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    God of War: Ragnarok | Todas evidências que apontam uma viagem no tempo

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    God of War tem um longo histórico de viagem no tempo. Como o 2º game da franquia tem seu mote quase que inteiro baseado em viagem no tempo, culminando com Kratos voltando no tempo para o exato momento em que Zeus o trai.

    Muitos detalhes escondidos ao longo do game lançado em 2018, como os 11 altares dos Jotnar escondidos pelo game sugerem que sua continuação, Ragnarok, também usará viagem no tempo como um importante artifício de roteiro para fazer a parte da mitologia se encaixar na história.

    A ORIGEM DE JORMUNGANDR

    God of War

    A forma única de contar as mitologias grega ou nórdica da franquia God of War nos fez questionar como a Santa Monica Studios lidará com o plot twist da história que coloca Atreus como Loki. Além disso, a existência de Jormugandr que, por si só, já é um paradoxo. Como um dos filhos de Loki existe na mesma linha temporal em que Loki ainda é criança?

    Na Edda em prosa, mais especificamente no livro Gylfaginning, é revelado que Loki é o pai de diversas criaturas/monstros da mitologia nórdica, como Fenrir, Hel, Sleipnir, e Jormungandr, todas elas tem um importante papel para o Ragnarok, que trará o fim do mundo na mitologia nórdica como a conhecemos – todos esses filhos vêm da união de Loki com Angrboda, uma Jotnar conhecida como “A Mãe dos Monstros.”

    O game de 2018 além de mostrar claramente Jormungandr, uma interação entre a Serpente do Mundo, Atreus e Mimir, confirma a existência de Fenrir, o lobo que está destinado a devorar Odin quando a hora do Ragnarok chegar.

    Apesar de tomar diversas liberdades criativas, God of War de 2018 conta uma história concisa e deixa diversas portas abertas para muito do que ainda está por vir na continuação, ainda sem data de lançamento.

    Em determinada parte do jogo, fica acessível um altar Jotun em homenagem a Jormungandr que pode ser encontrado na Torre de Vanaheim no Lago dos Nove. O lado esquerdo do altar mostra a Serpente do Mundo sendo amamentada por sua mãe, Angrboda. O centro exibe a serpente circundando o Lago dos Nove. Por sua vez, o painel à direita mostra a serpente envenenando Thor durante o Ragnarok.

    O painel esquerdo contém antigas runas Futhark que podem ser traduzidas como “Filho de Loki e Angrboda. Irmão de Fenrir, Hel, e dos Lobos de Ferro”. Isso confirma que a Serpente do Mundo é, de fato, filha de Loki já na época em que Kratos e Atreus partem em sua empreitada, assim como confirma a existência de seus outros filhos.

    PARTINDO A YGGDRASIL AO MEIO

    A explicação da origem de Jormungandr, a Serpente do Mundo, está para sofrer algumas alterações em relação ao material fonte, retirado da Edda.

    Ainda na Edda em Prosa, é contado que após a captura de Loki pelos deuses, Odin sequestra os três filhos de Loki e lança Jormungandr no oceano que circunda Midgard. A partir daí, a Serpente não para de crescer, ao ponto de conseguir morder seu próprio rabo, circundando completamente Midgard, onde ela passou a ser conhecida como a Serpente do Mundo.

    Na mitologia nórdica, Thor e a Serpente do Mundo batalham no começo da história, e seria bem interessante ver como a Jormungandr que conhecemos chegou ao lago dos Nove Reinos. A lenda diz que, durante o Ragnarok, Thor dá um golpe final em Jormungandr, mas por fim sucumbe com o veneno dele.

    O God of War de 2018 dá a entender que a Serpente do Mundo já viveu o Ragnarok. Mimir sugere que:

    “É dito que Jormungandr e Thor batalham no Ragnarok, sua luta é tão violenta que faz a Árvore da Vida se partir, lançando a serpente de volta no tempo, mesmo antes de seu próprio nascimento.”

    Em determinado momento do game, Freya também diz que a Serpente do Mundo apareceu um dia sem qualquer explicação.

