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    TBT #110 | 101 Dálmatas (1961, Wolfgang Reitherman, Clyde Geronimi, Hamilton Luske)

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    Em seus mais de noventa anos de existência, o atual Walt Disney Animation Studios produziu obras inestimáveis e dos mais diferentes gêneros, de fantasia a mistério. E uma das obras mais ousadas e singulares foi 101 Dálmatas, lançada há 60 anos, em 25 de Janeiro de 1961.

    SINOPSE

    Pongo (Rod Taylor) está cansado da vida de solteiro. Enquanto olha para fora da janela de sua casa, ele reflete sobre a monotonia em que ele e Roger (Ben Wright) estão fadados e, tendo plena ciência que seu dono não fará nada para mudar a situação, ele decide agir. É então que ele avista a bela Prenda (Cate Bauer) e sua humana passando em direção ao parque e decide por seu plano em prática.

    Após um desastroso e divertido encontro, os dois casais vivem tranquilamente sem muito luxo, mas com muita felicidade. E isso é acentuado com a chegada de 15 filhotinhos que acabaram de nascer, mas a chegada dos novos moradores desperta a cobiça de Cruella De Vil (Betty Lou Gerson), uma antiga amiga de Anita (Lisa Davis), que é simplesmente apaixonada por peles.

    A megera faz uma proposta ao casal para comprar os filhotes, mas, após a recusa de ambos, Cruella sai indignada, preparada para conseguir seu objetivo a qualquer custo e fazer um lindo casaco de pele de dálmatas.

    ANÁLISE

    Assim como outras produções dos estúdios Disney, 101 Dálmatas não é uma história original. Ele foi inspirado em um livro lançado em 1956 da escritora inglesa Dodie Smith, e que leva o mesmo nome. Porém, para a criação do longa alguns detalhes da obra acabaram sendo adaptados. Um deles é o fato de que, no exemplar, a verdadeira mãe dos filhotes não é Prenda, e sim uma cadelinha chamada Missis Pongo.

    Logo na abertura podemos ver quão diferente este clássico é dos dezesseis anteriores. Um trabalho muito artístico e divertido. Usando as manchas dos cachorros, os animadores criam várias piadas visuais, desde notas musicais a fumaça de chaminé. Isso já dita muito do tom dos setenta e cinco minutos seguintes, especialmente em parceria com a magistral trilha de George Bruns.

    Com uma dinâmica inusitada e com a direção de três mentes brilhantes (Clyde Gerônimo, Hamilton Luske e Wolfgang Reitherman), o filme não apresenta dificuldades em construir a forte ligação do público com seus personagens, utilizando bem a passagem de tempo para o avançar da história e a construção de cenas dramáticas e precisas para despertar fortes emoções.

    É engraçado como os humanos se veem de mãos atadas em determinadas situações e os animais precisam tomar a frente para resolver o problema.

    Outro aspecto onde 101 Dálmatas entrega é o humor, permeado por sequências genuinamente engraçadas e divertidas que, também, ajudam a fazer do filme mais leve.

    Os animadores, apesar de haver uma centena de dálmatas permeando o filme, conseguiram dar a alguns deles personalidades específicas, que são usadas em diversos momentos para gerar humor, mesmo que elas não sejam elevadas à máxima potência.

    O contraste das fortes linhas pretas dos dálmatas auxiliaram a criar um visual ainda mais peculiar para o filme. Frank Thomas e Ollie Johnston, animadores de Pongo e Prenda, souberam usar isso a seu favor, abusando de suas expressões e da liberdade de trabalhar com animais para ressaltá-los.

    Já os humanos Anita e Roger ficaram para Milt Kahl animar. Ao contrário de animais falantes, humanos precisam ser verossímeis. Mesmo com os traços exagerados e retos, o trabalho de Kahl é muito fiel à realidade. A cena na qual Pongo lambe a mão de Roger e seu cachimbo dá cambalhotas no ar é um deleite aos olhos.

