal, ainda há a oportunidade de passear pela cidade com sua bicicleta Trajeto Deslumbrante, um item exclusivo para quem adquirir a expansão até 2 de setembro. Com pubs, mercearias e várias pessoas para conhecer, você não vai ficar entediado tão cedo.

    VEREDITO

    The Sims 4 Vida Campestre é o tipo de expansão que te dá vontade de seguir jogando durante horas! Com diversas atividades a serem executadas e muitas opções de customização, a expansão traz todos os detalhes que sempre amamos em The Sims.

    Nossa nota

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    CRÍTICA – Emicida: Amarelo – Ao Vivo (2021, Netflix)

    Esse que vos escreve é extremamente suspeito para falar sobre qualquer coisa relacionada à carreira do Emicida. Não apenas por ser fã há muitos anos, mas por vê-lo hoje como uma das pessoas mais lúcidas e importantes da nossa sociedade. O show Amarelo no Theatro Municipal de São Paulo foi mostrado em partes anteriormente, no documentário Emicida: Amarelo é Tudo Para Ontem, mas na última quinta, 15 de julho chegou na integra, ao catálogo da Netflix.

    SINOPSE

    O show do álbum Amarelo de Emicida foi realizado no Theatro Municipal de São Paulo no dia 27 de Novembro de 2019 e contou com algumas inserções pontuais no documentário lançado em 2020 na Netflix.

    ANÁLISE

    Emicida

    Como um dos mais brilhantes projetos multimídia dos dias de hoje, Amarelo de Emicida mostra o quão na frente o rapper, Fióti e a Laboratório Fantasma estão em relação às outras produções nacionais.

    Funcionando tanto como um canto de amor, como uma obra de resistência, Amarelo tem como intuito trazer aos fãs do rapper uma mensagem de esperança, afeto para tempos tão sombrios que mais tarde chegariam.

    Ver Emicida no palco tanto na Netflix, no documentário e até mesmo em um show ao vivo – que eu tive a oportunidade de testemunhar em Março de 2020 -, é uma experiência única. Amarelo: Ao Vivo é uma experiência que deve ser testemunhada por mais que você não conheça o trabalho de Emicida. Nele vemos o ponto mais alto de sua carreira, principalmente nas músicas “Principia“, “Quem tem um Amigo tem tudo“, “Eminência Parda“, “Ismália” e “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida“… ou basicamente todas as músicas do álbum Amarelo.

    A profundidade, a montagem, a sincronia, todo o espetáculo que vemos em Amarelo: Ao Vivo nos dá a certeza de que Emicida atingiu sua maturidade artística de inúmeras formas. O som da natureza em meio às composições, mostra o quão importante a natureza foi no desenvolvimento do álbum. E em sua grande parte exalta elementos como a busca pelo melhor em si, nos outros e reforça suas raízes no mundo em que cresceu.

    Amarelo nos traz sensação de um mundo melhor, nos causa esperança, e mostra que lucidez pode ser alcançada em meio à brutalidade de um mundo cruel, onde a dessensibilização tem se tornado cada vez mais frequente com as frequentes exposições às brutalidades diárias.

    VEREDITO

    Emicida

    Amarelo nos faz acreditar que um vindouro futuro brilhante é capaz nos dias hoje. Nos trazendo mensagens de amor, de apoio, e solidariedade e nos garante que em sua grande parte, o melhor pode ser tirado das coisas.

    O álbum e o show nos fazem ter certeza de que mesmo depois de todo o apagamento no passado, o papel que Emicida tem em meio aos jovens nos dias de hoje é de extrema importância em um país que tem em sua agenda o genocídio e o apagamento de pessoas negras.

    A importância de um espetáculo do tamanho de Amarelo dentro do Theatro Municipal de São Paulo não se limita apenas a um feito na carreira de Emicida. E mostra a importância que o álbum Amarelo tem nos dias de hoje e precisa ser visto como um marco na cultura e nos projetos crossmedia, tendo deixado de ser apenas um álbum, se expandindo para um podcast, um documentário e também um show ao vivo na gigante do streaming.