    Segundo o jogo dá a entender, em determinado momento do futuro Thor envia Jormungandr de volta no tempo, mas então é envenenado pela Serpente do Mundo mais velha após ser mortalmente ferido. Como em várias ocasiões do game, Mimir conta tudo de forma bem resumida, explicando que a Serpente do Mundo e Thor “tem uma história desagradável entre eles, ou terão…”.

    A VIAGEM DO TEMPO QUE DESENROLARÁ O RAGNAROK

    Quando Atreus pergunta mais sobre a Serpente do Mundo a Mimir – Mimir, o mais sábio entre os deuses nórdicos, está presente na Edda nos poemas Völuspá e Sigrdrífumál – diz a Atreus que ele lhe era bem familiar. Todas essas evidências apontam que em determinado momento do game haverá uma viagem no tempo.

    Ao meu ver, é possível que God of War: Ragnarok mostre uma progressão de tempo normal, sem qualquer tipo de viagem no tempo da perspectiva de Kratos ou Atreus. Mas se o próximo jogo for em qualquer coisa parecido com o game de 2018, a tendência é que se desenrole em um curto período de tempo.

    De alguma forma, elementos relacionados à viagem no tempo podem ser inseridos na série, ou por meio de um portal, como funciona a viagem rápida do game.

    O fato de que Fenrir já existe na época do God of War de 2018 faz outra situação ser extremamente provável. Ao final do game, é dito que um inverno teve início. Na mitologia nórdica, um longo inverno que antecede o Ragnarok é conhecido como Fimbulwinter. É possível que o próximo game comece com o Ragnarok, e que Atreus e, provavelmente, Kratos serão enviados de volta no tempo quando a Yggdrasil for quebrada.

    Apesar de não termos um histórico de algo assim na franquia, é possível que quando God of War: Ragnarok tiver início nos deparemos com um Atreus mais velho, pouco antes do Ragnarok, e se torne pai de Fenrir, Jormungandr, e seus outros filhos com Angrboda. Parece provável que essa versão de Atreus seja aprisionada como Loki nos mitos, e escape apenas quando o Ragnarok começar.

    Ao longo do game de 2018, passamos grande do tempo à procura de Jotnar, assim como o caminho para Jotunheim. É provável também que não encontremos nenhum outro Jotnar ao longo do jogo, e que eles tenham sido enviados de volta no tempo quando a árvore da vida se quebrou. Ou vai se quebrar.

    Essa pode ser a razão dos Jotnar terem o conhecimento do futuro e do Ragnarok, ou quando ele vai começar, apesar dos Aesir e dos Vanir não terem o mesmo conhecimento.

    Há também algumas implicações e razões para God of War: Ragnarok não querer lidar com os personagens encontrando e lidando com um loop temporal.

    God of War de 2018 é focado no fato de Kratos não poder mudar sua própria história, seu próprio passado, e sua luta para impedir que sua história se repita com ele e seu filho. Apesar da viagem no tempo de God of War 2 permitir apenas que Kratos sobreviva e volte no tempo para se vingar, uma viagem no tempo pode ser um artifício de roteiro em Ragnarok que explicaria como a profecia se iniciou.

    Se Kratos descobrir uma maneira de quebrar o ciclo quando o Ragnarok se aproximar, pode ser que ele enfim consiga quebrar o loop de violência e vingança do qual tem feito parte desde seu primeiro game.

    A sequência de God of War está atualmente em desenvolvimento para PS4 e PS5.

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    TBT #122 | A Primeira Noite de um Homem (1967, Mike Nichols)

    Após a Era de Ouro do cinema hollywoodiano, entre os anos 1920 e 1960, a indústria cinematográfica norte-americana enfrentou uma dura crise de consumo. Em 1969 as companhias de Hollywood perdiam mais de US$ 200 milhões por ano.

    Como estratégia para reagir a essa crise, os produtores passaram a produzir filmes direcionados ao público jovem, seguindo tendências da contracultura. Uma dessas obras foi A Primeira Noite de um Homem.

    Embalados pelo movimento, o roteiro autoral focou em personagens mais reais, perdidos e com falhas. Também inovou a estética presente nos filmes de estúdio.