    Ken Anderson, diretor de arte, trabalhou arduamente para criar cenários que destacassem os personagens e combinassem com o novo estilo rústico do xerox. O resultado não poderia ser mais artístico: uma combinação moderna e abstrata de ângulos acentuados com uma simetria amplificada, com toques de assimetria a fim de torná-los mais reais, mas com uma qualidade sutil de caricatura.

    A construção de Cruela também é um dos grandes acertos do longa, pois ela é uma vilã divertidíssima. Com seu aspecto esquelético, a pele albina, os olhos esbugalhados e o cigarro sempre à mão, ela é uma caricatura ambulante que parece que vai cair a qualquer passo com suas pernas longas e finas.

    Suas expressões de raiva e indignação a tornam ainda mais engraçada, parecendo menos terrível que uma Malévola e chegando mais próximo de um personagem “malvado” de produções como a do Looney Tunes, por exemplo.

    Não que ela deixe de ser perigosa, mas acaba se tornando muito mais simpática para o público. Não é à toa que Glenn Close assumiu com perfeição e conquistou os espectadores no remake live-action de 1996.

    VEREDITO

    Sendo uma aventura divertida, que possui comédia, suspense e ação na dose certa, 101 Dálmatas se tornou um ótimo e instigante entretenimento.

    E por mais que o próprio Walt Disney não tenha gostado do filme, o público se encantou com a história, e hoje, Pongo, Prenda e todos os seus noventa e nove filhotes são uma parte tão querida da biblioteca da Disney quanto qualquer princesa.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Assista ao trailer dublado:

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    Decoração nerd/geek: Dicas criativas e inspiradoras

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    Antes de apresentar algumas dicas de decoração criativa nerd/geek para vocês vamos conhecer esses termos? 

    Nerds e geeks são termos diferentes aplicados para tipos de pessoas diferentes – apesar de que é possível carregar consigo os dois títulos simultaneamente sem nenhum problema.

    Os nerds são mais intelectuais e se concentram em adquirir conhecimento profundo em um tema ou área específica, por outro lado, os geeks podem ser vagamente descritos como entusiastas, obcecados por coisas legais e modernas.

    Em 2013, o engenheiro de software Burr Settles fez uma pesquisa no Twitter para descobrir quais são as palavras mais associadas a nerds e geeks. E os resultados publicados por Settles foram temas como bioquímica, seminários, Harvard, física, matemática, biologia e neurociência estão mais relacionados aos nerds. Já temas como cultura, documentários, webcomics, tecnologia e tendências têm mais a ver com os geeks.

    Vale ressaltar que temas como vídeogames, filmes de super-heróis, Star Wars, cosplay, quadrinhos e livros são compartilhados quase que na mesma medida entre ambos, o que também é bastante significativo para percebermos que as duas tribos guardam muita semelhança.

    Seja lá qual for o tipo de nerd ou geek que você é, com certeza você pode demonstrar sua paixão dos seus temas preferidos e deixar a sua caverna/casa/mundo/galáxia/multiverso com a sua cara, não é mesmo?

    Mas por onde começar? O ideal é que você defina sua preferência pois misturar muitos temas pode resultar em um ambiente carregado e confuso demais – mas isso não é uma regra, apenas sugestão.

    Para garantir uma decoração nerd/geek organizada e bem estruturada, uma ótima ideia é apostar em estantes, prateleiras e nichos a fim de manter seus livros, coleção e os elementos decorativos em ordem. As caixas organizadoras também são ótimas para te ajudar na organização de itens de estudos e de escritório.

    Se você é um colecionador de carteirinha, aproveite para expor seus itens e assim dar destaque a sua decoração.

    Bônus: Fitas de led nas prateleiras ou nichos destacam seus objetos e trazem aconchego para o seu ambiente (podem ser encontradas facilmente em sites da China como uma opção mais barata). 

    Para deixar seu ambiente ainda mais personalizado, invista em estante temática pois além de funcional, é o sonho de consumo de todo nerd/geek

    Se você é aquela pessoa que precisa de um cantinho para estudos, leitura ou home office, com certeza irá priorizar por um ambiente agradável e por que não personalizado?