    Amarelo: Ao Vivo está disponível na Netflix.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Confira o trailer:

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    CRÍTICA – Jolt (2021, Tanya Wexler)

    Jolt é a mais nova produção original da Amazon Prime Video. Dirigida por Tanya Wexler e roteirizada por Scott Wascha, a produção de ação traz Kate Beckinsale no papel principal. O longa estreia no dia 23 de julho na plataforma.

    SINOPSE DE JOLT

    Lindy (Kate Beckinsale) é uma mulher bonita e sarcasticamente engraçada com um segredo doloroso: devido a uma desordem neurológica rara, ao longo da vida ela experimenta impulsos assassinos esporádicos cheios de raiva que só podem ser interrompidos quando ela aperta um botão e toma uma descarga elétrica.

    Incapaz de encontrar amor e conexão em um mundo que teme sua condição bizarra, ela finalmente confia em um homem por tempo suficiente para se apaixonar, apenas para encontrá-lo assassinado no dia seguinte. Com o coração partido e enfurecido, ela embarca em uma missão repleta de vingança para encontrar seu assassino, ao mesmo tempo que é perseguida pela polícia como principal suspeita do crime.

    ANÁLISE

    Os fãs de Kate Beckinsale esperam, há anos, um novo filme da franquia Anjos da Noite. Enquanto esse momento não chega, o público provavelmente se sentirá satisfeito com a personagem de Kate em Jolt. Interpretando Lindy, uma mulher com um humor sarcástico que é puro entretenimento, Kate retorna às suas origens com um filme de ação divertido.

    É difícil ver uma personagem feminina, loira, de cabelo curto em um filme de ação e não associar, quase que automaticamente, ao ótimo Atômica, estrelado por Charlize Theron. O longa possui cenas de ação tão bem produzidas que elevou o patamar dos filmes de ação, sendo quase que instantânea a comparação com outros títulos de mesmo segmento.

    Outros pontos do longa lembram Atômica. O mais chamativo deles é, de fato, o plot principal: um homem que Lindy conhece é assassinado e isso dá início aos acontecimentos da história. No entanto, Jolt não segue o lado investigativo e de suspense que são a marca de John Wick e Atômica, optando por uma trama de ação mais espirituosa.

    O que diferencia Jolt dos outros longas é o humor peculiar da protagonista. Mantendo diálogos engraçados durante todos os 91 minutos de duração, o longa de Tanya Wexler ganha o espectador pela simpatia que criamos pela personagem principal.

    As cenas de ação não são tão bem coreografadas quanto de outros tantos filmes do gênero, e a história em si é um mix de super-herói com agente secreto. Entretanto, a personagem principal é tão eloquente que consegue cativar a atenção do público.

    CRÍTICA - Jolt (2021, Tanya Wexler)

    Jolt está muito bem servido de elenco de apoio. Bobby Cannavale, Laverne Cox, Jai Courtney, Susan Sarandon e Stanley Tucci são alguns dos nomes de peso envolvidos na produção. Todos eles possuem espaço para brilhar, mantendo o divertimento todas as vezes em que um deles tem alguma interação com a personagem de Beckinsale.

    Bobby Cannavale e Laverne Cox funcionam bem juntos com a dupla de tiras que quer ajudar (e prender) Lindy. Ambos conseguem transitar bem entre o humor e a ação, o que acaba ajudando no desenrolar da trama.

    O longa não passa a impressão de ser aqueles filmes de ação que se levam totalmente a sério, o que abre espaço para o espectador abraçar as galhofas em alguns arcos da trama. O final é previsível, mas deixa também ganchos para um possível próximo capítulo.

    Apesar de não ser muito inventivo em sua trama e ter nos diálogos a parte mais divertida da produção, vale destacar o ótimo trabalho de trilha sonora de Dominic Lewis. Sua condução é muito efetiva, trazendo impacto em diversas cenas de perseguição e luta.