    SINOPSE

    Benjamin Bradock, (Dustin Hoffman) é um bom filho e um bom aluno, acabou de terminar os estudos da faculdade, fazendo a alegria de seus pais. Porém, ele está confuso com o seu futuro. Coisas que todo jovem enfrenta depois de ter terminado os estudos.

    A falta de perspectiva ou o avanço de seu futuro é dificultado pela presença sedutora da Sra. Robinson (Anne Bancroft), uma mulher mais velha amiga de seus pais. A relação se complica ainda mais quando o rapaz se apaixona pela filha dela, Elaine (Katharine Ross). A partir daí o enredo se firma como uma abundante mescla de paixão, ódio, amor e mentiras.

    ANÁLISE

    O mais singular do filme é que toda a comédia é costurada em cima de uma abordagem diferenciada do humor. Onde o normal seria criar risos no público através de diálogos cômicos (o que o filme não deixa de fazer), o roteiro joga com situações desconfortáveis elaboradas no silêncio, e faz do constrangimento juvenil do protagonista o maior aspecto de diversão do espectador.

    Esse tipo de humor funciona sem erros, deixando a plateia cada vez mais ansiosa para ver como vai se resolver a vida amorosa de Benjamin, que com ajuda da poderosa atuação do até então iniciante (embora não pareça) Hoffman, se torna um personagem carregado de inseguranças e ambições.

    Cheio de sutilezas e camadas, trata de uma falta de perspectiva, uma projeção de futuro confusa e difusa. Acredito que tenha sido o sentimento predominante daquela época, representada por simbolismos muito acertados:

    • O personagem de Dustin Hoffman como que no modo automático (abertura no aeroporto, se locomovendo em uma esteira automática)…
    • … prosseguindo com um senso de opressão (closes através de um aquário ou ao usar um escafandro sob os olhares aprovativos dos pais)…
    • … ou estagnado no tempo (passando dias sobre uma boia na piscina).

    Em nenhuma dessas ocasiões Hoffman parece ter livre arbítrio (não consegue ao menos poder escolher ser servido com Bourbon). E mesmo o desfecho dúbio ao final não seria indicativo necessariamente de um final promissor: tudo segue em aberto, para onde o ônibus levar os personagens.

    A Primeira Noite de um Homem é um filme que retrata a geração dos anos 1960, a contracultura, o estilo da juventude e os valores da época

    Os planos e movimentos de câmera são detalhadamente planejados. Daqueles que fizeram o diretor perder noites e repetir algumas vezes a mesma cena. É possível reconhecer uma certa áurea de responsabilidade, fidelidade e, sobretudo, de respeito do autor com sua obra. É como um pai ou uma mãe que arruma a sua filha para ir ao seu primeiro dia de aula, e o faz da forma mais cuidadosa possível, sendo perfeccionista do cadarço à última trança do cabelo.

    A Primeira Noite de um Homem é considerado um dos filmes mais atemporais da história do cinema. Isso porque a história fala sobre algo que sempre será uma pauta na nossa vida, o famoso “e agora, o que eu faço?”.

    A cena final diz tudo que o filme queria dizer: não existem atalhos para a felicidade, as respostas que você procura não vão vir assim tão simples. Todos procuramos um sentido para a nossa vida e, às vezes, conseguimos encontrar um objetivo, mas esses duram muito pouco, pois a vida está em constante movimento e a sociedade pede que você esteja também. Daí vem as decisões precipitadas.

    VEREDITO

    A Primeira Noite de um Homem é um filme que relata a geração dos anos 1960, os valores da mesma, da contracultura, do estilo da juventude da época. O toque do filme é melancólico e reflexivo, tanto pelas câmeras, o posicionamento dos personagens, quanto pela trilha sonora emblemática de Simon e Garfunkel, que utilizam de grandes músicas que conversam com as cenas e com o sentimento do personagem.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Você pode assistir ao filme na MUBI.

    Assista ao trailer:

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    CRÍTICA – Yasuke (1ª temporada, 2021, Netflix)

    Yasuke é a nova animação da Netflix que estreia no dia 29 de abril. Criada por LeSean Thomas e animada pelo estúdio de animação japonês MAPPA (Attack on Titan). A série é estrelada por LaKeith Stanfield (Atlanta) que também é o produtor.