    Uma mesa bacana será uma ótima aliada e ainda fará parte da decoração. A escolha de itens e mobiliário para seu ambiente vai depender exclusivamente de você e de quando está disposto a investir financeiramente. Existem muitas opções de DIY (Do It Yoursef, em português: faça você mesmo) caso opte por gastar menos. 

    Passeando ainda pelo seu cantinho de estudos/home office, podemos acrescentar itens personalizados como porta lápis, luminária e até mesmo itens colecionáveis para compor a decoração. Não podemos nos esquecer que uma poltrona ou cadeira gamer é parte essencial para trazer conforto enquanto lê, escreve ou joga!

    Bônus: A fita de led que eu comentei, também pode ser utilizada atrás da mesa e dá um efeito gamer irado!

    O mundo das séries, filmes, quadrinhos e tecnologia também podem ser retratados na decoração do dormitório. Roupas de cama e almofadas temáticas renovam o espaço além de criar uma composição harmônica e organizada!

    Para dar destaque à parede principal do ambiente, invista em quadros com imagens dos seus personagens favoritos, pôsteres, quadrinhos, papéis de parede, que são fáceis de aplicar e  murais para deixar o cômodo personalizado, irado e/ou charmoso.

    A decoração nerd/geek na verdade, pode estar em qualquer ambiente da casa, até mesmo na cozinha ou banheiro. Não se prenda e deixe sua imaginação fluir com essas inspirações!

    Conta pra gente nos comentários qual seu tema favorito!

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    Globo de Ouro: Veja a lista de indicados deste ano

    A Hollywood Foreign Press Association (Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood) está de volta. As indicações ao Globo de Ouro de 2021 foram anunciadas hoje, dando início a uma das temporadas de premiação mais estranhas da história.

    De fato, devido à pandemia, o número de filmes elegíveis caiu, mas o prazo da temporada de prêmios também foi prorrogado até o final de fevereiro – o que significa que os filmes destinados a ganhar esses prêmios terão, tecnicamente, sido lançados em 2020 e 2021.

    Uma boa notícia nesta edição do Globo de Ouro é que três dos cinco indicados para Melhor Diretor são mulheres: Chloe Zhao (Nomadland), Emerald Fennell (Promising Young Woman) e Regina King (Uma Noite em Miami) receberam indicações de Melhor Diretor ao lado de David Fincher (Mank) e Aaron Sorkin (Os 7 de Chicago). Espero isso seja um reflexo do Oscar.

    Tina Fey e Amy Poehler voltam ao comando da cerimônia de entrega pela primeira vez desde 2015. No entanto, dessa vez as duas não estarão no mesmo local. Fey apresentará do topo do Rockfeller Center, em Nova Iorque, e Poehler estará em Beverly Hills.

    A cerimônia de premiação do Globo de Ouro acontecerá no domingo, dia 28 de fevereiro.

    Confira abaixo a lista de indicados:

    MELHOR FILME DE DRAMA

    Meu Pai
    Mank
    Nomadland
    Promising Young Woman
    Os 7 de Chicago

    MELHOR ATRIZ EM FILME DE DRAMA

    Viola Davis – A Voz Suprema do Blues
    Andra Day – Estados Unidos Vs Billie Holiday
    Vanessa Kirby – Pieces of a Woman
    Frances McDormand – Nomadland
    Carey Mulligan – Promising Young Woman

    MELHOR ATOR EM FILME DE DRAMA

    Riz Ahmed – O Som do Silêncio
    Chadwick Boseman – A Voz Suprema do Blues
    Anthony Hopkins – Meu Pai
    Gary Oldman – Mank
    Tahar Rahim – The Mauritanian

    MELHOR ATRIZ COADJUVANTE EM FILME

    Glenn Close – Era uma Vez um Sonho
    Olivia Colman – Meu Pai
    Jodie Foster – The Mauritanian
    Amanda Seyfried – Mank
    Helena Zengel – Relatos do Mundo

    MELHOR ATOR COADJUVANTE EM FILME

    Sacha Baron Cohen – Os 7 de Chicago
    Daniel Kaluuya – Judas e o Messias Negro
    Jared Leto – Pequenos Vestígios
    Bill Murray – On The Rocks
    Leslie Odom Jr. – Uma Noite em Miami

