CRÍTICA | We Are Who We Are: Episódio 6 – Right Here, Right Now VI

    O sexto episódio de We Are Who We Are chamado Right Here, Right Now VI foi ao ar na última segunda-feira (19/10), na HBO. Com apenas dois episódios para o fim da minissérie, o episódio tem direção e roteiro de Luca Guadagnino.

    SINOPSE

    Caitlin (Jordan Kristine Seamón) está de castigo por ter cortado o cabelo. Logo, Richard (Scott Mescudi) leva a filha para caçar na tentativa de se aproximar da jovem. Enquanto isso, Frazer (Jack Dylan Grazer) e Jonathan (Tom Mercier) saem em um encontro.

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    Episódio 3 – Right Here, Right Now III

    Episódio 2 – Right Here, Right Now II

    Episódio 1 – Right Here, Right Now

    ANÁLISE

    Lidar com mudanças nunca é um processo fácil, seja você adulto ou adolescente. Nesse sentido, We Are Who We Are evidencia de forma brilhante todo a angústia, a euforia e o medo que se sente quando se muda. Logo, o sexto episódio da série trabalha a mudança em todos os níveis e como essas pequenas ou grandes alterações impactam as pessoas.

    Caitlin está em processo de mudança, a cada episódio é visto sua curiosidade pela transição de gênero aumentar. Sendo assim, Caitlin busca se assemelhar a um padrão de masculinidade que envolve desde exercícios físicos a armas. Certamente não é o melhor padrão, mas é o que ela conhece vivendo em uma base militar.

    O próprio Fraser já a reconhece como Harper, o que indica que nos próximos episódios teremos essa revelação por parte da própria Caitlin. Logo, Sarah (Chloë Sevigny) também incentiva essa mudança e entrega a Caitlin um folheto sobre acompanhamento psicológico para pessoas em transição. É um momento bastante significado já que Sarah faz um discurso sobre “nos conhecermos para sermos a mudança que o mundo precisa”.

    Sendo assim, o episódio também aborda a ligação que Fraser e Caitlin criaram e como é a dinâmica deles quando estão separados. Visto que Caitlin está de castigo, Richard a leva para caçar durante o final de semana. Logo, Fraser decide investir em sua relação com Jonathan, mas não antes de consultar a amiga por mensagens de texto. Consequentemente, há um sentimento de cumplicidade e apoio entre os dois adolescentes.

    Em uma cena hipnotizante, Fraser e Caitlin coreogram a música “Time Will Tell” de Dev Hynes (que também ajudou a criar trilha sonora da série). Ao estilo dos anos 90, os jovens vestidos de branco recriam o clipe divino de Hynes como se fosse um sonho lúdico dividido por ambos. Essa cena se faz presente em um momento que Fraser e Caitlin estão separados reforçando ainda mais o mundo em criaram para si mesmos.

    A trama segue com Fraser e Jonathan saindo, o que é claramente incentivado por Sarah, mas criticado por Maggie (Alice Braga) que fica de fora mais uma vez das decisões da vida de Fraser. Sendo assim, Fraser e Jonathan passam o dia junto em uma troca muito bonita que inspira romance, mas também confiança.

    Porém, como nem tudo são flores. O final do episódio cria uma sequência impactante ainda que o momento inteiro seja Sarah assistindo as notícias e recebendo um telefone. É 2016, como já se sabe Trump ganhou as eleições presidenciais, Sarah assiste aos jornais dando a vitória improvável do republicano com o slogan “America Great Again“. Sarah atende ao telefone e parece que alguma coisa deu errado, quando ela pergunta: “Quantos?“.

    Mas, minutos atrás Fraser assistia a uma entrevista no YouTube do designer de moda Karl Lagerfeld, no qual ele diz:

    “No minuto em que você achar que o passado era melhor, seu presente é de segunda mão e você se torna vintage.”

    É uma fala poderosa sobre estar preso ao passado enquanto o aqui e agora acontece debaixo de seu nariz. Logo, ouvir essa fala e depois assistir ao presidente americano eleito é quase uma provocação e alerta da série.

    Richard e a personificação do conservadorismo

    Assim como Sarah, Richard também é um personagem muito peculiar que precisa ser seguido de perto. A atuação de Scott Mescudi é contida sem muitas brechas para suposições o que impacta em um personagem convicto de suas crenças e opiniões.

    Ao pegar Caitlin na porta da escola, Richard quer se assegurar que a filha fique longe de Fraser. Já no carro, buscando se conectar com a filha Richard diz que ela pode escolher a música que irá tocar tratando a como uma criança.

    Richard sabe que existe uma mudança pairando Caitlin, mas sua atitude conservadora não quer aceitar que sua filha não é mais criança e que a mudança está em seu gênero. Após as investidas do pai sobre Caitlin estar mudando seu jeito, a jovem responde: “Ainda sou eu.”.

    Esse episódio é cheio de frases tocantes e importantes, mas quando Caitlin diz isso ela está representando milhares de jovens LGBTQI+ que se sentiram rejeitados pelos pais a se assumirem. É poderoso e aterrador.

    O soldado então pergunta a filha porque ela é amiga de Fraser, já que em sua concepção os dois não têm nada em comum. Para Caitlin é simples, Fraser a entende, mas Richard fala mal do estilo do garoto e Caitlin responde: “Ele só parece assim. Ele não é realmente isso. Ou ele não é só isso.“.

    Logo, We Are Who We Are tem a façanha de tratar todas as formas de “ser” no aqui e agora. Como Fraser, Richard também não é só isso: ele é mais do que um homem conversador, é também um pai preocupado que não compreende a mudança de sua filha. Resta saber se quando Caitlin se revelar Harper, Richard irá abrir mão de seu pensamento antiquado ou virar as costas para a filha.

    VEREDITO

    Mais uma vez Luca Guadagnino faz uma direção belíssima eternizando os momentos em cenas congeladas. As cenas close up de Sarah e Maggie falando para a câmera passa a sensação de imersão e acentua o impacto da conversa. 

    Nossa nota

    4,0 / 5,0



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