    SINOPSE

    Em um Japão feudal do século 16 de realidade alternativa, um guerreiro chamado Yasuke (LaKeith Stanfield) testemunhou a queda do daimiô, Oda Nobunaga.

    Vinte anos depois, Yasuke coloca seu passado histórico conhecido como o “Samurai Negro” para trás e se aposenta como um barqueiro chamado Yassan em uma aldeia remota. Ele se vê obrigado a voltar à ação quando recebe a missão de transportar e cuidar de uma criança que está sendo ameaçada por forças obscuras que querem eliminá-la.

    ANÁLISE

    Em 1579, um homem negro de 1,80 m de altura conhecido como Yasuke chegou ao Japão, chamando rapidamente a atenção do lendário líder Oda Nobunaga. Yasuke era de Moçambique e foi trazido ao país oriental por jesuítas. Logo, se tornou o primeiro e mais lembrado samurai estrangeiro.

    Registros históricos sobre Yasuke são difíceis de encontrar, mas sabe se que o Samurai Negro, como era chamado, virou amigo e guerreiro leal de Nobunaga. Porém, com a guerra, Nobunaga foi traído e cometeu seppuku – suicídio por honra. Embora Yasuke estivesse lá na época, não existem relatos do que aconteceu depois com ele.

    A animação da Netflix sobre o Samurai Negro parte desse princípio, mostrando a relação profunda de amizade que Yasuke e Nobunaga tinham. Contudo, isso não é o principal, já que a produção opta por uma realidade diferente introduzindo o personagem real a um mundo fantástico.

    De imediato, Yasuke não se encaixa em um mundo de robôs e magias. O personagem parece muito mais real do que está em sua volta, o que é preocupante ao longo dos seis episódios da série. Isso porque, a animação de LeSean Thomas parece não querer explicar seus elementos fantásticos, eles apenas existem em uma época feudal e pronto.

    Logo, é confuso e por vezes cansativo que a série tente vender ao espectador tantos feiticeiros, monstros, demônios, mekas e robôs que parecem invadirem as florestas do Japão, enquanto a história por si só de Yasuke como um samurai no clã de Nobunaga serviria como uma incrível premissa.

    Além disso, Yasuke sendo um homem negro é tratado como incomum em meio ao mundo oriental, porém, os elementos fantásticos e de ficção científica são vistos como normais. O que torna ainda mais complicado aceitar tais implementações, visto que é confuso que a animação busque fazer uma correlação entre tais fatos.

    Ainda assim, a série vai além disso, apresentando um grupo de mercenários de diferentes etnias que tratam Yasuke de forma brusca por ser um samurai. Mas, de fato, os próprios japoneses com os quais Yasuke vive parecem não terem problema com sua presença. Essa normalidade explica a relação de confiança e amizade que Yasuke desenvolve com a jovem Saki (Maya Tanida), uma menina com um poder imenso que o samurai precisa proteger e ajudar.

    A relação entre ambos é um dos poucos momentos que valem realmente a pena na animação e já que a produção opta por apresentar uma história totalmente nova, seria interessante ver mais da jornada dos dois. Vale ainda ressaltar que tantas mudanças de vilões, que aparecem e morrem em um piscar de olhos, torna a trama um pouco vazia sem apresentar um inimigo à altura do protagonista.

    Já no que diz respeito às técnicas de animação, a Netflix ainda precisa aprender a trabalhar o 2D atrelado ao 3D. O design do próprio Yasuke é simples, mas bem feito, invocando sua presença. As lutas entre os samurais são o que mais chama a atenção no quesito ação. Visto que, infelizmente, ao apelar para o conflito entre robôs gigantes, o impacto da série é perdido.

    VEREDITO


    A nova animação da Netflix chamada Yasuke é uma ótima introdução a uma das lendas do Japão feudal, o Samurai Negro. Porém, a série deixa um pouco a desejar ao introduzir elementos demais em uma história que por si só já seria fantástica.