    MELHOR DIREÇÃO EM FILME

    Emerald Fennell – Promising Young Woman
    David Fincher – Mank
    Chloé Zhao – Nomadland
    Regina King – Uma Noite em Miami
    Aaron Sorkin – Os 7 de Chicago

    MELHOR ROTEIRO EM FILME

    Promising Young Woman
    Mank
    Os 7 de Chicago
    Meu Pai
    Nomadland

    MELHOR ANIMAÇÃO

    Os Croods 2: Uma Nova Era
    Dois Irmãos – Uma Jornada Fantástica
    A Caminho da Lua
    Soul
    Wolfwalkers

    MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

    Another Round – Dinamarca
    A Maldição da Chorona – França, Guatemala
    Rosa e Momo – Itália
    Minari – Em Busca da Felicidade – EUA
    Nós Duas – EUA, França

    MELHOR TRILHA SONORA EM FILME

    O Céu da Meia-Noite
    Tenet
    Relatos do Mundo
    Mank
    Soul

    MELHOR CANÇÃO EM FILME

    Fight for You” – Judas e o Messias Negro
    Hear My Voice” – Os 7 de Chicago
    Io Sí (Seen)” – Rosa e Momo
    Speak Now” – Uma Noite em Miami
    Tigress & Tweed” – Estados Unidos Vs Billie Holiday

    MELHOR FILME DE COMÉDIA OU MUSICAL

    Borat: Fita de Cinema Seguinte
    Hamilton
    Music
    Palm Springs
    A Festa de Formatura

    MELHOR ATRIZ EM FILME DE COMÉDIA OU MUSICAL

    Maria Bakalova – Borat: Fita de Cinema Seguinte
    Kate Hudson – Music
    Michelle Pfeiffer – French Exit
    Rosamund Pike – I Care a Lot
    Anya Taylor-Joy – Emma

    MELHOR ATOR EM FILME DE COMÉDIA OU MUSICAL

    Sacha Baron Cohen – Borat: Fita de Cinema Seguinte
    James Corden – A Festa de Formatura
    Lin-Manuel Miranda – Hamilton
    Dev Patel – The Personal History of David Copperfield
    Andy Samberg – Palm Springs

    MELHOR SÉRIE DE DRAMA

    The Mandalorian
    The Crown
    Lovecraft Country
    Ozark
    Ratched

    MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DE DRAMA

    Emma Corrin – The Crown
    Olivia Colman – The Crown
    Jodie Comer – Killing Eve
    Laura Linney – Ozark
    Sarah Paulson – Ratched

    MELHOR ATOR EM SÉRIE DE DRAMA

    Jason Bateman – Ozark
    Josh O’Connor – The Crown
    Bob Odenkirk – Better Call Saul
    Matthew Rhys – Perry Mason
    Al PacinoHunters

    MELHOR ATRIZ COADJUVANTE EM SÉRIE

    Gillian Anderson – The Crown
    Helena Bonham Carter – The Crown
    Julia Garner – Ozark
    Annie Murphy – Schitt’s Creek
    Cynthia Nixon – Ratched

    MELHOR ATOR COADJUVANTE EM SÉRIE

    John Boyega – Small Axe
    Brendan Gleeson – The Comey Rule
    Daniel Levy – Schitt’s Creek
    Jim Parsons – Hollywood
    Donald Sutherland – The Undoing

    MELHOR SÉRIE DE COMÉDIA OU MUSICAL

    Emily em Paris
    The Flight Attendant
    Schitt’s Creek
    The Great
    Ted Lasso

    MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DE COMÉDIA OU MUSICAL

    Lily Collins – Emily em Paris
    Kaley Cuoco – The Flight Attendant
    Elle Fanning – The Great
    Catherine O’Hara – Schitt’s Creek
    Jane Levy – Zoey e sua Playlist Extraordinária

    MELHOR ATOR EM SÉRIE DE COMÉDIA OU MUSICAL

    Don Cheadle – Black Monday
    Nicholas Hoult – The Great
    Eugene Levy – Schitt’s Creek
    Jason Sudeikis – Ted Lasso
    Ramy Youssef – Ramy