    VEREDITO

    Jolt é um bom entretenimento para o seu final de semana. Com uma trama simples, mas com uma personagem principal simpática, a produção é uma boa escolha da Amazon Prime Video.

    Nossa nota

    3,5/5,0

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    TBT #134 | A Mosca (1986, David Cronenberg)

    A indústria do horror começou com produções magistrais a partir década de 1970 e sobre tantos filmes incríveis que pavimentaram o caminho, coube à década de oitenta construir as mentes brilhantes e inovadoras de artistas de maquiagem e efeitos. Até porque, estamos falando da época em que os efeitos práticos inovadores e alucinantes que inauguraram a Idade de Ouro pré-CGI do Cinema – o que significava um glorioso excesso de criaturas em horror. E é assim que o filme A Mosca, também faz parte desses projetos incríveis, uma produção que merece sempre ser homenageada.

    SINOPSE 

    Seth Brundie (Jeff Goldblum) é um cientista excêntrico que trabalha numa nova invenção, uma máquina de teletransporte – a TelePod. Ao seu lado, tem Verônica (Geena Davis), uma jornalista que acompanha seus projetos acreditando ser essa a história do ano. Ao experimentar seu novo invento, Seth não percebe que uma mosca entrou na cabine do teletransporte. O imprevisto faz com que os padrões moleculares do homem e do inseto se misturem e, pouco a pouco, o cientista vai sofrendo terríveis transformações.

    ANÁLISE 

    O cinema de David Cronenberg, é como uma autópsia ou uma dissecação: versa, invariavelmente, sobre o que há por debaixo dessa “humana” pele que vestimos. É um cinema que escalpela, para revelar, de modo explícito, da carne crua do animal que somos. A visão que o diretor possui deste animal é a seguinte: trata-se de uma besta-fera, latejando dentro da cada um de nós, sedenta de sangue, faminta por carne, ávida por sexo. Além disso, em todos os filmes do Cronenberg, seus personagens estão escondendo algo de si que, ao longo da trama, passarão por uma transformação ou metamorfose na qual eles deixarão de ser o que aparentavam para se tornar ou revelar o que – ou quem – realmente são.

    A transformação de um humano em um inseto a cada minuto do filme é com certeza bastante angustiante. Como toda obra cinematográfica, esperamos que algum milagre possa acontecer e que Seth possa voltar a ser humano, mas a cada minuto que passa, sua salvação parece estar cada vez mais distante e isso faz com que o telespectador seja jogado em uma verdadeira roleta russa de emoções.

    Seth é um personagem que representa um excesso de humanização: um cientista brilhante, extremamente culto e inteligente, autodidata, mas com determinadas habilidades sociais, ligadas ao instinto básico da sexualidade, pouco desenvolvidas. Sua dificuldade em, por meio do flerte, seduzir Verônica, o leva a expor o seu segredo para atraí-la ao seu apartamento. Verônica, é uma jornalista que, na trama elaborada por David Cronenberg, cumpre o papel de descobrir os mistérios que Seth guarda.

    Agora, talvez o maior destaque para o filme, é o seu trabalho extremamente impecável de maquiagem. Durante todo o processo de metamorfose, podemos ver nitidamente. O resultado foi um design de criatura e efeitos de maquiagem que imprimiram um realismo impressionante ao conto trágico de Cronenberg. O processo preencheu em uma transformação macabra da divisão da pele à medida que partes de insetos emergem, operadas via plataformas por vários membros da equipe ao mesmo tempo.

    O estágio final foi um impressionante boneco de haste manipulado com sistemas hidráulicos, motores e cabos que levavam oito operadores por baixo da criatura. O resultado disso? Chris Walas e Stephan DuPuis (supervisores de maquiagem) ganharam um Oscar de Melhor Maquiagem em 1987 e o mais importante: foram primordiais para transformar o filme como um clássico do gênero.