    Nossa nota

    2,0 / 5,0

    Confira o trailer de Yasuke:

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    CRÍTICA – Vozes e Vultos (2021, Robert Pulcini e Shari Springer Berman)

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    Vozes e Vultos é um filme de suspense/terror estrelado por Amanda Seyfried (Mank) e estará disponível na Netflix a partir de amanhã (29/04).

    SINOPSE

    Depois de se mudar para uma pequena cidade com seu marido George (James Norton), Catherine (Amanda Seyfried) sente que não está sozinha na nova casa, uma vez que coisas estranhas começam a acontecer…

    ANÁLISE

    Em um primeiro momento lendo a sinopse, Vozes e Vultos parece ser mais um daqueles filmes de haunting house, pois já sabemos que ela será assombrada por fantasmas. Entretanto, o longa mostra que na verdade o buraco é muito mais embaixo, pois seu relacionamento é o fio-condutor da trama.

    O personagem de James Norton é fundamental para que a trama de Vozes e Vultos saia do marasmo completo. A ótima atuação do ator, que começa simpático e com sorrisos expressivos e vai mudando completamente sua forma de agir e pensar faz com que a obra seja mais poderosa em sua mensagem: o comportamento bélico dos homens. 

    O patriarcado é o principal ponto, uma vez que o machismo é o principal vilão do filme. De cara, Vozes e Vultos mostra que os fantasmas na verdade influenciam os moradores da casa, mas as ações dos personagens são completamente individuais. A discussão de como relacionamentos abusivos funcionam e de como as mulheres podem sofrer muito nesse processo, por conta de uma estrutura social que as desfavorece é muito bem elaborado aqui.

    Amanda Seyfried também vai muito bem na proposta de sua protagonista. Catherine não é uma mocinha indefesa, tampouco é masculinizada ou durona. Todavia, sua submissão ocorre mais por causa do ambiente do que sua própria vontade.

    PROBLEMAS DE VOZES E VULTOS

    Se por um lado os protagonistas são interessantes e possuem boas camadas, por outro, o roteiro prejudica e muito os arcos dos coadjuvantes.

    Natalia Dyer e Alex Neustaedter são apenas duas escadas para que Seyfried e Norton subam e cresçam. Se os dois não estivessem na trama, não fariam nenhuma diferença na história, por exemplo.

    Em alguns momentos também há algumas “barrigas” no filme, pois há um desperdício de tempo na trama paralela do descobrimento do mistério da casa. Tudo poderia ter sido resolvido mais brevemente para ter um enfoque maior na protagonista que merecia um pouquinho mais de tempo em tela por sua boa história.

    VEREDITO

    Com bons assuntos e atuações, mas com algumas escorregadas do roteiro, Vozes e Vultos é um filme que tem boas ideais e uma execução mediana.

    Por mais que o longa seja muito claro em sua proposta desde o início, visto que mostra como os homens se impõem perante às mulheres, é inegável também que suas tramas paralelas fossem mais precisas e menos desnecessárias em alguns momentos.

    Contudo, vale muito a assistida para uma boa reflexão sobre os privilégios masculinos e relacionamentos tóxicos.

    Nossa nota

    3,0 / 5,0

    Confira o trailer do filme:

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    CRÍTICA – Sem Remorso (2021, Stefano Sollima)

    Sem Remorso, novo filme original da Amazon Prime Video, estreia no dia 30 de abril e traz Michael B. Jordan no papel principal. Dirigido por Stefano Sollima e baseado na obra de Tom Clancy, o longa apresenta o personagem John Kelly em uma missão contra um grande inimigo nacional.

    SINOPSE

    Quando um esquadrão de soldados russos mata sua família em retaliação ao seu papel em uma operação ultrassecreta, o chefe de operações John Kelly (Michael B. Jordan) persegue os assassinos a todo custo. Unindo forças com uma companheira da marinha e um misterioso agente da CIA, a missão de Kelly involuntariamente expõe uma conspiração secreta que ameaça envolver os EUA e a Rússia em uma grande guerra.

    Dividido entre a honra pessoal e a lealdade ao seu país, Kelly deve lutar sem nenhum remorso contra seus inimigos se quiser evitar um desastre e expor as figuras poderosas por trás da conspiração.