    MELHOR MINISSÉRIE OU FILME PARA TV

    Normal People
    O Gambito da Rainha
    Small Axe
    The Undoing
    Nada Ortodoxa

    MELHOR ATRIZ EM MINISSÉRIE OU FILME PARA TV

    Cate Blanchett – Mrs. America
    Daisy Edgar-Jones – Normal People
    Shira Haas – Nada Ortodoxa
    Nicole Kidman – The Undoing
    Anya Taylor-Joy – O Gambito da Rainha

    MELHOR ATOR EM MINISSÉRIE OU FILME PARA TV

    Bryan Cranston – Your Honor
    Jeff Daniels – The Comey Rule
    Hugh Grant – The Undoing
    Ethan Hawke – The Good Lord Bird
    Mark Ruffalo – I Know This Much is True

    A cerimônia de premiação do Globo de Ouro acontecerá no domingo, dia 28 de fevereiro.

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    CRÍTICA – Bliss: Em Busca da Felicidade (2021, Mike Cahill)

    Bliss: Em Busca da Felicidade, novo longa original da Amazon Prime Video, chega ao streaming no próximo dia 5 de fevereiro. Escrito e dirigido por Mike Cahill, a ficção-científica traz Salma Hayek e Owen Wilson nos papéis principais.

    SINOPSE

    Depois de se divorciar e, em seguida, ser demitido, Greg (Owen Wilson) conhece a misteriosa Isabel (Salma Hayek), uma mulher que vive nas ruas e está convencida de que o mundo poluído e destruído ao redor deles é uma simulação de computador.

    ANÁLISE

    Bliss se propõe a ser uma ficção/distopia que aborda uma das principais indagações do ser humano: o que é ser feliz? O que compõe a ideia de felicidade? Ela pode estar nas pequenas coisas ou precisa ser encontrada em grandes eventos e realizações?

    Com esse mote, acompanhamos a estranha vida de Greg, um homem divorciado e claramente infeliz em sua vida. Ao longo de um dia agitado e extremamente confuso, somos munidos de várias informações sobre aquela pessoa e a realidade à sua volta. Tudo acontece em curto espaço de tempo, já nos primeiros minutos do filme, o que causa uma sensação incômoda de estranheza.

    Após ser demitido de seu trabalho, Greg conhece Isabel, que afirma que tudo ao redor deles é fictício e poucas pessoas são reais. Ele é uma delas. A partir disso, eles passam a aproveitar a vida como se não houvesse regras, mas obviamente o preço por essas escolhas será cobrado em algum momento.

    Ao longo dos 108 minutos de trama, o roteiro de Mike Cahill tenta desenrolar toda a explicação sobre a realidade simulada e a vida real, além das consequências que o Brain Box pode causar na vida dos voluntários. A ideia de experienciar uma vida ruim para dar valor ao que é bom parece uma lógica simples, mas acaba sendo carregada de problemáticas.

    Mesmo com uma ótima temática e ideia, o filme se perde em sua explicação, tornando todos os acontecimentos mais difíceis do que seria necessário. A direção de Cahill também não ajuda, deixando implícita a diferença de tom entre as atuações de Hayek e Wilson. Chega a ser complicado acreditar na história que os próprios personagens estão contando quando nem mesmo os atores parecem comprar a narrativa.

    Um destaque positivo é a construção de cenário e direção de arte do filme. A diferença entre ambas as realidades se dá não só pelos cenários, mas também pelos tons das cenas, migrando de cores mais cinzas e escuras para momentos claros, com cores laranjas e amarelas. Além disso, o uso do glitch em segundo plano é bem interessante, principalmente quando vemos elementos de cena desaparecerem ou pessoas serem duplicadas no background.

    bliss: em busca da felicidade

    Talvez um dos maiores problemas seja o caminho de finalização do filme. Com uma construção que levava ao entendimento de um suspense, sobre o que é real e o que não é, o final acaba deixando a desejar, caindo em um clichê extremamente desnecessário.

    Até mesmo os personagens secundários não conseguem dar a real profundidade que a situação busca apresentar, tornando todo o desfecho bem aquém do esperado.