    A trama tem cheiro, forma e gosto de um verdadeiro banquete de cinema trash, isto é fato. Mas, o que muitas vezes passa despercebido pelo espectador, é o brilhantismo de toda a composição narrativa e da densidade e profundidade psicológica que podem ser encontradas nesta e em grande parte das obras do diretor.

    O que mais impressiona em A Mosca é a inteligência com que David Cronenberg trabalha a construção não apenas dos acontecimentos, mas da conotação humanista das personagens envolvidas nessa trama aparentemente inverossímil e inegavelmente fora da realidade – o que nos permite enxergar a mutação da personagem de Goldblum de forma metafórica, a exemplo da transformação do caixeiro viajante em barata no clássico literário A Metamorfose, de Franz Kafka (somada à intervenção do homem no andamento do mundo moderno, algo que ainda não possuía exacerbância na época em que vivera o escritor checo).

    VEREDITO

    O que David Cronenberg realiza em A Mosca é uma deturpação dos relacionamentos modernos e da ambição humana através da animalização do indivíduo e da expressão corporal grotesca para expor a desumanidade interna.

    A trilha do Howard Shore é maravilhosa, a maquiagem é estupenda e a direção de Cronenberg garante que toda a atmosfera e agilidade do roteiro se mantenham firmes até um fim, num filme direto, bizarro e rico.

    As atuações estão ótimas, mas Jeff Goldblum é um verdadeiro fenômeno ao saber transmitir os trejeitos, as obsessões e a perda de humanidade processual que acontece em seu personagem. O terceiro ato é particularmente magnífico, e certamente A Mosca é um daqueles filmes de terror que são obrigatoriedade para fãs do gênero.

    Nossa nota

    4,5 / 5,0

    Assista ao trailer:

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    CRÍTICA – Céu Vermelho-Sangue (2021, Peter Thorwarth)

    Céu Vermelho-Sangue é um longa alemão dirigido e roteirizado por Peter Thorwarth e conta com Dominic Purcell (Blade Trinity/Legends of Tomorrow) em seu elenco.

    SINOPSE

    Um grupo de terroristas sequestra um avião. Entretanto, eles não esperavam que uma de suas passageiras pudesse atrapalhar seus planos, uma vez que ela é uma vampira que tem muita sede de sangue.

    ANÁLISE

    Céu Vermelho-Sangue é o tipo de filme que traz um premissa diferente e muito interessante, pois sai do lugar comum em sua apresentação.

    Ao colocar dois elementos de perigo em um avião, que já causa medo nas pessoas, por exemplo, o longa apresenta momentos claustrofóbicos que nos dão aflição.

    A direção consegue trabalhar muito bem seus personagens, uma vez que cada um dos terroristas é ameaçador, mas ninguém coloca mais medo que a protagonista, interpretada de forma incrível por Peri Baumeister (The Last Kingdom). Ela consegue usar muito bem seu corpo e sua impostação de voz, apresentando, de fato, muitas qualidades. Seus movimentos são orgânicos e muito bem coreografados, assim como os dos demais vampiros, por exemplo. 

    O jovem ator que interpreta Elias é um dos bons destaques da trama, visto que consegue entregar uma atuação bem convincente, mesmo com tão pouca idade.

    Os flashbacks são interessantes e a dinâmica da trama é envolvente, pois tem com boas sequências de ação e uma forma diferente de trabalhar uma protagonista nada frágil.

    VEREDITO

    Com uma história ousada e boas sacadas da direção e roteiro, por exemplo, Céu Vermelho-Sangue é uma excelente aposta da Netflix.

    Com uma proposta bem inventiva, que apresenta situações desesperadoras e, ao mesmo tempo, mostra boas cenas de ação, o longa é sem dúvidas uma boa surpresa no catálogo.

    Nossa nota

    4,0/5,0

    Confira o trailer de Céu Vermelho-Sangue:

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