    ANÁLISE

    Sem Remorso é uma adaptação do livro homônimo de Tom Clancy, autor responsável também pelo romance Jack Ryan (série original da Amazon Prime Video estrelada por John Krasinski). O longa abre possibilidade de adaptar todo o Ryanverse de Clancy no streaming, pois não é improvável um crossover entre essas sagas.

    Na história, John Kelly está em uma missão em Alepo, na Síria, quando cruza com militares russos. Algum tempo depois, sua família – e a de outros agentes americanos – é assassinada em solo americano, o que acaba criando uma tensão internacional. É a partir deste plot que John traça o seu caminho de vingança.

    O filme segue o típico formato de ação dos longas dos anos 1980. O anti-herói perde a sua família e busca vingança de todos os responsáveis pela tragédia. Entretanto, em meio à história, outras informações surgem e isso acaba influenciando no destino do personagem.

    O roteiro de Taylor Sheridan e Will Staples é fraco e previsível, deixando claro suas intenções desde o início. A reviravolta final não causa nenhum efeito, pois além de demorada, é completamente desinteressante. Não há nada de novo no roteiro de Sem Remorso, pois o longa recicla diversas outras histórias de guerra.

    Mesmo pegando o mote principal do livro de Clancy e adaptando para algo mais próximo da realidade que os Estados Unidos estão vivendo, o roteiro deixa de fora diversos desenvolvimentos que poderiam agregar na trama. É o caso do arco de Pam (Lauren London) e sua relação com John, que aqui é só assassinada gratuitamente para que o mocinho tenha alguma motivação.

    Apesar da inclusão de Karen Greer (Jodie Turner-Smith), uma personagem feminina que está no alto escalão do exército americano, sua participação é constantemente atravessada por decisões masculinas. Mesmo ela sendo a chefe da missão, ninguém a escuta e ela não possui de fato poder nenhum. Até suas cenas confrontando o agente da CIA Robert Ritter (Jamie Bell) não causam efeito. Na prática, a personagem não é desenvolvida e é terrivelmente mal aproveitada.

    Michael B. Jordan e Jamie Bell são os atores que possuem mais tempo de tela e conseguem aproveitar suas oportunidades. Jordan é provavelmente a melhor coisa do filme, pois suas cenas de ação são ótimas e sua atuação é satisfatória dentro de todo esse contexto. Entretanto, nem o ótimo desempenho do ator consegue tornar Sem Remorso um filme interessante.

    A direção de Stefano Sollima é inconsistente. As cenas que trazem alguma surpresa são mornas, não extraindo o melhor das situações políticas do roteiro. Porém, sua condução durante as cenas de ação são boas e conseguem entreter, principalmente no grande ato de tiroteio do filme.

    CRÍTICA – Sem Remorso (2021, Stefano Sollima)

    O trabalho de trilha sonora também deixa a desejar, pois não consegue engrandecer os momentos de ação e nem as cenas de drama protagonizadas por Jordan. A seleção de Jon Thor Birgisson não é bem conduzida, faltando emoção em diversos pontos da trama. A expectativa era grande, pois o compositor possui ótimos trabalhos em seu currículo.

    VEREDITO

    Sem Remorso poderia ser um ótimo filme se não caísse nos clichês genéricos dos filmes de ação. Seu roteiro é fraco, não causa impacto e perde a oportunidade de trazer algo novo. As personagens femininas não são desenvolvidas, além de serem claramente silenciadas em diversos momentos, o que é muito triste.

    Considerando que há muitos anos estão tentando adaptar essa história é muito triste que esse seja o resultado. Infelizmente esse não é um filme à altura do talento de Michael B. Jordan.

    Nossa nota

    1,5 / 5,0

    Assistir ao trailer:

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    As semelhanças entre Meu Pai e O Som do Silêncio

    Meu Pai e O Som do Silêncio venceram duas categorias, cada, no Oscar 2021. O primeiro, dirigido por Florian Zeller, conquistou os prêmios de Melhor Ator, graças à excepcional atuação de Anthony Hopkins, e Melhor Roteiro Adaptado. O segundo, dirigido por Darius Marder, foi agraciado pela Academia nas categorias de Melhor Som e Melhor Edição.