    VEREDITO

    Bliss tinha tudo para ser um ótimo filme de ficção e distopia, mas acaba se perdendo em sua necessidade constante de explicações, dificultando uma resolução que poderia ser simples e interessante.

    Nossa nota

    2,5 / 5,0

    Confira o trailer:

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    CRÍTICA – Mulheres & Quadrinhos (2019, Skript)

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    Organizado por Dani Marino e Laluña Machado, Mulheres & Quadrinhos reúne mais de 100 mulheres, que são ilustradores, roteiristas, pesquisadoras, ou seja, profissionais que trabalham na área de quadrinhos.

    Além de ter como objetivo mostrar diversos trabalhos, a obra com mais de 500 páginas e lançada pela editora Skript, tem como missão também desmistificar algumas ideias presentes no senso comum.

    ANÁLISE

    Mesmo com as marcantes produções do Maurício de Souza ou com a sincera Mafalda, que levanta questões políticas, a nona arte foi taxada como algo para criança e que não pode ser chamado de arte.

    Dentro dessas ideias errôneas sobre HQs existem aquelas que perpetuam até hoje, como “isso não é coisa para mulher”, “as mulheres não costumam ler gibis”, “elas não trabalham com isso” ou “elas só fazem quadrinhos fofos e românticos” e muitos outros comentários daqueles que querem retirar a mulher deste espaço.

    Por isso, Mulheres & Quadrinhos apresenta logo na introdução bem estruturada e didática que levanta esses tipos de conceitos, e destrincha utilizando dados e exemplos para provar que esse pensamento é totalmente contraditório com a realidade.

    Se você também gosta de gibis e começou a ler por causa das histórias sobre a Turma da Mônica, vai se identificar com diversas convidadas, que contam da sua experiência quando criança.

    Esses momentos em que elas relembram sobre seus primeiros contatos com esse mundo, é aquela gostosa sensação de nostalgia, onde logo, pude perceber o meu coração “quentinho” lembrando da primeira vez que minha mãe me levou na banca.

    A habilidade que o livro tem de despertar sentimentos em quem lê é o ponto máximo. Com nostalgia, sensação de estar sendo representada, esperança, indignação e até aquele forte desejo de produzir algo na hora.

    A importância com a diversidade é outro fator presente, já que as organizadoras convidaram mulheres trans, cis, não binárias, entre outras para participarem.

    Claro, que com tantas profissionais, a composição é bastante rica em multiplicidade, carrega ilustrações com todos os tipos de traços e estilos.

    Uma variedade incrível de pesquisas, que de forma bem sucinta nos apresenta de outro ângulo a realidade dos quadrinhos, das mulheres e da produção de HQs no Brasil.

    Isso está presente também nos temas, trabalhos que falam sobre ancestralidade, autoestima, heroínas, contos de terror, entrevistas, como por exemplo com a neta de um dos criadores do Batman.

    Há tantos projetos fantásticos, foi difícil escolher o meu favorito, mas como uma pessoa que ama quadrinhos e terror, a Lenda do Palhaço Coqueiro da Roberta Cirne, é o que mais me encantou. 

    VEREDITO

    Com tanta abundância, Mulheres & Quadrinhos é uma leitura fácil, conquista o leitor, mesmo com mais de quinhentas páginas “devorei” em poucos dias.

    O título da editora Skript é daqueles trabalhos que faz você querer guardar com todo zelo do mundo em sua estante junto com seus livros favoritos.

    A obra de organização de Dani Marino e Laluña Machado para este livro é um presente para quem guarda com carinho a lembrança do seu primeiro quadrinho.

    Nossa nota
     

    5,0 / 5,0

    Editora: Skript

    Autores: Várias

    Páginas: 500

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    CRÍTICA – Beginning (2020, Dea Kulumbegashvili)

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    A aproximação entre religião e cinema possibilita aprender mais da expressão artística, além de novas linguagens e compreensões que possibilitem diferentes interpretações do religioso.