    Ambos longas-metragens foram indicados em seis categorias do Oscar 2021. Entre elas: Melhor Filme (que ficou com Nomadland) e Melhor Ator (que Hopkins levou a melhor sobre Riz Ahmed, protagonista do filme original da Amazon Prime Video).

    A igualdade nos números de indicações e vitórias chama atenção. Mas mais interessante do que isso é perceber que as tramas de Meu Pai e O Som do Silêncio são muito similares.

    Este texto contém spoilers de Meu Pai e O Som do Silêncio. Se você ainda não assistiu a um dos filmes e não deseja conhecer detalhes das histórias, por favor, salve este artigo e leia futuramente.

    É tudo sobre perdas

    Leia a seguir a sinopse de cada filme.

    Meu Pai: Um homem recusa toda a ajuda de sua filha à medida que envelhece. Ao tentar entender as mudanças em sua vida, ele começa a duvidar de seus entes queridos, de sua própria mente e até mesmo da estrutura de sua realidade.

    O Som do Silêncio: A vida de um baterista de punk-metal entra em queda livre quando ele começa a perder a audição.

    A sinopse do filme estrelado por Riz Ahmed explicita que a história retrata uma perda. Por sua vez, a síntese da obra estrelada por Anthony Hopkins é mais sutil e menciona “mudanças em sua vida”.

    O fato é que Meu Pai retrata a vida do personagem Anthony, um senhor com demência, e os desafios que ele e a família enfrentam para lidar com a doença – em especial a filha Anne, interpretada por Olivia Colman.

    O músico Ruben, personagem de Riz Ahmed, depende da audição não apenas porque sempre ouviu bem, como também porque seu ganha pão gira em torno desse sentido.

    As consequências das perdas de Anthony e Ruben

    Aceitar mudanças é um grande desafio para muitas pessoas. Quando essas mudanças são relacionadas à saúde e a seus próprios corpos, se torna ainda mais difícil aceitá-las sem antes passar por estágios de negação e irritação.

    A direção e a edição primorosas de Meu Pai nos colocam “na pele” de Anthony, de modo que vivemos com ele a alternância de pessoas em sua casa – algumas delas completamente estranhas para o personagem.

    CRÍTICA – Meu Pai (2021, Florian Zeller)

    Anne tenta de diversas formas convencer o pai de que ele precisa viver com uma cuidadora, pois ela iria se mudar para viver com o seu grande amor. No entanto, Anthony é incisivo e sempre diz que não precisa de ajuda. Mais do que isso, o idoso chega a ser grosseiro com a filha, com as possíveis cuidadoras e com os demais personagens que participam das cenas em seu flat londrino.

    Se em Meu Pai o personagem principal não reconhece a perda de memória, em O Som do Silêncio a situação é diferente.

    Ruben percebe a dificuldade auditiva se agravar durante um show e fica desestabilizado. Após o desespero inicial, o baterista passa então a negar que está com problemas auditivos. Além disso, rejeita veementemente a ajuda de sua namorada Lou, interpretada por Olivia Cooke.

    CRÍTICA – Sound of Metal (2020, Darius Marder)

    Não há como deixar de comparar as mudanças nas vidas de Anthony e Ruben com os cinco estágios do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

    No estágio da raiva, ambos compartilham também o sentimento de que estão sendo enganados pelas mulheres que eles entendem que deveriam ser amáveis e empáticas.

    Anthony acredita que Anne e seu companheiro querem tirá-lo à força de seu próprio apartamento para viverem lá. Ruben encara as tentativas de ajuda e, principalmente, o fato de que Lou querer dar um tempo nas turnês para que ele se recupere como tentativas de tirar dele a atividade que ele tanto ama e que o sustenta financeiramente.

    Anthony não chega ao estágio de barganha, em que ele entenderia sua condição mental e passaria a tentar negociar mudanças para se curar da demência. Por sua vez, Ruben ultrapassa todos os estágios e, ao fim do filme, podemos dizer que ele aceitou sua deficiência auditiva e aprendeu a lidar com sua nova condição.

    Experiências imersivas nas perdas

    Retratar vidas drasticamente modificadas por conta das perdas auditivas e de memória por si já seria um ingrediente para causar fortes emoções nos espectadores. No entanto, Meu Pai e O Som do Silêncio possuem trabalhos primorosos como um todo, em especial na direção e na edição de ambas as obras.