    E é exatamente essa a proposta de Beginning, chancelado com o selo de Cannes e tratado como obra-prima em sua passagem pelos festivais de Toronto, onde recebeu o Prêmio da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica e de San Sebastián, do qual saiu com a Concha de Ouro e os troféus de Melhor Direção e de Melhor Roteiro.

    Além de todas essas conquistas notáveis, ainda transformou a estreante em longas-metragens Dea Kulumbegashvili, diretora georgiana de 35 anos, em uma sensação autoral do cinema.

    SINOPSE

    Beginning começa com um ataque à comunidade de Testemunhas de Jeová através do lançamento de coquetéis molotov. Depois desse evento, Yana (Ia Sukhitashvili) busca pela verdade em torno do crime, mas é atropelada por uma sociedade que a despreza, e em particular por um policial (Kakha Kintsurashvili) que desencadeia uma série irreversível de eventos traumáticos.

    ANÁLISE

    Ambientado em uma cidade provinciana no sopé das montanhas do Cáucaso, Yana vive um crescente descontentamento interno, enquanto luta para dar sentido ao mundo ao seu redor.

    Em resumo, retrata a resiliência de uma mulher perante a hostilidade e a violência com consequências dramáticas e devastadoras. A necessidade de entender o mundo de uma personagem que sofre violência psicológica o tempo inteiro é um exercício complexo que choca também com as questões do isolamento social que vivemos atualmente.

    A cena de abertura já é significativa para apresentar as escolhas estilísticas da diretora Dea Kulumbegashvili. Em parceria com o diretor de fotografia Arseni Khachaturan, eles definem que o filme deve ser composto por diversos longos planos estáticos.

    Por mais que tenha a presença de cenas intensas, o estilo da cineasta faz com que o restante da narrativa seja minimalista e tenha um ritmo lento, capaz de levar o espectador a observar cada fotograma e interpretar suas possibilidades de significado.

    Contado com um diálogo esparso e um trabalho de câmera extremamente lento e observador, que lembra os filmes de Michael Haneke, Carlos Reygadas e Chantal Akerman, a trama desvenda a vida interior de uma mulher que enfrenta um casamento e uma encruzilhada existencial.

    Kulumbegashvili representa essa prisão a partir dos próprios planos fechados e estáticos, e longos, mas na medida correta para que seu espectador se conecte e explore como bem entender essa personagem tão espetacularmente difusa e complexa que é Yana.

    Beginning constrói uma parábola sócio-religiosa cuja trajetória deixa portas abertas e perguntas sem respostas. O início profético elabora um intenso jogo narrativo, onde um plano fixo é capaz de abrigar várias dimensões: o castigo no presente, o sacrifício na tela e o assédio (por intolerância) sob o mesmo teto.

    A diretora subjuga os corpos no formato 4:3 e, ao mesmo tempo, deixa de fora do campo os elementos narrativos ameaçadores, enquanto o silêncio dos planos fixados expõem a submissão da protagonista à ordem patriarcal que marca sua vida.

    A revolta pessoal de Yana toma, no entanto, um caminho contraditório, entre a beleza de uma viagem astral e o desconforto de reconhecer o desejo em um ato repulsivo. Afinal, este é um teste de fé.

    A coprodução franco-georgiana trabalha as incógnitas de uma protagonista que jamais se revela completamente e a temporalidade de uma narrativa minimalista centrada na observação. Assim, a obra estende o poder hipnotizante das imagens para possibilidades específicas de estudo de personagem e de construção autoral da arte.

    VEREDITO

    Beggining é um estudo sobre resiliência feminina, um estudo de indivíduos e não uma reflexão sobre a prática cristã.

    Existem ali pessoas que são tocadas por um mistério, que é a fé, mas não é a religião que me interessa e, sim, a experiência individual, a vivência de uma mulher num espaço de repressão.

    O silêncio é uma parte essencial da geografia humana que nos rodeia e, através dele, é possível perceber a beleza natural e existencial à nossa volta.

    E este filme requer a cumplicidade do espectador para entramos na psique da personagem central, que encontrou no silêncio um modo de resistir.

    Nossa nota

    4,5 / 5,0

    Assista ao trailer original:

    Produzido por Carlos Reygadas, Beginning já está disponível na plataforma MUBI.

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