    Em Meu Pai, Zeller e os editores fazem com que a audiência “perca a memória” e sinta um incômodo por não ser capaz de afirmar o que realmente está acontecendo.

    Em O Som do Silêncio, Marder e os editores obrigam os espectadores a sentirem nos ouvidos como é ter a audição comprometida, e o quão desagradável e frustrante é tentar seguir normalmente sua trajetória como baterista de punk-metal sem ser capaz de ouvir direito sua performance, ao mesmo tempo em que continuar só agravará sua condição.

    CRÍTICA – Sound of Metal (2020, Darius Marder)

    Não é à toa que O Som do Silêncio venceu a categoria de Melhor Som. Embora Meu Pai também fosse digna de vencer Melhor Edição, foi o filme da Amazon Prime Video que conquistou essa categoria técnica.

    Portanto, muito além de histórias comoventes, ambos os filmes oferecem experiências imersivas e profundas que fazem valer cada momento.

    As Olivias se afastam

    Antes de detalhar essa semelhança entre os filmes, é curioso que as atrizes que contracenam com os atores principais de cada longa se chamem Olivia. Dito isso, vamos adiante.

    Anne desde o começo foi direta com seu pai, afirmando que ele precisava aceitar viver com uma cuidadora, pois iria se mudar. Nessa nova realidade, ela só voltaria a Londres para vê-lo nos finais de semana.

    O caso de Lou segue a mesma lógica, porém com outra perspectiva. Ruben se mantém agarrado à sua antiga realidade muito por causa de sua relação com Lou. Ela então percebe que a única forma de ajudá-lo é se afastando, pois assim ele conseguirá retomar os rumos de sua vida.

    Ambas as personagens se afastam dos protagonistas que estão sofrendo com as mudanças e causando sofrimento a elas.

    CRÍTICA – Meu Pai (2021, Florian Zeller)

    Por conta da gravidade da demência, Anthony não chega a, de fato, “se encontrar” em sua realidade. Isso impede afirmar que sua vida foi satisfatoriamente retomada, mas a narrativa mostra que ele passa a se perceber vivendo em um lar para idosos sob os cuidados de profissionais da saúde.

    Ruben, por sua vez, se permite viver as experiências ofertadas pela comunidade surda liderada por Joe, interpretado por Paul Raci, para a qual se deslocou antes do rompimento com Lou.

    À medida que vai aprendendo a viver com a deficiência auditiva, ele passa a acreditar que uma cirurgia seria capaz de devolver sua antiga vida. Podemos dizer que essa parte do arco é sua transição entre barganha e depressão.

    Aos poucos, Ruben descobre que a cirurgia lhe trouxe melhorias, mas jamais seria capaz de lhe devolver plenamente a audição. Nesse trânsito de descobertas ele se reencontra com Lou, e a aceitação pessoal entra em cena. Nesse caso, portanto, é possível afirmar que uma retomada satisfatória acontece.

    Assista sempre que possível

    É incrível como Meu Pai e O Som do Silêncio abordam temas sensíveis sob uma ótica que rotineiramente é aplicada apenas ao luto. Os filmes também precisam ser assistidos e reassistidos sempre que possível porque são verdadeiras experiências imersivas.

    A imersão nas mudanças enfrentadas por Anthony e Ruben são capazes de estimular a empatia e promover importantes reflexões sobre saúde dos idosos, mente humana, inclusão social, cuidados com a audição e outros temas muito pessoais a cada espectador(a).

    Particularmente falando, ambas as obras são igualmente as minhas favoritas entre as indicadas a Melhor Filme no Oscar 2021. Não tenho dúvidas de que essa temporada de premiação ganhou muito e foi especial graças a Meu Pai e O Som do Silêncio.

    Torço que o mundo seja agraciado com mais histórias emocionantes e responsáveis como essas todos os anos.

    Clique nos títulos a seguir e leia as críticas do Feededigno:

    Meu Pai (2021, Florian Zeller)

    O Som do Silêncio (2020, Darius Marder)

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